Sunday, December 31, 2006

Saddam e a decadência da nossa civilização!



Um pouco de Reinaldo Azevedo para coroar o fim de ano!
Maravilhoso. Hoje estava pensando em comentar o quanto é repugnate para um anarquista a imegm de um chefe de Estado, em pleno sec. XXI, ser executado diante de camêras de televisão.
Francamente: é a barbárie!
Por mais crimes que ele tenha cometido, por mais bárbaro que seja, temos que nos rebaixar até este nível? Temos que ser criminosos também?
A morte de Saddam é muito mais do que a morte de um tirano, existem vários tiranos vivos no mundo, foi xenofobia, a não compreensão de uma outra civilização.
O museu de Bagdá, as universidades, tudo que há de intelectual no Iraque foi incrementado, inclusive um projeto que procurava abrir espaço para a mulher na sociedade iraquiana, tudo isso foi feito por ele.
No que ele difere de Fidel afinal?
Saddam era fruto de uma civilização que o ocidente desconhece e não procura conhecer. Era um tirano sanguinário? Provavelmente. Mas não era o mal puro, como tantos ingênuos querem pensar. A foto acima é de South Park: neste desenho Saddam era amante do Diabo e muito pior do que ele. É isso que muitos pensam.
Mas não terá ele feito nada de bom?
Existe isso afinal? Ou existem apenas interesses: depor e matar Saddam é poder controlar contratos milionários de petróleo naquela área. É a disputa pelos lucros da reconstrução de uma das áreas mais ricas do mundo.
Sorte de Fidel que na ilha dele só tem tabaco.

Agora vem cá: nós temos uma fortuna em água e petróleo?
Será que o tráfico e a violência serão os motivos que levarão a uma intervenção? Será esse o nosso Saddam?

Chega de reflexões, vamos ler o texto de Reinaldo sobre a ética da pena de morte:



Corda no pescoço

Há uma diferença entre mim e alguns que me combatem: não quero meus inimigos com uma corda no pescoço. Eu os quero vivos. Não quero principalmente ganhar a guerra. Quero lutar. É uma opção ética. É uma opção, de certo modo, estética. Ainda que “eles” queiram me eliminar - e àqueles que pensam como eu. Mesmo que eu os presenteei com objetos preposicionados como esse, cheio de elegância, só para declarar a minha animosidade amorosa - fiel, para quem sabe, à etimologia. Porque há de haver uma elegância entre os duelistas, como no filme – conhecem? Ganhar não é nada. Guerrear é tudo. A única vitória está na disputa.

Um esquerdista jamais entenderá do que falo. Ele sempre sabe aonde a história quer chegar. Eu não sei. Como Fernando Pessoa, o céu e a terra me bastam. Os que têm a forma do futuro estão tão certos de tudo. Eu estou certo apenas das minhas opiniões. E, na minha opinião, um homem com uma corda no pescoço é sempre deprimente. E agora direi algo “só para loucos, só para raros” (cito o Hesse de O Lobo da Estepe): é ainda mais triste um homem que já foi poderoso com a corda no pescoço. É razoável a suposição de que a forca e a força que o matam são mais íntimas do ressentimento do que da Justiça. Às vezes, acho que são sentimentos demais pra nossa condição tão miserável.

Aquela foto de Saddam Hussein com uma corda no pescoço obscureceu minhas idéias luminosas sobre o triunfo de um civilização, de uma raça – a nossa, a dos humanos vira-latas -, de um modo de vida. Eu sei que ele matou. Eu sei que ele roubou. Eu sei que ele estuprou, ainda que por meio de terceiros. Mas que coisa! Minhas ambições não têm morte. Minhas ambições não têm roubo. Minhas ambições não têm estupro. Tão demasiadamente humano, coloco-me como o último na escola dos que julgam; o último na escala dos que apontam o dedo; o último na hierarquia dos bons. Como o Pessoa do Poema em Linha Reta, todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. Eu não consigo declarar a morte de um pernilongo chato numa casa à beira da praia sem que me assalte um dilema moral. Ele pode até ser tão breve quanto a vida de um pernilongo, ou tão inútil, mas estou inteiro em cada coisa. Estou inteiro naquele tapa. Sou inteiramente eu – e responsável – naquela sentença.

Aí me acusam ou me interrogam: “Mas como foi que um ex-esquerdista, mesmo trotskista, tornou-se tão anticomunista?” Aconteceu porque sei a dor e a delícia de não ter chefes ideológicos, de não poder atribuir a ninguém um gesto, uma sentença, um disparate. Todas as grandezas e todos os lixos do mundo me pertencem. Ah! Os petralhas são tão grandes e tão senhores de si. Eu sou porcaria. Eles celebram cantos de vitória. Eu topo ficar recolhendo os restos, os guardanapos amassados da festa, os copos de refrigerante quente pela metade, os doces só mordiscados e logo desprezados, as concentrações – acho, mas não estou certo, que a imagem é de Musil – das procissões que vão se dispersando. Ali, e este sou eu, onde a fé é mais rarefeita, onde todas as precariedades humanas se juntam num misto de dedicação e descrença. Eu sou este aí: dedicado e descrente, espreguiçando-se quando Deus se anunciou. Incrédulo.

Santo Deus! Eu nada tenho a fazer com cordas no pescoço. Nem no pescoço dos meus inimigos. Sobretudo no pescoço dos meus inimigos. Porque, vejam só, encontrasse eu uma justificativa para cena tão patética, eles estariam certos a meu respeito. Mas estão errados. E, por isso, são meus inimigos. Eu sou a vida e seu ofício. E eles contam os seus mártires, os seus heróis, jactam se duas paixões homicidas e suicidas. Eu acho a morte aquém e além de qualquer contenda. Que moral pode existir na morte? Que ética? Como pode nos sugerir o que quer que seja quem é tão íntimo do absoluto? Como é que um juiz consegue escolher o que comer ou a cor da própria cueca depois de decidir que alguém deve morrer? Se eu arbitrasse sobre a vida, não aceitaria nada além do absoluto.


Reinaldo é show!

Oriane

Friday, December 29, 2006




Vem cá!

O mundo não deveria terminar em 2000???

Que saco!!!




Então tá!

Quem foi o lesado que inventou que o bem sempre vence?

Oriane

Thursday, December 28, 2006

A Furiosa urgente, direto da cidade conflagrada!



O que todos temíamos finalmente aconteceu: as facções criminosas se uniram para aterrorizar o Rio de Janeiro. Anos e anos de leniência com as favelas, de permissividade, de conluio entre criminosos e políticos. Alguém tem alguma dúvida de quem seja o "príncipe" ou a "madame" que recebia mesada dos bandidos?
Primeiro tivemos Brizola e depois disso achamos que não podia piorar. Que nada, conseguimos eleger e reeleger o pior governo de todos os tempos para o nosso estado. E olha que estamos falando do Rio onde governos horríveis se sucederam.
Esse casal de pulhas conseguiu isso: entregou nossa cidade ao crime organizado. Foi conivente sim, e só eles podem nos dizer se levaram grana ou vantagem. No livro "A Elite da Tropa" o alerta é claro: bandidos roubam dos cidadãos para pagar dívidas de campanha.
Estamos presos em casaa. O clima nas ruas é assustador. Não sabemos a quem temer: polícia ou bandidos?
Tive que ligar para amigos sugerindo que não viessem ao Rio ou saíssem de casa.
Eu não tenho dúvida de quem são os culpados da situação atual: o casal porquinho e suininha!
O meu consolo é que eles vão voltar para onde nunca deveriam ter saído: Campos, com certeza uma das cidades mais feias do país. Eles bem que tentaram tranformar o resto do estado naquilo. Quase conseguiram.
Espero que eles e todos aqueles filhos horríveis deles ( quem se esquece da cara daquele garoto olhando a câmera durante a greve de fome do pai, que infelizmente não terminou em morte!)fiquem naquela cidade que é o lugar certo para gente sem gosto como eles.
Já vão tarde!!!

Oriane

Wednesday, December 27, 2006

Sobre Sâo Paulo e Jung


Como prometemos, voltamos a um assunto que os petralhas adoram: o eu e o ego...
São Paulo elaborou uma frase lapidar, já transcrita aqui, cujo sentido é este: "Sei o que devo fazer mas faço outra coisa" (Epístola aos Coríntios). Nada mais formidável em termos de análise da psique! Parece claro que há duas instâncias brigando pela posse das tomadas de decisão de um pobre mortal, duas correntes opostas disputando a tapa o espaço que chamamos de "eu". Jung, assíduo freqüentador deste blog, detectou esplendidamete essa contradição, cuja tensão permanente aglutina vários aspectos do conflito humano, que não podem ser observados separadamente sem causar danos à interpretação do observador. Sabedor disso, Jung depurou a análise até chegar ao que julgou ser o osso, o eixo básico, a espinha dorsal de todos os pares de opostos que se manifestam cotidianamente em nossa alma, a oposição que justifica todas as demais, organizando-as em campos distintos: o Eu e o Ego. A partir dessa classificação paradigmática, pode-se fazer uma interessante lista de "sizígias" - as tais oposições estabelecidas no inconsciente -, entre as quais a citada por Paulo, tão profunda e dilacerante quanto a própria consciência do paradoxo que ela representa, um "ser ou não ser' que não passou sequer pela atormentada cabeça de Hamlet, dilaceração traduzida pelo fato de o ego puxar a consciência para baixo, contrariando o eu, que a puxa para cima.
O ego sofisma loucamente, tentando provar que marimbau é gaita e patativa é curió - ou, por exemplo, que Dionísio é um "must" e Apolo, um chato de galocha, só para ficar numa clave bem ao gosto "muderno-nietzcheano" -, que bom é curtir as emoções adoidado, que ser livre é desobedecer todas as leis, revolucionar, revolucionar e revolucionar...
Enquanto isso, em Corinto City, o eu afirma que há emoções e Emoções, leis e Leis, razão e Razão, vida e Vida... Bem, pelo visto o eu é um reformador ortográfico, certo? Certíssimo.
Só para examinarmos um dos supraditos itens, diríamos paulinamente que nem toda lei é justa assim como nem tudo o que é justo é lei, donde se conclui que há, realmente, leis e Leis, certeza que nos cria outra "bifurcação' interessante: há desobediências e Desobediências - vide o post de Oriane sobre "desobediência civil". No âmbito das emoções, esmiuçando a exemplificação, ocorre o mesmo, pois ir à Bienal não se compara a uma visita à Capela Sistina, não é mesmo?
Na mais pura verdade, então, a historinha pode ser resumida no seguinte: tudo é dois. É por isso que, voltando ao junguiano início, estamos sempre oscilando entre escolhas que desaguam tão somente em duas bacias hidrográficas: a do eu e a do ego. Resta-nos apenas distinguir para onde corre nosso riacho. Fernadinho Pessoa intuiu a "coisa" ao escrever esta maravilha, na pele do heterônimo Alberto Caeiro:

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
(...)

A poesia inteira aqui.

Marx, o Groucho, repleto de contradições...

Tuesday, December 26, 2006

Lei de Gerson


Hoje fui ao banco e enquanto esperava numa enorme fila só havia dois caixas. Um para os idosos e outro para os outros. Eis que entra um sujeito aparentando uns 55 anos, cabelo grisalho etc. Olha a nossa fila (não idosos) e olha a outra, vendo que a nossa é muito maior entra na dos idosos. Assim, na cara de pau, e ainda fica com aquele riso amarelo de quem sabe que está levando vantagem às custas dos outros. Fiquei furiosa. Fui perguntar ao caixa e ele disse que não era a função dele verificar as identidades. A fila estava enorme, várias mulheres esperando em pé. Estava no Banco do Brasil, é claro.
Depois os funcionários públicos não sabem porque a gente não gosta deles. É isso, na hora de pagar os salários nós comparecemos com os impostos. E na hora de alguém nos proteger? Tem alguém lá? Quer dizer que o cara sabe que tem uma fila enorme, que o cara entrou no caixa dos velhinhos para ser "esperto" e não tem ninguém do banco para vir em nosso socorro?
Quem protege o cidadão honesto afinal?
Essa cultura da "lei de Gerson" é uma das coisas mais escrotas dos brasileiros. Todo mundo quer se dar bem, nem que seja furando a fila.
Quando ele saiu puxei palmas "para o velhinho", e ainda perguntei se ele não precisava de uma bengalinha...ele deu um sorriso irônico.
Não sei por que tentei, a moral não faz parte dos valores dele. Nosso povo é totalmente sem esperanças.
Merece o presidente que tem.

Oriane

Sunday, December 24, 2006

Natalina furiosa!!!


Não sou um tipo muito natalino, mas...

Adorei esta imagem que peguei da Cora.

Tão felina...

Estou sumida porque estou viajando, terça estarei de volta e continuarei furiosa...

beijos
Oriane

Adorei, miau, miau! - a mulher-gato...

Saturday, December 23, 2006

Cheers !



Para os nosso 400 assíduos leitores, em especial, Clau e William, os melhores votos de Boas Saídas (afinal, sair-se bem é in, darling!) e Melhores Entradas, fazendo ardentes votos para que todos nós ainda tenhamos alguma esperança no futuro de Banânia! Cheers !!!

Oriane e Marx, o Groucho, já em ritmo de réveillon!

Thursday, December 21, 2006

Louro José: imitação impossível !





Se o Louro José - lembram daquele ser que desfilou no Sete de Setembro? - sair sem roupa, por aí, para que o Keiser baixe os impostos em Banânia, "tipo assim Lady Godiva", o que nós faríamos??? Oh, não, mil vezes não, isso não, piedade... Vade retro!- diríamos no tom trágico de um coro grego. Elementar, meu caro Watson! Nunca, jamais, em tempo algum, concordaríamos com isso: é preferível, em nome da Estética, pagar os impostos em dobro a ver essa criatura verde-amarela pelada!
Sweetie, ainda bem que essa turma não é chegada em História... Nenhuma.

Marx, o Groucho

Wednesday, December 20, 2006

Colher de chá para William...


Para William, um dos nossos 400 leitores diários, a verdadeira história de Lady Godiva...

Well, para variar, essas histórias acabam tendo um pé na velha e fascinante Inglaterra. Lady Godiva existiu mesmo, viveu muito tempo em Coventry, cidade que remonta aos primórdios da era cristã, um lugar repleto de lendas, inclusive a que narra o encontro de São Jorge e o Dragão, olhem só que bonitinho!
Por ter nascido "no tempo em que os bichos falavam" - homenagem ao Tio Janjão, que contava histórias para crianças na saudosa Rádio Nacional, na década de 50! -, Godiva não conhecia as AbFabs, mostrando-se, porém, de ultravanguarda, pois deu mais auxílio à educação e às artes do que todos os ministérios tupinicóides juntos, imaginem! Mais do que isso, a mulher era a favor da ... DIMINUIÇÃO DOS IMPOSTOS!!! Pasmem! Ela, que nasceu rica, casou com o também riquíssimo Leofric, Conde de Mercia - ô nomezinho danado, hein??? Os dois eram muito religiosos, construíram montes de mosteiros e abadias. Apesar dessa veia espiritual, o ilustre marido desandou a elevar taxas e impostos em nome do que ele chamava de o bem coletivo - percebem como esse perigoso argumento é caquético de tão antigo? Godiva chiou porque achava que eles deveriam cuidar mais da alma do povão, causando, com tal protesto, problemas no casamento. Não era o máximo, essa mulher medieval, morta - parece - em 1086?
Agora, o detalhe fundamental da história: Leofric, diante da insistência da mulher, desafiou-a a sair nua pela cidade, demonstrando a importância da ESTÉTICA sobre tudo o mais, com base nas idéias gregas de que o Belo era, naturalmente, uma expressão da Divindade e que, portanto, não deveria ser escondido. Godiva nem piscou: pegou um cavalo e saiu desfilando pelas ruas, como se estivesse na Ala da Baianas da Portela. Um show! Ninguém disse um "ai", a criatura era belíssima e, como já se sabia, caridosa, sábia e tudo mais que havia de bom para os padrões cristãos medievos. Honestíssimo, o maridão ACABOU com os impostos, exceto o referente à compra de... cavalos! O humor inglês é imbatível...
Claro que o relato é um tanto lendário, mas a Lady e seu marido, não. Palmas, palmas! Chamem a Hebe Camargo!

Comentários: fantástica a constatação de que a lenga-lenga que tanto absorve os cérebros mudernos nada tem de "atual", pois é "mais velha do que a Sé de Braga", senão vejamos: individual versus coletivo, matéria versus espírito and so on... Outra coisa: reparem como a zelite da época agia em prol das "classes menos privilegiadas", divergindo apenas nos meios de fazer o melhor por elas. Os relatos de "nobres pouco nobres" - lembram do João-sem-terra, patrono do MST e inimigo de Robin Hood? - são muito raros, exatamente porque o vocábulo "nobreza" exprimia, originalmente, o cultivo das melhores qualidades humanas. Seu sentido foi distorcido, como o de tantos outros, pelos mestres da Língua de Pau, como já estamos carecas de saber. Ah, Godiva, pelas excelsas qualidades, inspirou o nome do famoso chocolate que encanta paladares exigentes. E mais: ela nunca pôs os pés em Bienais.

O nome Godiva é latino, provável tradução de Godgyfu, vocábulo inglês, algo como dádiva ou presente de...Deus!
Imagem: estátua de Lady Godiva em Broadgate, Coventry.

Marx, o Groucho
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Tuesday, December 19, 2006

Desobediência Civil


Ok, ok, Rodrigo Constantino tem seu próprio blog ( vcs podem encontrá-lo via Casagrande, temos o link aqui). Esse aqui não é o blog dele.
Tudo isso para explicar que sim, vamos postar mais uma genial dele.
Como boa anarquista adoooro desobediência civil. Minha monografia no direito foi sobre esse livro.

É maravilhoso.

Leiam e pensem nisso:


Desobediência Civil
Rodrigo Constantino

"There will never be a really free and enlightened State, until the State comes to recognize the individual as a higher and independent power, from which all its own power and authority are derived, and treats him accordingly”. (Henry David Thoreau)

Henry David Thoreau escreveu um livro chamado Desobediência Civil para protestar contra a guerra que os Estados Unidos realizavam contra o México em 1846. Thoreau influenciou bastante o pensamento liberal americano, e era um forte defensor da idéia que o melhor governo é aquele que governa menos, ou seja, que mais respeita as liberdades individuais. Durante a guerra, Thoreau preferiu ser preso a pagar seus impostos, já que ele entendia que estaria contribuindo para a guerra caso transferisse recursos para o governo. Ele tomou esta decisão de forma consciente, e se sentiu muito mais livre na cadeia que seus concidadãos soltos, que eram, na verdade, escravos e cúmplices de um governo injusto. Seria o mesmo que perguntarem se é preferível ir preso ou matar uma criança. Nesse caso extremo, a resposta parece óbvia, e a grande maioria optaria pela primeira alternativa. É muito parecido, apenas fica mais sutil perceber que seu dinheiro está contribuindo diretamente para todas as atrocidades que o governo comete, já que dinheiro não possui carimbo.

É impossível ver a notícia deste indecente aumento que o Congresso aprovou recentemente para os próprios deputados e não lembrar de Thoreau. O ultraje é flagrante, e um Congresso envolto em inúmeros escândalos parece rir da cara dos otários pagadores de impostos, que por eufemismo são chamados de contribuintes. O abuso é total, e os deputados ignoram completamente a opinião pública, já sabendo da curta memória dos eleitores e da completa impunidade nesse país. O salário direto de um deputado passará para quase R$ 25 mil mensais, num país onde a renda média do setor privado, que paga a conta, oscila perto de R$ 1 mil. O custo total com um deputado, somando todos os benefícios indiretos, fica na casa de meio milhão de reais por ano. Uma verdadeira fortuna! Isso para que os deputados brinquem de “mensalão” e “sanguessugas”, desviando bilhões do erário, sabendo que nada será punido. O corporativismo no Congresso é total. Os deputados brigam por poder, mas na hora de proteger a categoria, a união faz a força, e os otários pagam a conta. Essa conta irá aumentar, pelo efeito cascata dessa medida, em quase R$ 2 bilhões por ano. Brasília já é, de longe, a maior renda per capita do país. O governo, em nome da luta contra a desigualdade social, é o maior concentrador de renda que existe.

O povo virou servo e o Estado virou patrão, uma completa inversão dos valores. O dinheiro tomado na marra dos pagadores de impostos, que já soma 40% do PIB, não vai para as funções básicas do governo, como prover segurança, garantir o império das leis, e se for o caso, investir na educação básica, na saúde e em infra-estrutura. O dinheiro acaba, na verdade, no bolso dos políticos corruptos, no assistencialismo usado para a compra de votos, no financiamento de grupos criminosos como o MST, curiosamente chamados de “movimentos sociais”, no sustento de ONGs corruptas ou defensoras dos interesses dos próprios governantes, no “mensalão”, na compra de dossiês contra opositores, no suborno da mídia “chapa branca”, nos sindicatos poderosos etc. Enfim, uma classe toma o poder e passa a extorquir, ainda que legalmente, outra classe. A luta de classes, portanto, existe, mas diferente do que acreditava Marx, ela não se dá entre capitalista e proletários, mas entre pagadores e consumidores de impostos. O abuso de poder dos governantes é total, e o avanço sobre o bolso e as liberdades dos indivíduos é assustador. Quem de fato gera riqueza nesse país é assaltado diariamente, mas a espoliação é legal, ocorre à luz do dia, e por aquele que deveria justamente proteger a propriedade privada.

A sorte dos governantes é que o povo brasileiro é passivo demais, ao que tudo indica, já que os limites da tolerância foram ultrapassados faz tempo. Além disso, mostrou também pouca integridade moral nas últimas eleições, estabelecendo seu preço para vender a alma ao diabo, variando apenas na magnitude entre pobres e ricos. O que assusta é que a desgraça anunciada do país é infligida pelo próprio povo. A reação dificilmente será a de indignação verdadeira, salvo as raras e honrosas exceções. Provavelmente isso tudo estará esquecido nas próximas eleições, e o político que prometer um novo privilégio leva o voto. Os deputados sabem que não estão correndo grandes riscos, pois o pacato cidadão brasileiro não irá partir para a desobediência civil nem puni-los no voto que seja. Em outros lugares do mundo, pode ser que tamanho abuso por parte dos políticos acabasse em sangue, em linchamento público. Aqui, tudo acaba em pizza. Mas os perigos para o Estado de Direito no longo prazo são claros, pois cada vez o descrédito maior no Congresso poderá levar mais e mais pessoas a considerar que a existência do próprio se faz desnecessária. Um ambiente desses é propício para golpes autoritários. Estaremos então a um passo de uma ditadura, ainda que disfarçada de “democracia participativa”. Estamos enveredando por esta rota da servidão faz algum tempo...

E o que as pessoas íntegras e mais esclarecidas podem fazer diante deste sombrio cenário? Uma das alternativas, sem dúvida, é lutar, principalmente no campo das idéias, tentando mostrar o que está acontecendo de fato, e quem é o verdadeiro inimigo do indivíduo, o lobo em pele de cordeiro. Mas é uma luta desigual, que muitas vezes desanima. Outra opção, sem dúvida adotada por muitos, é simplesmente sair do país, e deixar que os parasitas tenham cada vez menos hospedeiros para explorar. Não parece o ideal, mas é impossível condenar quem assim faz. Por fim, uma alternativa mais radical e infelizmente cada vez mais tentadora é seguir o caminho de Thoreau, e partir para a desobediência civil. Não mais compactuar com a espoliação estatal, sonegar impostos, ignorar as tantas leis injustas desse país. Não é uma visão confortante, posto que situa-se próxima demais do caos anárquico. Mas infelizmente, parece ser o que os políticos estão incentivando e incitando, com tanto desrespeito aos pagadores de impostos do país. Espero que o mal maior possa ser evitado. Tenho minhas dúvidas...


Oriane

Realmente, assino embaixo! Ele anda danadinho de impossível!
Marx, o Groucho

Ferramenta para atormentar congressistas!


Já pensaram numa ferramenta que nos facilite, a todos os internautas, encher o saco dos deputados e senadores? Principalmente neste momento de "aumentão" ?
Pois é, um hacker de bom coração fez isso. E disponibilizou!!!!

Essa ferramenta útil eu peguei no site da Cora. Achei sensacional.
Ela mesma descreve a ferramenta:

Indignado com as barbaridades que saem da Câmara dos Deputados, Eugênio desenvolveu um pequeno utilitário de opinião pública que facilita enormemente a tarefa de enviar mensagens aos deputados.

Com ele, você não precisa mais consultar o site da Câmara ou sequer abrir seu programa de email para mandar o recado para Brasília!

O Galera -- assim se chama o inteligente programa -- funciona com dois formulários: num, que só precisa ser configurado uma vez, entram os seus dados, já que ele não manda mensagens anônimas; no outro, há campos para assunto e conteúdo da mensagem.

O email pode ser enviado a todos os parlamentares, ou àqueles escolhidos por partido, estado ou sexo (o mulherio é o único lobby reconhecido).

Em seguida, basta clicar no íconezinho de envelope, e logo cada deputado receberá uma carta individual, sem cópia para os demais. O programa usa a planilha distribuída pela própria Câmara dos Deputados, e assim está sempre atualizado.

Como utilitário bem educado que é, o Galera inclui em cada email a saudação 'Exmo. Senhor Deputado' ou 'Exma. Senhora Deputada', seguida do nome de guerra do parlamentar, e termina sempre com 'Atenciosamente', mais nome e endereço completo do remetente.

Eugênio Vilar, perfeito cavalheiro, desaconselha o uso de expressões de baixo calão. Está distribuindo o programa gratuitamente, desde que os usuários se comprometam a não compactuar com qualquer pedido de aumento de verbas de gabinete, atos de nepotismo explícito e por aí vai.


Baixe essa útil ferramenta aqui!

Façam bom uso...

Oriane

Cunhambebe e Godiva: juntando a fome com a vontade de comer ...




Tomando carona no texto de Oriane sobre a "horrorível" Bienal em Sampa, voltamos a um tema que jamais sairá de cartaz enquanto Bullshitland não tomar vergonha na cara: a educação tupinicoide é uma batida de trem, do tipo TGV, francês, superveloz. Que desastre, hein?
Insistimos no ponto crucial da questão, relacionando a Estética à Moral e à capacidade de raciocinar com Lógica. Explicando: quem acha que a Arte - que enseja a expressão do Belo - desenvolve-se à revelia da Moral - que conduz à apreciação do Bem - e que ambas nada têm a ver com a Razão, que apague a fita e comece tudo de novo. Essa noção é o sintoma mais descarado de fragmentação psíquica, a tal doença que nos ronda há décadas, por conta da programadíssima falência do simbólico. Trocando, mais ainda, em miúdos, uma sociedade mostra sua face por meio da manifestação de uma variada série de produtos culturais que se interligam necessariamente por um notório zeitgeist (alemão não é chique, darling?). Assim, onde, por exemplo, grassa a vulgaridade, o gosto intragável pelo desregramento, o culto à indisciplina e à falta de limites morais, viceja, igualmente, a absoluta incapacidade para a elaboração de qualquer nível razoável de criação estética. Ou seja, vai tudo para o mesmíssimo buraco de indigência formal, pois o fio condutor do Logos foi rompido, restando o caos em todas as suas tenebrosas instâncias. A imoralidade é feia e a feiúra é imoral porque ambas agridem a Razão.
Tal panorama assustador agrava-se há décadas, a reboque de uma propaganda insidiosa e rigorosamente simplista, que vem sempre atribuindo a uma classe social, delineada, mal e porcamente, pelos estereótipos de "burguesia dominante, opressora e exploradora" - uma execrável vilã, bem na linha teórica do "bode expiatório" de René Girard -, o mofo de um conservadorismo caracterizado pela prática de normas e preceitos antiquados, candidatos ao banimento sumário pelo fato de representarem mecanismos de manutenção de um "modus vivendi" parasitário, incompatível com as propostas "revolucionárias e progressistas" dos profetas da chatice, aqueles, superbonzinhos e compreensivos, que têm como meta o paraíso na terra, a erradicação da pobreza, a igualdade entre os homens, aquela xaropada que costuma encarnar a isca psicológica perfeita para as futuras vítimas de um festim canibal. Haja comilança...
Análises da realidade, focadas a partir de recortes epistemologicamente precários, levam a narrativas ideológicas indigentes e, um dia, à adoção, pura e simples, dos livros da musa uspiana, Xuxaí, como a cereja do bolo por tamanho esforço intelectual!
Um bom exemplo dessa distorção paratáxica fica por conta de um monte de gente que leu as orelhas dos livros de Freud e, ato contínuo, desandou a ver sexo em tudo, cacoete conhecido como surto-do-pau-pra-toda-obra, principal leitmotiv de dez entre nove textos teatrais em Banânia. O fenômeno é muito comum e está intimamente ligado àquela famosa "lei do menor esforço": se eu tenho um modelito "muderno"- obviamente, compatível com as minhas neuras - para enunciar todos os sentidos do mundo, por que vou-me esforçar em conhecer outros ângulos? Aliás, por que perder tempo em conhecer alguma coisa, não é mesmo?
Bem, aí vem um petralha e diz: Ah, mas vocês também estão adotando um modelito! Claro, Pedro Bó! Acontece que há modelitos universais e modelitos particulares, justamente aqueles meramente circunstanciais, criados a partir de ataques de solipcismo agudo, os projetados sob o influxo de uma tara específica, de um rancor inconsciente etc e tal. Paradigmas, assim estatuídos, morrem na praia da inaplicabilidade porque não resistem a uma análise lógica. Ok, a "lógica é mais uma ilusão", diz aquela "raça" que costuma pagar um mico, tamanho King Kong, quando tropeça com armadilhas como as que Alain Sokal preparou para seus pares acadêmicos num momento de agudo bom humor(leiam Imposturas Intelectuais de Alan Sokal e Jean Bricmont.) Só nos resta, então, apagar a vela deles, como fez Tokusan com seu discípulo zen... Arre!

Nota paranóica: sim, sim, já sabemos que é proibido falar negativamente sobre canibalismo porque a Antropologia diz por aí que os povos que o praticam o fazem em rituais simbólicos, cheios de boas intenções, com o inocente intuito, quase sempre, de adquirir as excelsas qualidades - ops! - dos devorados, blá,blá,blá... Chamem Cunhambebe ou devorem uma caixa de chocolates Godiva, que não foram criados por aquela mulher que gostava de andar, peladona, a cavalo!

Imagens: Cunhambebe, um canibal tapuia, e Lady Godiva, a pelada achocolatada.

Marx, o Groucho - comendo chocolate, uma delícia asteca, como a "pequena" da Tabacaria, do Fernando Pessoa.

Atenção, não é computador. A intervenção é no próprio espaço!!!!



Nem tudo está perdido...
Acabei vendo uma arte boa em Sampa. Não na Bienal, é claro!
Uma exposição que não estava sequer indicada, no SESC da Paulista - Georges Rousse. Vale a pena! estas imagens que vocês estão vendo parecem feitas por computador, mas não são. Ele faz estas imagens geométricas no lugar, em perspectiva, ou seja, uma intervenção no próprio espaço, e fotografa em ângulo, dando a impressão de um outra dimensão. Lá no SESC isso pode ser visto: ele fez a intervenção no espaço e assim podemos ver a sua genialidade. O círculo é pintado, mas só pode ser visto de um certo ângulo, o mesmo da foto. De outro ângulo parece que ele pintou uma elíptica preta e parte do lugar de preto ( no SESC a intervenção gerou um círculo preto)Uma coisa de louco. Fiquei surpresa!
Quem estiver em Sampa não deixe de ver.
Aos amigos paulistas: não fiquem tristes, não procurei ninguém. Não havia tempo, a programação estava muito apertada e não queria marcar com ninguém na Bienal.
Já me bastou assistir, não queria impor esta tortura a amigos.

Oriane

A Bienal da feiúra!!!


Neste fim de semana estive na Bienal de São Paulo. O que dizer? Prédio de Niemeyer, temática social...
É a cultura do feio. Hoje há um artigo ótimo de Jabour falando da feiúra. De fato, estamos vivendo a cultura do feio. Isso não é de agora, a arte contemporânea acabou assimilando a feiúra como se fosse a consciência culpada - a cultura das cachorras, do funk, do quanto mais feio melhor.
Havia uma sala pró-Bolívia que me deu vontade de vomitar. Fotos de crianças de rua, mutilações, um horror! Tudo isso em meio a um calor infernal e, como brinde, vários excluídos se sentindo em casa. Fui ao banheiro e estavam lá: mulheres obesas com miniblusas que deixam sua panças de fora. Como se não bastasse aquela "arte", ainda temos que ver isso. A obesa de pança de fora tinha uma filha. Quando fui até o bebedouro, elas correram na minha frente e ainda riram da minha cara. Ficaram um tempão brincando com o bebedouro enquanto eu esperava, e a criança meteu a boca na saída de água diante das risadas de sua obesa mãe. Desisti na hora da água e ainda ouvi as risadas delas.
Logo na entrada, mandaram que eu colocasse minha minimochila (uma Adidas pequena, só cabe carteira, óculos e celular) no guarda-volumes, pois não se pode entrar de mochila. Entretanto, se for bolsa, pode entrar do tamanho que for! E mais, o local estava cheio de "excluídos" com suas mochilas. Moral da estória: eu não posso porque sou uma exploradora branca, eles podem fazer barulho, emporcalahr o chão e usar mochila - são excluídos coitados. Deuses, o que é essa cultura da pança de fora?
Como nosso povo é feio e vulgar...
O Jabour tem Razão, o que podemos sentir agora é repugnância por tanta feiúra e isso tem acabado por se revelar em ódio. Sim, sinto ódio. Ódio social. Raiva por tanta feiúra. Raiva por exclusão ser o único assunto. Porque será que as pessoas pensam que a inclusão deve vir com a feiúra? Não se pode incluir com beleza?
Uma comunista conhecida me disse que associava o clássico à aristocracia, por isso não gostava dele. Faz sentido, mas por isso deve-se cultuar a feiúra?
Sim, porque depois de ver a Bienal fica claro que há um culto à feiúra. Esse culto é claro tanto nas obras quanto no público.
Precisamos mesmo baixar o nível para incluir? Vocês gostariam de morar num monstrengo do Niemeyer? Vocês acham bonito mulheres obesas de barriga de fora?
O que dizer do funk? Nosso mundo acabou!

Oriane

Saturday, December 16, 2006

Um viva às coisas inúteis, Darling!



Quem lê fielmente este blog já sabe um monte de coisas inúteis - dentro dos padrões verdadeiramente filosóficos, é claro - como, por exemplo:

sabem como é o ambiente acadêmico da UFRJ
sabem quem foram Constantino e Michelangelo
sabem que o vento levou Vivian Leigh
sabem quem é o Keiser tupinicóide
sabem que foi Jeanette MacDonald, a inventora da opereta fast food
sabem quem foram Bosch, Piero della Francesca e Bernini
sabem o que é ego
sabem quem foi Jung
sabem quem foi Gilda
sabem o que é escotoma
sabem quem é Winnetou
sabem quem é Robin Hood
sabem quem é Diane Arbus
sabem quem é o Big Brother
sabem o que é Língua de Pau
sabem quem é Sader, o Emir
sabem quem foi Billy, the Kid
sabem quem foi Carlos Lacerda
sabem quem é Barbara Krueger

Mas saberão - tan-ta-ra-ran!- que Betty, a feia virou a Feia mais bela ???
Oh, sweetie, como anda a sua cultura pop?!!!

Marx, o Groucho

A mixórdia como método


O trabalho de sapa feito pela turma que adota a metodologia de Gramsci, mutatis mutandis, teve um efeito devastador na cultura brasileira. Aí está o nó górdio da questão ou, pelo menos, um fator fundamental. É assustador o que se tem feito nessa área nas últimas décadas: todas as classes sociais se igualam no quesito fragmentação lingüística, pois a capacidade de pensar dessas pessoas foi destruída na raiz na precisa hora em que entraram na escola. Não importa a origem social do estudante, quase todos - as exceções são pequenos oásis de esperança - estão lobotomizados graças à esmagadora preponderância de discursos “relativistas” e “pós-modernistas”, uma mixórdia imbecilizante que, por não fazer sentido algum, torna-se uma carapaça mental iimpenetrável a qualquer coisa que lembre um esforço inteligente em busca do conhecimento autêntico.
Esse tipo de “educação" é uma vacina contra tentativas externas de estabelecer um processo em que haja uma concatenação mínima de idéias, um esforço metódico que vise a uma reflexão que se possa chamar dde “lógica”. Ela antecipa necessariamente a etapa de reeducação citada por Orwell em 1984, na qual, sem maior resistência do educando, ensina-se ao infeliz futuro zumbi um discurso-clichê que faz as vezes de uma ilusória identidade verbal, exatamente aquilo que se chama, biblicamente, de texto da legião. Trata-se de um script que só é possível impor às pessoas se elas já estiverem com as operações cognitivas fragilizadas, devido ao entorpecimentpo de determinadas funções psíquicas por meio da imposição de simulacros que se assemelhem às atividades realmente eficientes para o desenvolvimento do intelecto, malévola operação pedagógica que, curiosamente, pode ser explicada pela máxima popular do se não tem tu, vai tu mesmo. Como produto dessa formidável hipnose, instala-se o caos onde deveria haver uma estrutura racional. Ora, lembremos que o perfeito simulacro do simbólico é... o diabólico. Ersatz...
Em suma, trata-se de um método assaz eficaz, cujo ponto de partida é a lei da inércia, fato facilmente observado em sala de aula: o aluno, por exemplo, que acha ótimo copiar qualquer coisa que tenha lido numa pesquisa na internet, sem nenhum esforço de triagem intelectual, já passou cum laudem pela etapa dessa "petrificação estrutural". Ele está pronto para rejeitar qualquer texto que o obrigue a mais de dois minutos de atenção. Reparem: a resistência à reflexão, criada pelo supradito simulacro de racionalidade, se caracteriza exatamente pela imobilidade, passividade ou preguiça mental, condições típicas de um estado de desagregação psíquica, marcado por reações padronizadas, jamais por ações singulares: o caos que se instala nessa circunstância específica é gerador de estagnação mental porque nele não existem pontos de referência que balizem um percurso significativo. O aluno “caótico” é, portanto, um protopapagaio militante, convicto de que entendeu tudo o que há para ser entendido: ele está prontinho para, por exemplo, confundir assertividade com agressividade, crime com erro e GARIBALDI com o BALDE DO GARI...
Esse ser, que trabalha no piloto automático, não distingue diferenças, por mais gritantes que sejam - a conseqüência imediata disso é a impossibilidade de estabelecer hierarquias de qualquer tipo -, tem um vocabulário paupérrimo e um nível baixíssimo de autoconsciência, sendo, exatamente por isso, uma presa fácil para a manipulação totalitária.
No âmbito da política, se esperteza é o máximo que essa criatura percebe como algo que se aproxime de inteligência, é fácil entender que, pelo mesmo mecanismo diabólico, mas agora sob a máscara de uma “moralidade possível”, sua percepção de atos corruptos pode produzir uma leitura monstruosa em que a diferença entre "honestidade" e “corrupção” seja neutralizada num umbral qualquer do emaranhado psíquico onde tudo é... o mesmo! Ou seja, de um ponto de vista mentalmente saudável, NÃO há escolha possível entre coisas que se confundem numa massa amorfa, na qual os significados originais se pervertem sob o jugo de um pragmatismo político em plantão permanente.
Um último detalhe: o povo menos escolarizado, que não foi ainda atingido pelas manobras “educativas” descritas acima, tem muito mais chance, pela graça arquetípica do senso comum, de identificar diferenças conceituais do que aqueles que tiveram a bênção escolar gramsciana. Portanto, o perigo hoje - PASMEM! - está muito mais em ir à escola do que ficar fora dela! Há mais chance de se mudar a opinião de um indivíduo-bolsa-família do que a de um cara de classe média, pós-graduado em escolha-você-mesmo-o-sabor.
That’s all, folks!

Imagem: Pirates of Ersatz , de Frank Kelly Freas.

Marx, o Groucho

Atenção: todos os textos publicados neste blog estão devidamente registrados de forma a evitar dúvidas quanto à sua autoria. Portanto, qualquer reprodução feita por terceiros a partir de cópia de seu conteúdo deverá conter, necessaria e claramente, a indicação da fonte. Se isso não ocorrer, a Furiosa ficará mais furiosa ainda! He,he,he...

Friday, December 15, 2006

A máfia, versão tupinicóide...


A máfia nos EUA - na época dos "Intocáveis" -, especialmente ativa em Chicago, entre outras práticas rentáveis, cobrava proteção dos comerciantes, alegando as razões típicas desse estado paralelo: ou paga ou morre. Essa idéia simples e genial é adotada, hoje, pelo tráfico de drogas em vários lugares de Banânia, mas sua arrecadação não chega à sombra dos pés daquela outra, feita pelo Estado brasileiro, por meio de impostos e taxas. A única diferença entre as duas amáveis cobranças está no fato de que pode-se fugir da opressão do tráfico, por exemplo, mudando-se de local de trabalho ou de residência- ou, ao menos, escolhendo-se um local em que o pedágio seja mais barato. No caso da máfia tupinocóide, a saída é muito mais cara e, hoje em dia, terrivelmente cansativa se for feita por via aérea. Claro! Só saindo do país você escapa da avalanche de pagamentos que é obrigado a fazer diariamente para satisfazer o estômago voraz dos burocratas estatais.
Outra diferença fundamental: a organização criminosa original não enganava ninguém com ideologias boçais, promessas de um mundo melhor, estabilidade social, paraíso terrestre e outras enganações do gênero, donde se conclui que os nossos gangsters ganham longe no quesito hipocrisia abjeta.
O mais apavorante de tudo isso é saber que as pessoas reagiam, horrorizadas, a Al Capone e a outros mafiosos menos ilustres, pois tinham consciência do crime que eles praticavam, ao passo que, na entorpecida Bullshitland, ninguém dá a mínima bola para o permanente achaque estatal, similar ao praticado por flanelinhas de luxo que nos levam o dinheiro sob o pretexto de "tomar conta do nosso veículo". Pior: não tomam conta de nada - coisíssima nenhuma #@&#!!! - e, se você não pagar direitinho a extorsão, ainda furam o seu pneu...
Pode ser sadia e respeitável uma sociedade que admite ser sistematicamente roubada pelo Estado sem esboçar a mínima reação? Uma sociedade estúpida que fica satisfeita, aqui e ali, com algumas migalhas que lhe são jogadas a título de uma obviamente necessária manutenção da galinha dos ovos de ouro? Por Tutatis, até quando, Catilina???

Marx, o Groucho

Wednesday, December 13, 2006

Hei! Nem todos os "de direita" tem cabelo branco!!!


Milton Friedman

Ultimamente Rodrigo Constantino tem frequentado este blog.
Mas ele é ótimo!
Faço minhas as palavras dele aí embaixo:

Mas em primeiro lugar, preciso fazer uma "dolorosa" confissão. Dizem – e parece que Lula aderiu ao brocardo da boca para fora – que um jovem que não é socialista é um insensível, enquanto um idoso que é socialista é um idiota. Confesso: fui um desses insensíveis. É que desde muito cedo aprendi os conceitos de palavras como mérito, escassez e responsabilidade. Não considerava justo um professor reduzir a nota de um bom aluno e aumentar a de um fraco em nome da maior "igualdade". Tampouco achava correto o Estado tirar o brinquedo melhor de um vizinho para reduzir a desigualdade da vizinhança. Estranhava quando alguém prometia mundos e fundos sem explicar como entregar o prometido. Aceitei rapidamente a lógica matemática de que 2 + 2 = 4. Não acreditava em almoço grátis e sabia que dinheiro não nasce em árvore. Nunca achei que os males do país eram culpa de algum fator exógeno, tipo um império maligno ao norte. E com certeza jamais considerei um formigueiro como um modelo de vida a ser seguido, superior ao nosso. Logo, como fica claro, eu fui um jovem insensível, que já respeitava as diferenças individuais, os méritos distintos, as escolhas de estilo de vida, e sabia que a responsabilidade deve ser sempre do indivíduo. Não nutria simpatia alguma pelos insetos gregários e seu igualitarismo.

Assino embaixo.
De direita é ótimo. Lembra di menor...
Oriane

Tuesday, December 12, 2006

Eles, que são brancos, que se entendam...


Oscar Niemeyer, na concepção do Keiser:

"Não tem outro jeito, se você conhecer uma pessoa muito idosa esquerdista, é porque ela tem problemas. "

Curtinha e direta no queixo, dear architect! Quem está certa é a Dercy Gonçalves...

Marx, o Groucho

Monday, December 11, 2006

Por que não choramos por Pinoche(t)...


Reinaldo Azevedo, mais uma vez, definitivo.
Achar que Pinochet já foi tarde é natural de qualquer humano sensível, que não compactua com ditaduras e assassinatos. E isso está além de ideologiazinhas de merda!
Isso é humanidade.
Ninguém, quaisquer que sejam seus fins, tem direito de matar, oprimir, suprimir direitos ou mesmo a vida.
Mas só se compreende isso quando se atinge um certo grau de espiritualidade, que está bem longe da barbárie.

Apreciem Reinaldo:

Indecorosos

Rá, rá, rá. Eles estão descontrolados, os cachorros! Os petralhas estão inconformados com o fato de eu não derramar lágrimas por Pinochet. Os canalhas, porque vivem lambendo as botas do defunto Fidel Castro e do coronel Hugo Chávez, acham mesmo que eu, “um direitista” (como dizem), preciso simpatizar com Pinochet. Defender o facínora seria o meu certificado de qualidade reacionário. Pois é. Não defendo. Não reconheço ditaduras virtuosas. Eles é que reconhecem. “Ah, então você é da direita fajuta”. Entendo a reação: é uma questão psicológica. Não suportam o fato de que eu não entenda a morte como instrumento para fazer política, já que eles entendem. Queriam que essa minha defesa lhes servisse de álibi. Um esquerdista não consegue ser autônomo nem para justificar o homicídio político: precisa ter uma direita que lhe conceda uma licença moral. Pois eu não concedo. Faço Pinochet e Fidel dançarem juntos no inferno — dois, vá lá, amadores na arte de que Mao Tse Tung e Stálin, os capetas-chefe, foram exímios profissionais. Fidel e Pinochet só são diferentes na "Latrinoamericana Enciclopédia Contemporânea", de Emir Sader, feita para esquerdistas analfabetos, não para democratas ou letrados. O facinoroso chileno tinha alguma memória do decoro e procurava negar seus crimes. Fidel, indecoroso além de igualmente criminoso, tenta transformá-los numa ética. Com a ajuda do "núcleo duro dos intelectuais do miolo mole", como escreve Veja nesta semana.


Oriane

Pinochet e Fidel : dois pesos e duas medidas


Bastante pertinente este artigo de Rodrigo Constantino, sobre o tratamento escandalosamente espúrio que a esquerda costuma dar a ditadores como Pinochet e Fidel, o amigo do peito do Keiser. Aqui, o texto na íntegra.

"A LONGA NOITE

Pinochet simbolizou um período sombrio na história da América do Sul; foi uma longa noite em que as luzes da democracia desapareceram. (Presidente Lula)

(...) São basicamente três os pontos relevantes que não devem ser ignorados com a morte de Pinochet: o contexto do seu golpe; o legado econômico; e a comparação com outros ditadores curiosamente idolatrados pela esquerda.

Comecemos pelo contexto do golpe em 1973. Salvador Allende era um revolucionário socialista que desrespeitava a Constituição chilena e lançava seu país no completo caos. (...)

Seu governo recebeu ajuda dos comunistas soviéticos para solapar de vez com a democracia no país. Allende, que enquanto ministro tentou adotar medidas nazistas como a eugenia, mostrou enorme desdém pelas leis e pelo Congresso quando eleito presidente. Chegou a afirmar que o importante era a revolução socialista, não a verdade. E com suas medidas, jogou a economia chilena na completa miséria, com enorme desemprego e queda de produção, concomitante a uma galopante hiperinflação.

(...) É preciso idolatrar muito mesmo o fracasso.

Fora isso, não há como negar o legado econômico deixado pela era Pinochet.(...)
Muito ficou faltando ainda para que o Chile fosse realmente um ícone do sucesso liberal, mas o choque dado já foi suficiente para transformar o país no melhor exemplo de estabilidade da região. A previdência, privatizada por Pinochet, é estudada pelo mundo todo como caso de sucesso. Da miséria total herdada da era Allende, o Chile passou para o país com os melhores indicadores econômicos após o período Pinochet. Tanto que quando veio a abertura política, os candidatos não ousaram mexer na “vaca sagrada”, mantendo o básico da trajetória econômica. (...)

Por fim, o que é totalmente incompreensível é alguém condenar Pinochet pela ditadura mas aliviar o pior ditador de todos da vizinhança, o carniceiro cubano. Fidel Castro perde, e muito feio, simplesmente em todos os aspectos se comparado a Pinochet. Na ditadura chilena, foram mortos cerca de 3 mil pessoas, sendo que quase a metade logo no começo, numa guerra civil com comunistas. Não eram inocentes, na maioria dos casos, mas guerrilheiros tentando transformar o Chile em Cuba. Já na ditadura cubana, que ainda sobrevive depois de quase meio século, foram assassinados, por baixo, uns 20 mil inocentes. Isso para não falar dos que morreram tentando fugir da Ilha-presídio, algo inexistente no Chile, pois qualquer um poderia deixar o país livremente. (...)
Fidel adotou um claro culto à personalidade, típico de ditadores socialistas, e trata o país como seu, pretendendo passar o poder ao irmão, enquanto o próprio Pinochet chamou eleições depois dos 17 anos no poder.

Poderíamos continuar a comparação ad infinitum, mas o resultado seria sempre o mesmo: Fidel Castro é infinitamente pior que Pinochet em todos os quesitos. Logo, somente a demência explica alguém condenar Pinochet ao mesmo tempo que inocenta Fidel Castro.

No entanto, para a nossa esquerda. Pinochet é a encarnação do mal, mas Fidel compete com os santos pelo seu lugar no céu. A esquerda não agüenta viver dois segundos sequer sem os dois pesos e duas medidas. Como pode o nosso presidente falar em período sombrio, em longa noite em que as luzes da democracia desapareceram, ao mesmo tempo que idolatra seu mui amigo Fidel Castro? (...)

Não obstante, a morte de Pinochet é celebrada pela esquerda, mas a de Fidel, que está por vir, irá gerar enorme comoção. Faz-se necessário o consumo de muito Engov para viver num país desses..."

Observação: se o problema é náusea, sugiro Citrosodine, um remedinho baratíssimo, porreta, que, "misteriosamente por isso mesmo", sumiu das farmácias. Tão indispensável quanto os tampões auditivos de Oriane.

Marx, o Groucho

O senhor coisa tem asas!


Não, vocês não estão vendo a versão alada - portanto, evoluída - do Sr. Coisa, da Família Addams, aquela mãozinha pau-pra-toda-obra que toda pessoa de bom senso gostaria de ter em casa. Na verdade, é outro símbolo da nossa pesquisa esotérica, com seriíssimas implicações ideológicas, um saco de gatos para exercitar os neurônios de Sherlock Holmes.
Vamos por partes, como diria Jack, o estripador: será essa imagem a representação muderna de Hermes, o mensageiro dos deuses - o Mercúrio romano -, ligando claramente a esfera terrestre ao espaço celestial, um vínculo de integração, digamos assim, feito à mão, na marra, segurando o capim? Não! É algo muito mais complexo! Trata-se do novo logo da Aeronáutica, convertida a reles entidade "terrestre", por conta do apagão de um governo cujo avião oficial é o único que chega, atualmente, na hora, com o Keiser a bordo. Pois é, o sujeito já conseguiu dar 18 voltas à Terra em quatro anos! Para quê? Para nada. Ou melhor, para desfilar um rosário de barbaridades, um show de estupidez, uma amostra internacional do cérebro de minhoca tupinicóide, que o reelegeu num ataque coletivo de narcisismo sadomasô.
Sim, o "SENHOR COISA" tem asas, mas só aqui, em Bullshitland. São Ícaro, valei-nos...

Marx, o Groucho

Tampões de ouvido - a solução -


Já reclamei muito da incrível capacidade do carioca de ser barulhento. Não bastasse os que gostam de funk ou pagode, as cachorras e outras bizarrices do gênero, ainda tenho como vizinhos um ponto de táxi barulhento e um grupo de adolescentes que se reúne toda noite embaixo da minha janela. Estes, além de ficarem sacaneando as pessoas que passam (adolescentes, sabe como é...), ainda ficam aos berros até uma da manhã. Como eu já disse, todos tendem a ser tolerantes com esse tipo de coisa. Por quê? Por que precisamos aturar isso? Agora há uma obra no edifício ao lado. Não bastasse o barulho da obra, há os operários que gritam, cantam, xingam. Claro que ninguém fala nada: coitados, são excluídos, estão trabalhando e eu, que sou uma exploradora branca, deveria me dar por satisfeita!
Tenho um vizinho que fala tão alto que eu ouço todas as conversas dele. Sei tudo sobre a vida dele. Ele não é capaz de dizer "Oi, querida" sem gritar. Surreal! Detalhe: ele mora no prédio ao lado!
Mas tudo isso não é apenas para reclamar. É para dizer que achei a solução. Sim, este post é de utilidade pública:

Contra a barbárie do Rio de Janeiro, use tampões de ouvido!!

Sim, tenho usado há alguns anos. E encontrei os melhores do mercado. Melhores do que os da Sansonite! São profssionais: feitos para prevenção auditiva em doentes. Uma maravilha. Custam 1,50 e duram uma semana.
Endereço de compra: General Polidoro 20. Casa da Acupuntura. Fica numa pequena galeria.
Espero que a dica salve mais alguma alma atormentada por esta cidade grosseira e vulgar.

Oriane

Sunday, December 10, 2006

Mais Diane Arbus



Já que estamos num momento Diane Arbus: essas gêmeas aí de cima não são o máximo? Elas inspiraram as gêmeas de Kubrick em O Iluminado.

Já aquele rapaz, "O Patriota", eu tenho certeza que se morasse no Brasil ia ser petista fanático...


Oriane

A cultura do ódio


Diane Arbus - Menino com Granada.

A respeito do post abaixo de Marx - Mais uma radiografia do futuro de Banânia -

Já havia falado aqui neste blog do susto que tomei ao ler duas cartilhas de Filosofia para segundo grau. O assunto era espoliação, exclusão, cidadania etc, nada de Filosofia. Os livros indicados eram Marx, Saussure, Galeano, vejam só, como se Galeano fosse filósofo...
Pois bem, esta semana li a PCN - Parâmetros para o ensino de segundo grau. Publiquei uma parte dos meus comentários no Filósofo de Mau Humor.
O documento nem era tão ruim. Mas na própria lei já percebemos o perigo. Os artigos pertinentes à Filosofia e Sociologia só falam em cidadania. Parece ser este o único assunto a ser tratado no currículo. A persistência me chamou a atenção. O currículo de Filosofia parece tender a ser uma extensão da Sociologia sendo que ambas devem tratar de cidadania, distribuição de bens na sociedade, igualdade entre os homens, e por aí vai. O interessante é que o documento já parte dos princípios: a sociedade é desigual, nossa sociedade é excluída, deve-se lutar pela mudança deste modelo - o capitalismo-. Simples assim, sem disfarces, para qualquer um que leia.
Há passagens como pérolas que propõem o aperfeiçoamento enquanto pessoa humana (sic), o que diabos é isso???. Ficaria fascinada se não me lembrasse que isso é o que chamam parâmetros para o ensino de filosofia para o segundo grau. Meu Deus, o que essas crianças vão aprender? A ter ódio? Ressentimento? Será que as crianças da escola pública já não têm isso em excesso? Elas não vão aprender a contrapor, o que deveria ser a função da Filosofia, mas a pensar todas a mesma coisa. Todas unidas pelo laço do ressentimento.
Se temos alguma dúvida é só olhar a situação atual. Todos se sentem excluídos, principalmente porque esta é a nossa visão de povo da América Latina. Eu sou mais realista, não me sinto excluída, me sinto bárbara mesmo. Mas mesmo com algumas exceções, é assim que somos ensinados a perceber a realidade. Este adestramento vem sendo perpetrado há mais de 10 anos, sendo que suas influências, o pensamento de Gramsci e sua turma da pesada, já se insinuava há bem mais tempo.
A noção que se teve de educação é, há muito, ligada à inclusão, igualdade etc. Não que esses conceitos estejam errados. Nada disso, é bom promover, na medida do possível, a igualdade, mas trata-se de igualdade perante o Estado. As pessoas não podem ser tornadas iguais à força, pois elas são naturalmente diferentes. Aqui queremos igualar as pessoas à força sem igualar sua relação com o Estado. Uns são mais iguais que outros. Claro que isso fala dos mais ricos, mas fala também dos amigos do Rei. Esses, muito mais do que os ricos, sâo mais iguais que os outros.
O fato é que o incitamento das classes baixas contra as altas já vem ocorrendo há bastante tempo. E o resultado, junto ao fato de que a diferença entre ambas só fez crescer, é a violência que estamos vendo. Para as classes baixas o inimigo é todo aquele que tem alguma coisa. Qualquer coisa. Não importa se você se mata de trabalhar todo dia, você é o inimigo porque conquistou algo. Os pobres roubam os um pouco menos pobres. Como no assunto do post que coloquei outro dia, a questão passa a girar em torno da inveja.
O que estamos ensinando em nossas escolas, por culpa dos Darcys Ribeiros da vida, é a invejar aqueles que, por esforço ou sorte, são mais favorecidos que nós.
Esse é o discurso por trás da "cidadania", reconhecimento da "desigualdade na distribuição das riquezas", e "busca de um mundo melhor".
Todos queremos um mundo melhor, trata-se de um proposta unânime. Mas isso não se consegue incitando o ódio, mas apenas o amor. Podemos recorrer a São Paulo - I Cor.13 - o amor acima de tudo é o fundamento da vida. Quando ensinamos nossas crianças a odiar estamos decretando nossa própria morte. Regimes calcados no ódio nunca trouxeram prosperidade.
O problema não é político, é espiritual.
Karl Marx vivia às custas de Engels, pois este era o seu ideal, viver às custas de algo mais forte, sustentado por sua própria ideologia. Ninguém me convence que ele não tinha uma terrível inveja de seu protetor.

Oriane

Dêem uma olhada no livro de Paul Johnson, Os Intelectuais. O sujeito era realmente um baixo-astral só... - Marx, o Groucho (o verdadeiro!)

Olha que coisa mais linda! - um post com acento carioca...


O charmoso aí do lado é Billy the Kid, o cara que daria inveja a Lampião! Ao contrário do tesudo apache Winnetou, que só existiu na imaginação de Karl May, "Billinho" viveu pra valer e foi o precursor de Bonnie & Clyde, só para citar alguns famosos da sua linhagem.
Fica combinadíssimo que essa turma, fictícia ou não, tem um carisma - literalmente - dos diabos!
A aura que os envolve só tem em comum com o nosso Keiser, às vezes, um discreto bafo etílico. Sabem como é, no Velho Oeste o pessoal bebia pinga pra caramba. O grande problema de Banânia, insistimos sempre nesse tema, é a absoluta falta de senso estético ! Reparem que Billy, mesmo meio caidinho, tem um certo borogodó, um ar blasé básico. O que os nossos malfeitores têm, hein, hein, hein??? Diga, sweetie, diga! Aquela cara gordurosa de bolchevique com hemorróidas, tipo assim Stalin? A coisa é grave porque onde há um resquício de elegância pode haver uma ressurreição, pois o nexo entre a Verdade e a Beleza, como filosoficamente já vimos, é indissolúvel. A conclusão é óbvia: em face ao exposto, não tem mais jeito, a vaca foi pro brejo. Chamem Calamity Jane !!!

Marx, o Groucho

Uma tarefa para Édipo !


Sinistro, muito sinistro. Este é um post meditabundo. O que faz essa criatura humana dentro de um burro? Que metáfora horrenda se esconde nessa imagem? Será um símbolo dos restos de racionalidade sendo tragados pela ignorância que assola o país? Ou, sob outro ângulo, trata-se da conversão de um burro - METANÓIA, lembram?! - em gente da melhor qualidade? Será que dentro de uma besta existe sempre um Einstein, um Leonardo? Será um vaticínio indicando que o Keiser vai virar Proust e Proust vai virar sertão ??? E a luz entrando pela direita e a sombra pela esquerda? Hummmmmm... Só Édipo decifra essa, he, he, he...

Marx, o Groucho

Saturday, December 09, 2006

Mais uma radiografia do futuro de Banânia


Um texto revelador, mais um, denunciando o estado educacional (???) de Bullshitland, com todas as sombrias previsões que a lógica nos permite desenhar.

"REVOLUÇÃO SILENCIOSA - por Diego Casagrande, jornalista

Não espere tanques, fuzis e estado de sítio. Não espere campos de concentração e emissoras de rádio, tevê e as redações ocupadas pelos agentes da supressão das liberdades.
(...) Não espere os oficiais do regime com uniformes verdes e estrelinha vermelha circulando nas cidades. Não espere nada diferente do que estamos vendo há pelo menos duas décadas.(...)

A revolução comunista no Brasil já começou e não tem a face historicamente conhecida. Ela é bem diferente. É hoje silenciosa e sorrateira. Sua meta é o subdesenvolvimento. Sua meta é que não possamos decolar. Age na degradação dos princípios e do pensar das pessoas. Corrói a valoração do trabalho honesto, da pesquisa e da ordem. Para seus líderes, sociedade onde é preciso ser ordeiro não é democrática. Para seus pregadores, país onde há mais deveres do que direitos não serve. Tem que ser o contrário para que mais parasitas se nutram do Estado e de suas indenizações. Essa revolução impede as pessoas de sonharem com uma vida econômica melhor, porque quem cresce na vida, quem começa a ter mais, deixa de ser “humano” e passa a ser um capitalista safado e explorador dos outros. Ter é incompatível com o ser.

Vai ser triste ver o uso político-ideológico que as escolas brasileiras farão das disciplinas de filosofia e sociologia, tornadas obrigatórias no ensino médio a partir do ano que vem. A decisão é do Ministério da Educação, onde não são poucos os adoradores do regime cubano mantidos com dinheiro público.(...)

(...) Hoje, mesmo sem essa malfadada determinação governamental - que é óbvio faz parte da revolução silenciosa -, as crianças brasileiras já sofrem um bombardeio ideológico diário. Elas vêm sendo submetidas ao lixo pedagógico do socialismo, do mofo, do atraso, que vê no coletivismo econômico a saída para todos os males.(...)

No Brasil, são as escolas os principais agentes do serviço sujo. (...)
Perdi a conta de quantas vezes já denunciei nos espaços que ocupo no rádio, tevê e internet, escolas caras de Porto Alegre recebendo freis betos e mantendo professores que ensinam às cabecinhas em formação que o bandido não é o que invade e destrói a produção, e sim o invadido, um facínora que “tem” e é “dono” de algo, enquanto outros nada têm. Como se houvesse relação de causa e efeito.

Recebi de Bagé, interior do Rio Grande do Sul, o livro “Geografia”, obrigatório na 5ª série do primeiro grau no Colégio Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora. Os autores são Antonio Aparecido e Hugo Montenegro. (...)
Por meio desse livro, as crianças aprendem que propriedades grandes são de “alguns” e que assentamentos e pequenas propriedades familiares “são de todos”. Aprendem que “trabalhar livre, sem patrão” é “benefício de toda a comunidade”. Aprendem que assentamentos são “uma forma de organização mais solidária... do que nas grandes propriedades rurais”. E também aprendem a ler um enorme texto de... adivinhe quem? João Pedro Stédile, o líder do criminoso MST que há pouco tempo sugeriu o assassinato dos produtores rurais brasileiros. (...)

Essa é a revolução silenciosa a que me refiro, que faz um texto lixo dentro de um livro lixo parar na mesa de crianças, cujas consciências em formação deveriam ser respeitadas. Nada mais totalitário. Nada mais antidemocrático. Serviria direitinho em uma escola de inspiração nazifascista.

Tristes são as conseqüências. Um grupo de pais está indignado com a escola, mas não consegue se organizar minimamente para protestar e tirar essa porcaria travestida de livro didático do currículo do colégio. Alguns até reclamam, mas muitos que se tocaram da podridão travestida de ensino têm vergonha de serem vistos como diferentes.(...)
O antídoto para a revolução silenciosa? Botar a boca no trombone, alertar, denunciar, fazer pensar, incomodar os agentes da Stazi silenciosa. Não há silêncio que resista ao barulho." (o texto, na íntegra, aqui.)

Comentários - A sigla MEC nos dá arrepios - é um filme de terror classe B -, há décadas. É mais um rótulo vazio, uma excrescência jurássica, especialmente por incluir a palavra educação, eufemismo típico da Língua de Pau para disfarçar doutrinação. Cheira a controle estatal cretino, cheira a cabide de emprego, cheira à burocracia bolchevique, cheira a infindáveis reuniões que não levam a nada - uma mise en scène a serviço da embromação -, cheira à controle sanitário de "corações e mentes". Em suma, cheira mal: dêem a descarga...

Marx, o Groucho

Winnetou, de Karl May: procura-se!


Ai, que loucura! Diretamente da imaginação fértil e romântica de um alemão chamado KARL MAY - um escritor que nunca pôs os pés nos lugares que descreve primorosamente em sua obra -, homenageamos aqui um do seus inúmeros livros, Winnetou (romance em três grossos volumes), no qual mergulhamos, loucamente, durante uma longínqua juventude. Décadas mais tarde, descobrimos que Fernando Sabino também era fã de carteirinha do digníssimo índio, fato que nos tornou entes menos solitários no culto a essa leitura, pois, até então, somente nós e uma queridíssima amiga de infância, Bel, a conhecíamos, convicção que nos assombrou durante longo tempo, especialmente depois que preparamos um sensacional questionário para uma das professoras mais cultas do colégio onde cursávamos o ginásio - tentem praticar tamanha audácia nestes tempos democráticos... -, contendo a perguntinha impertinente: quem é o autor de Winnetou? O constrangedor e constrangido silêncio da mestra nos deixou com a impressão de possuir um excitante segredo - ou uma excepcional bagagem literária, para nossa idade. Uau! De repente, muuuuuuito mais tarde, surge Sabino... Que boa companhia!
O fato é que, lendo tantos épicos, aprendemos a consolidar alguns valores originários de uma longa tradição literária, que encontra suas raízes no Medievo, época tão mal falada nos atuais bancos escolares, por motivos monotonamente óbvios -, repleta de cavaleiros andantes (como Ivanhoe, do inglês Walter Scott, e Eurico, o presbítero, outro clássico estupendo do lusitano Alexandre Herculano), respirando uma atmosfera repleta de honra, sentido exato de liberdade, refinamento simbólico, e perfeita noção do que significa VERDADE, sintese do espírito cristão autêntico, conceitos absolutamente caducos, estranhos, quiçá CENSURADOs nos gloriosos dias de hoje, a era dos mortos-vivos.

Agora, graças ao rastreamento via internet, decobrimos que havia outros membros da nossa american way of indian life, como nos mostra o relato abaixo, achado num blog, "A Biblioteca da professora maluquinha":

"Li Winnetou pela primeira vez mais ou menos 13 anos, e me apaixonei perdidamente. O primeiro volume conta as aventuras de Karl (Carlos, nesta tradução), um jovem alemão que vai tentar a vida nos Estados Unidos. Através de personagens sólidos, profundos e aventuras instigantes, Karl May nos conta o início da colonização americana. Winnetou é um jovem guerreiro, cacique da tribo dos Apaches. Entre Karl e Winnetou nasce uma inesperada e emocionante amizade, que durará por toda a série. E pela vida dos dois.
E pelas nossas...
Dentre todos os riquíssimos personagens encontrados na obra de May, Winnetou se destaca por sua nobreza de alma, sua sabedoria e inteligência; um cavaleiro medieval em trajes indígenas nas estepes americanas! Karl May nos conquista fácil, fácil, com seu estilo leve e divertido, pelo realismo do que conta, a naturalidade com que emociona. Pelas descrições perfeitas de lugares, de tipos humanos, de aventuras que, naquele contexto, bem poderiam ser realidade.
Na verdade, Karl May não narra apenas as aventuras de um índio e um homem no antigo Oeste americano. Ele filosofa sobre as relações humanas, ele trabalha a possibilidade do "diálogo entre os povos", e finalmente descreve, com riqueza de detalhes e criatividade, a vida, os costumes e tradições dos povos visitados.
Escrito em 1909, a mensagem de Winnetou e de toda a obra de Karl May está e estará sempre muito atual. Um livro grande, uma aventura intensa, mas vale à pena o esforço e tempo despendidos. Oh, se vale! Para mim, é uma aventura de vida inteira.
A coleção não é mais editada no Brasil, mas pode ser encontrada, com facilidade em sebos. Pelo amor de Deus, não caiam nas péssimas traduções resumidas (estragam completamente, cortam toda a filosofia do autor, empobrecem o romance. Eca!), uma da Ediouro, outra da Abril. Procurem essa edição aí da foto, da Editora Globo Porto Alegre.
Com certeza, não se arrependerão da empreitada!"

Observação: a edição citada, da Globo de Porto Alegre, faz parte de uma coleção herdada de meus avós, vorazmente lida e relida, que incluía... o Pimpinela Escarlate, nossa próxima sessão nostalgia! Ao mais, reparem na sutileza das advertências da Maluquinha, no que se refere às traduções resumidas e ao empobrecimento dos textos. E a Idade Média é que era a "Idade das Trevas"...

Marx, o Groucho

Falta educação...


Andar no Rio de Janeiro, seja de táxi ou metrô, tornou-se uma tarefa inglória. No metrô, tudo o que vemos são garotões sentados de perna aberta enquanto as senhoras, eventualmente idosas, ficam em pé. Já vi várias vezes, quando a porta abre, estes primores de boa educação empurrando as mulheres para sentarem correndo. Sentam nos assentos reservados aos idosos e ficam com cara de ameaça ou de indiferença. Chega a dar nojo.
Andar de táxi não é muito melhor. Semana passada fui ameaçada por um. Sempre pego táxi num mesmo ponto, quando saio da análise. Vou a todos os lugares, mas num certo dia estava chovendo e peguei o táxi para uma corrida muito curta. Pedi desculpas ao motorista, um homem enorme, que passou o trajeto todo me destratando. Quando eu pedi para entrar numa rua antes da minha, ele disse que não ia entrar não, pois não gostava dessa rua. Ia entrar na próxima. Fui reclamar no ponto no dia seguinte e ele me viu. Disse que sabia onde eu morava... ou seja, me ameaçou. No dia seguinte, peguei um táxi em que o motorista fazia os barulhos mais bizarros com a boca, aqueles barulhos que gente grossa faz para limpar o dente. A VIAGEM TODA!!! Cheguei passando mal. Já peguei motoristas de todos os tipos, mas isso tem piorado muito.
Nosso povo esta a cada dia mais grosseiro!

Oriane

Wednesday, December 06, 2006

Veríssimo - mais um rico metido a socialista.


Já que o assunto era Veríssimo, vamos homenagear nossa heróica leitora que deu um pé no namorado cuja mãe tietava Veríssimo. Tietar já é ridículo, mas tietar Veríssimo é bizarro. A leitora tinha toda a razão. Estamos com você. Coragem!!!



Mais uma do Blog do Diego:

A CANETA DE VERISSIMO

por Rodrigo Constantino


Quando penso que o colunista Verissimo vai desistir do seu proselitismo e voltar para os bons artigos sobre o cotidiano, o gaúcho aparece com mais um espetáculo de ideologia barata. No seu último artigo, Parker 51, Verissimo conta uma rápida história de como tinha um símbolo todo especial a caneta que ele pegava emprestado com o pai para fazer sua prova final. Reconhece que não era pela sua maior eficiência que a pedia, mas pelo simbolismo que tinha. A história, que parece meio sem sentido no começo, mostra no final a intenção do autor, ao afirmar que é “esse significado maior, que não é mensurável, que não se julga nem tecnicamente nem pelo resultado da prova, que nunca entra na equação dos privatistas”. Verissimo está condenando aqueles que defendem a privatização da Petrobras pelo argumento da eficiência, que ele parece ao menos reconhecer ser maior na gestão privada. Assim como a caneta Parker que seu pai lhe emprestava, ele acredita que a empresa tem um valor simbólico, e por isso deve permanecer uma estatal, ainda que seja menos eficiente assim. Os “ultraliberais” seriam insensíveis para este sentimento tão nobre e superior.

Há uma “pequena” diferença, que o ilustre colunista parece não perceber. No caso da canetinha, sua propriedade era bem definida. Ela era do pai de Verissimo, que tinha o direito de emprestá-la para quem quisesse, pelo motivo que fosse. Mas a Petrobras não. A Petrobras utiliza recursos públicos, é propriedade estatal, e por isso pertence, ao menos na teoria, a cada pagador de imposto. Ela não é do Verissimo apenas. E, portanto, ele não tem o direito de torrar o dinheiro alheio, via maior ineficiência, em troca da busca desse lindo sentimento de simbolismo. Verissimo, que é bem rico, poderia juntar várias outras nobres almas – e com o bolso cheio também – para comprar a Petrobrás do governo, e aí esses sensíveis homens poderiam fazer o que quisessem com a empresa, inclusive levá-la à bancarrota em nome do símbolo que ela representa. Os insensíveis, que precisam pensar na eficiência, seriam poupados assim.

Talvez a explicação para Verissimo não ter notado tão gritante distinção entre os casos de sua analogia esteja no seu próprio artigo, quando assume que sempre foi “um péssimo aluno, da tribo dos que passavam raspando”. Talvez, se tivesse estudado um pouco mais...


Oriane

Projeto Apagão



Tirei ssa matéria do Blog do Diego Casagrande. Não precisa dizer mais nada.

O VERDADEIRO APAGÃO DE ENERGIA ELÉTRICA
05.12, 14h09
por José Carlos Aleluia, na Folha de S. Paulo

Em 2001, no governo FHC, o Brasil passou por um período de racionamento de energia elétrica denominado indevidamente de "apagão". O país tinha máquinas (geradoras) instaladas, mas faltou combustível. Leia-se: água. A falta de chuvas nas cabeceiras dos rios, em Minas Gerais, obrigou ao racionamento.

A intensificação de providências para a conclusão de obras em andamento ou paralisadas e a racionalização no uso da energia elétrica levaram ao equacionamento do problema.

O governo Luiz Inácio Lula da Silva assumiu em 1º de janeiro de 2003 com uma sobra de oferta de energia elétrica que possibilitou o abastecimento normal do mercado, graças ao pífio crescimento do PIB no período.

Durante todo o primeiro mandato do governo do PT, nenhuma obra nova de geração foi iniciada. Ainda assim, o país conta, neste momento, com ligeira sobra de energia elétrica.

A potência instalada no parque gerador brasileiro é da ordem de 96 mil MW, com condições de suprir uma carga de 56 mil MW médios. O consumo atual é de aproximadamente 48 mil MW médios. Sobram, pois, 8 mil MW médios.

Se o Brasil crescer 5% do PIB ao ano como quer (?) o presidente Lula, e considerando uma elasticidade de 1,2%, teremos um crescimento do consumo de energia elétrica da ordem de 6% ao ano.

Ao final de 2007, o consumo seria de 48 mil x 1,06 = 50.880 MW médios; de 2008, o consumo seria de 50.888 x 1,06 = 53.933 MW médios; de 2009, de 53.933 x 1,06 = 57.169 MW médios; e, de 2010, o consumo seria de 57.169 x 1,06 = 60.599 MW médios.

Como não há previsão de entrada em operação de fontes significativas de geração de energia elétrica antes de 2010, restará ao Brasil o dilema: continuar crescendo como o Haiti ou caminhar para um apagão de verdade, com falta real de energia elétrica, e não racionamento, como em 2001.

É preciso mobilizar de imediato a sociedade para a aplicação de medidas que evitem que o país entre em um caos nunca antes vivenciado.

A advertência que fizemos lá atrás, no segundo ano do governo Lula, confirmada por técnicos em infra-estrutura, de que o Brasil caminhava celeremente para um apagão geral, pois o descaso com a energia fora estendido aos transportes e portos, foi subestimada pelo governo do PT.

O custo da irresponsabilidade é altíssimo. Aí está a crise na aviação. Estamos perdendo de vista outras nações emergentes, que crescem acima de 6% médios anualmente, enquanto o Brasil mergulha num crescimento medíocre, abaixo de 3%.

Talvez tenhamos perdido a oportunidade de nos aproximarmos do Primeiro Mundo. O momento virtuoso da economia internacional pode estar virando o fio. Os primeiros sinais de que o freio de mão está sendo puxado já são percebidos na locomotiva norte-americana. E a China admite reduzir o crescimento extraordinário dos últimos anos.

O Brasil mostrou-se incompetente nestes primeiros quatro anos de Lula.

Perdeu a carona no clima efervescente da economia internacional. Pagar para ver mais quatros de Lula pode ter sido fatal para o futuro do país.

Se a crise anunciada é preocupante, mais sério e preocupante é o fato de o presidente da República, durante toda a campanha à reeleição, ter insistido no discurso de que o país está preparado para um crescimento sustentado. Reeleito, Lula chegou a falar, do alto de sua autoridade, que o Brasil cresceria 5% já em 2007. Puro blefe.

O Ipea, vinculado ao Ministério do Planejamento, desautorizou o presidente da República ao informar que o crescimento de 5% só aconteceria por volta de 2017, se o Brasil fizesse o dever de casa. Coisas do tipo reduzir despesas e investir em energia elétrica, transportes, portos.

O estudo do Ipea havia sido concluído antes das eleições. Pela gravidade do assunto, o presidente da República teria obrigatoriamente que ter a informação. Se a tinha e insistiu em falar em crescimento, reafirma sua falta de escrúpulos.

Mais grave ainda será se o Ministério do Planejamento não informou o presidente da República sobre a precariedade em que se encontra a infra-estrutura brasileira depois de quatros anos sem investimentos. A menos que Lula e seu governo considerem que tapar precariamente buracos em rodovias seja considerado obra de infra-estrutura.

O Brasil está numa encruzilhada. Para atravessá-la, necessita muito mais de competência e seriedade do que dos arroubos demagógicos e irresponsáveis do senhor Luiz Inácio Lula da Silva.


Oriane