Tuesday, November 28, 2006
Vive la différence!
Essencialmente somos todos iguais, pertencemos à espécie humana, temos uma psique em comum. Esse é o solo, a raiz. A igualdade é jurídica, assim deveria ser. Quanto ao resto, vive la différence! Não estava nos planos divinos pasteurizar a Criação, pelo contrário, é nas diferenças, riquíssimas, extraordinárias, que se expressa esse Ser ao qual se dá, na esfera religiosa, o nome de Deus. É impressionante como essa constatação se opõe diametralmente a uma outra, aquela sobre a qual nos referimos aqui, volta e meia: enquanto a Divindade - de todos os credos, diga-se de passagem - capricha na multiplicidade dos acidentes, preservando a integridade da essência - Aris! Ô, meu velho, você já dizia isso, AC! - os adeptos de Sauron - em todas as suas monótonas, superneuróticas acepções, proclamam aos quatro ventos o INVERSO: eliminam a essência e convertem a individualidade ao caráter de legião, submetendo uma sinfonia inteira a um samba de uma nota só, sob a forma do esfarrapadíssimo "nivelamento" por baixo, à exceção da área administrativa, em que, como já denunciava Orwell, alguns são muito mais iguais do que outros. Na verdade, essa balela toda não passa de uma manobra retórica de proporções gigantescas, pincelada ao longo dos séculos por diversos dementes da mesma estatura espiritual - anã -, com o único intento de controlar de modo amplo, rápido e eficaz as almas que poderiam ser obstáculos à sua chegada ao poder total. Ou seja, historicamente sempre houve uma espécie de mensalão psicológico comprando as consciências confusas. Obviamente a forma menos sutil de dominação é a compra pura e simples, via tutucash, numa cueca ao portador. Entretanto, a moeda que mexe com o ego das pessoas, inflacionando-o, é terrivelmente mais eficaz.
O detalhe sórdido: às vezes é preciso criar artificialmente a "diferença" - ou acentuá-la - para que a berraria pelas igualdades seja realmente percebida, pelos futuros escravos, como um desejo irresistível de rebaixar o nível alheio, posto que ascender requer aplicação, esforço, essas coisas absurdamente irrelevantes. Ora, em Bulshitland, o país da metáfora futebolística oficial,todo mundo fica indignado quando um time ganha no...tapetão! Entenderam ou precisa explicar mais? Pura hipocrisia.
Tá bem, tá bem, verbetinho para posterior auto-ajuda: cota racial é ganhar no tapetão, ganhar vaga de emprego, por ser "pobre", é ganhar no tapetão e por aí vai.
Querem ver o mesmo fenômeno pela ótica da Estética? Dêem uma olhada na arquitetura soviética, implantada, em especial, nos prédios da burocracia vermelha: é uma ode à feiúra, à mesmice, à depressão, à igualdade acidental. Socorro, chamem Bernini!
Todo a conversa enjoativa sobre desigualdade social, mola-mestra da manipulação das massas, oculta justamente a manobra psicológica com a qual se faz uma caricatura grosseira da realidade, no intuito de fortalecer o ego das pessoas, focando-o nas tais onipresentes injustiças da sociedade - essa abstração horrenda e opressora. Trata-se de uma estratégia em duas etapas:
1- Olha, você tem um nariz feio, viu? Todo mundo diz isso! Ok, percebeu a bicanca?
2 - Pois bem, se percebeu, Pitanguy, já!
Não é genial? A propaganda de Saruman, testa-de-ferro de Sauron, é idêntica à do mundo capitalista, aquela, basiquinha: "criar" ego gera consumo. Na esquerdopatia, "criar" ego gera genocídio. A diferença - de novo! - é que, no primeiro caso, você tem escolha; no segundo, não. Dessa vez, chamem os hobbits!
Imagem : Êxtase de Santa Teresa D'Ávila. Bernini, em Roma.
Marx, o Groucho
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment