Tuesday, December 19, 2006

Cunhambebe e Godiva: juntando a fome com a vontade de comer ...




Tomando carona no texto de Oriane sobre a "horrorível" Bienal em Sampa, voltamos a um tema que jamais sairá de cartaz enquanto Bullshitland não tomar vergonha na cara: a educação tupinicoide é uma batida de trem, do tipo TGV, francês, superveloz. Que desastre, hein?
Insistimos no ponto crucial da questão, relacionando a Estética à Moral e à capacidade de raciocinar com Lógica. Explicando: quem acha que a Arte - que enseja a expressão do Belo - desenvolve-se à revelia da Moral - que conduz à apreciação do Bem - e que ambas nada têm a ver com a Razão, que apague a fita e comece tudo de novo. Essa noção é o sintoma mais descarado de fragmentação psíquica, a tal doença que nos ronda há décadas, por conta da programadíssima falência do simbólico. Trocando, mais ainda, em miúdos, uma sociedade mostra sua face por meio da manifestação de uma variada série de produtos culturais que se interligam necessariamente por um notório zeitgeist (alemão não é chique, darling?). Assim, onde, por exemplo, grassa a vulgaridade, o gosto intragável pelo desregramento, o culto à indisciplina e à falta de limites morais, viceja, igualmente, a absoluta incapacidade para a elaboração de qualquer nível razoável de criação estética. Ou seja, vai tudo para o mesmíssimo buraco de indigência formal, pois o fio condutor do Logos foi rompido, restando o caos em todas as suas tenebrosas instâncias. A imoralidade é feia e a feiúra é imoral porque ambas agridem a Razão.
Tal panorama assustador agrava-se há décadas, a reboque de uma propaganda insidiosa e rigorosamente simplista, que vem sempre atribuindo a uma classe social, delineada, mal e porcamente, pelos estereótipos de "burguesia dominante, opressora e exploradora" - uma execrável vilã, bem na linha teórica do "bode expiatório" de René Girard -, o mofo de um conservadorismo caracterizado pela prática de normas e preceitos antiquados, candidatos ao banimento sumário pelo fato de representarem mecanismos de manutenção de um "modus vivendi" parasitário, incompatível com as propostas "revolucionárias e progressistas" dos profetas da chatice, aqueles, superbonzinhos e compreensivos, que têm como meta o paraíso na terra, a erradicação da pobreza, a igualdade entre os homens, aquela xaropada que costuma encarnar a isca psicológica perfeita para as futuras vítimas de um festim canibal. Haja comilança...
Análises da realidade, focadas a partir de recortes epistemologicamente precários, levam a narrativas ideológicas indigentes e, um dia, à adoção, pura e simples, dos livros da musa uspiana, Xuxaí, como a cereja do bolo por tamanho esforço intelectual!
Um bom exemplo dessa distorção paratáxica fica por conta de um monte de gente que leu as orelhas dos livros de Freud e, ato contínuo, desandou a ver sexo em tudo, cacoete conhecido como surto-do-pau-pra-toda-obra, principal leitmotiv de dez entre nove textos teatrais em Banânia. O fenômeno é muito comum e está intimamente ligado àquela famosa "lei do menor esforço": se eu tenho um modelito "muderno"- obviamente, compatível com as minhas neuras - para enunciar todos os sentidos do mundo, por que vou-me esforçar em conhecer outros ângulos? Aliás, por que perder tempo em conhecer alguma coisa, não é mesmo?
Bem, aí vem um petralha e diz: Ah, mas vocês também estão adotando um modelito! Claro, Pedro Bó! Acontece que há modelitos universais e modelitos particulares, justamente aqueles meramente circunstanciais, criados a partir de ataques de solipcismo agudo, os projetados sob o influxo de uma tara específica, de um rancor inconsciente etc e tal. Paradigmas, assim estatuídos, morrem na praia da inaplicabilidade porque não resistem a uma análise lógica. Ok, a "lógica é mais uma ilusão", diz aquela "raça" que costuma pagar um mico, tamanho King Kong, quando tropeça com armadilhas como as que Alain Sokal preparou para seus pares acadêmicos num momento de agudo bom humor(leiam Imposturas Intelectuais de Alan Sokal e Jean Bricmont.) Só nos resta, então, apagar a vela deles, como fez Tokusan com seu discípulo zen... Arre!

Nota paranóica: sim, sim, já sabemos que é proibido falar negativamente sobre canibalismo porque a Antropologia diz por aí que os povos que o praticam o fazem em rituais simbólicos, cheios de boas intenções, com o inocente intuito, quase sempre, de adquirir as excelsas qualidades - ops! - dos devorados, blá,blá,blá... Chamem Cunhambebe ou devorem uma caixa de chocolates Godiva, que não foram criados por aquela mulher que gostava de andar, peladona, a cavalo!

Imagens: Cunhambebe, um canibal tapuia, e Lady Godiva, a pelada achocolatada.

Marx, o Groucho - comendo chocolate, uma delícia asteca, como a "pequena" da Tabacaria, do Fernando Pessoa.

1 comment:

Anonymous said...

Excelentes posts. Só vim dizer que são ótimos mesmo, este e o de baixo da Oriane. Nem sei o que dizer...

off-topic: alguém me passa o telefone da Lady Godiva, por favor!