Wednesday, November 15, 2006
Sader x Benjamim - detalhes sórdidos
Gente, a nossa amiga Clau nos deu o toque e vamos deixar aqui para a posteridade. O Reinaldo Azevedo colocou no blog dele, e eu reproduzo aqui os detalhes sórdidos da briga entre Sader e Benjamim. E volto a dizer: Cesar Benjamim é um homem decente e culto, e agiu com o máximo de boa fé. Precisamos aprender a separar o joio do trigo. Devemos tentar tornar sabido pelo máximo de pessoas. Um sujeito como o Sader não pode continuar tendo essa repercussão. Creio que as pessoas que assinaram o manifesto em favor dele não sabem quem ele é.
As partes em itálico são os comentários de Reinaldo Azevedo.
"Este blog descobriu os detalhes sordidos
Eu e Lula temos algo em comum além do Corínthians. A gente acorda invocado. Eu acordei invocado com aquela história dos “detalhes sórdidos” do processo que Ivana Jinkings, dona da editora Boitempo, move contra o economista César Benjamin, também editor. O professor Emir Sader, personagem robusta no noticiário neste dias — sobretudo por conta dos esforços de seus amigos para transformar um réu em vítima — serve de testemunha (contra Benjamin e a favor de Ivana). Ficamos sabendo da história porque Fernando de Barros e Silva, editor de Brasil da Folha, escreveu um texto a respeito (clique aqui). Ivana não gostou e concedeu uma entrevista ao site Carta Maior (veja abaixo). Ela acusa uma conspiração da direita contra os intelectuais de esquerda, mas não fala do processo. Benjamin também é de esquerda. Minha curiosidade só fazia crescer. Eu queria os “detalhes sórdidos”.
A peça é pública e corre na 4ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Território. A partir de trechos de um dos documentos que o compõem, vocês ficarão sabendo de uma história que está longe de ser loucura, como diria o sábio Polônio, de Hamlet. Trata-se de um método. Uma informação prévia se faz necessária. César Benjamin, que concorreu como vice-presidente na chapa de Heloísa Helena nas eleições presidenciais deste ano, conseguiu junto à fundação alemã Rosa Luxemburgo, que financia iniciativas da esquerda mundo afora, uma verba de 100 mil euros para um projeto que incluía a produção de boletins de conjuntura política e a publicação de um livro: Governo Lula: Decifrando O Enigma. Posso até achar, e acho, que os alemães ajudariam mais o povo no Brasil torrando essa grana em cerveja. Mas concedo: Benjamin acredita naquilo que faz.
Ele convidou, então, como parceiro do projeto o Laboratório de Políticas Publicas (LPP) da UERJ, comandado por Emir Sader. Pô, Benjamin! A partir de agora, reproduzo, em azul, trechos de uma das peças do processo e faço comentários e/ou explicações em vermelho. Esse documento é uma carta de Benjamin endereçada aos estagiários do LPP. Ele se despede do trabalho e diz as razões. Ivana, que agora lidera o movimento pró-Sader, decidiu processá-lo, chamando seu amigo como testemunha. Vamos aos detalhes.
Rio de Janeiro, 2 de agosto de 2004
Prezados colegas:
Chegando de viagem no domingo à noite, leio a mensagem da secretária Fabiana, que me comunica a “proposta final” de reformatação do nosso projeto para 2005-2006. Sinto-me envergonhado por vocês. Eu estava presente no ambiente em que as reuniões se realizaram, mas nunca fui comunicado delas e nunca as percebi.
Bejamin está dizendo que, na prática, foi expulso do projeto para o qual arrumou financiamento. Coisa mais feia, pouco companheira! Como é que se vai fazer socialismo assim? Ao que responderia Bona, meu amigo cético: "Mas é assim que se faz".
O ponto de partida dos problemas ocorreu há alguns meses, quando, em reunião ordinária, com a presença de todos, fui surpreendido pelo pedido de Emir Sader de que eu cedesse a ele a coordenação. Achei o pedido indelicado, mas me senti constrangido de negá-lo. (...) Estabeleceu-se uma hierarquia rígida e cada vez mais opaca. As decisões foram centralizadas e tornaram-se crescentemente inacessíveis. Nenhuma informação mais circulou. As próprias reuniões ordinárias do projeto deixaram de existir. Em vez de um coordenador, passamos a ter um chefe. (...)
Interessante a elegância da abordagem de Sader, hehe. Notem o esforço burocratizante. Eles sempre estão inteiros em cada coisa. Benjamin, em sua carta, diz que o meio se tornou a finalidade, coisa comum no petismo. Ter o controle da máquina, da burocracia, corresponde, em suma, a ter o controle do poder. Reitero: trata-se de um método.
Qualquer um que passe os olhos pelos textos preparados por Emir Sader poderá reconhecer sem dificuldades que eles transitam da nulidade à insignificância. Alguns, por excesso de raquitismo, chegam a ser ofensivos à inteligência alheia. Mal pensados, mal estruturados, mal escritos e malfeitos, servem apenas para reforçar nos leitores menos sagazes a idéia de que política se reduz a intrigas entre ministros e disputas entre candidatos. (...); essa maneira de tratar a política é deseducativa, para dizer o menos.
Parece que ele não gostava muito da qualidade do pensamento de Sader. Não concordo com nada do que escreve Benjamin, mas ele é um homem inteligente e tem bom texto. Já escrevi isso certa feita. E a Contraponto publica bons livros.
(...)Hoje, penso que seria interessante se conseguíssemos recapitular como uma pessoa chamada para desempenhar uma tarefa específica, no âmbito de um projeto, consegue estragar a tarefa para a qual havia sido chamada e, simultaneamente, por meio de sucessivas manipulações, obter um poder despótico, exclusivo, patronal, sobre todo o projeto. Há uma explicação: quem não tem cão caça com gato; quem não tem talento e disposição para trabalhar precisa agarrar-se ao poder.
Eu me nego a estragar este bom momento do documento... Atenção que a coisa começará a ficar bastante interessante.
(...) o episódio da publicação do livro Governo Lula: Decifrando O Enigma, que reuniu nossos textos, deve ser citado, por ser exemplar. Num primeiro momento, havíamos combinado, por consenso, que a Contraponto (editora da qual sou sócio) faria o livro. As vantagens disso eram a praticidade e a confiabilidade, na medida em que assim eu me tornava completamente responsável, diante da equipe e da Fundação, por assegurar a melhor combinação possível de qualidade, velocidade e custos. Num momento posterior, com o trabalho de edição em andamento, Emir, já formalmente coordenador, me comunicou que a combinação que havíamos feito não poderia ser mantida, pois as regras da Fundação exigiam que fizéssemos uma concorrência entre três editoras. Não lhe retirei a razão. Regras são regras. Comuniquei então que não achava ético que a Contraponto participasse da licitação, pois, como integrante do projeto, isso me colocaria na incoerente posição de licitante e licitado. Pedi que buscássemos três outras editoras interessadas.
Xiii, Benjamin...
No mesmo dia, por erro de endereçamento, entrou em minha caixa postal uma mensagem em que Emir combinava com a Boitempo (editora de sua namorada) a preparação do mesmo livro. Redigi uma longa carta a Emir, dizendo que nossos padrões éticos eram diferentes e alertando-o explicitamente para o fato de que, em geral, a fraude em licitações conduz a superfaturamentos, o que seria inaceitável no âmbito do nosso projeto. Minha advertência não adiantou: o livro foi feito pela Boitempo, por meio de uma licitação fraudada, com visível superfaturamento. Fiquei muito constrangido diante da Fundação. E compreendi, definitivamente, o tamanho da arrogância e do sentimento de impunidade do nosso auto-empossado coordenador.
Sader e Ivana negam tudo. E se sentiram muito ofendidos. E, por isso, ela processa Benjamin, tendo o companheiro como testemunha. Vamos ver qual vai ser a decisão da Justiça. Mas uma coisa não dá para negar: Sader enviou, por engano, um e-mail a Benjamin achando que falava com a Boitempo. E combinava a publicação do livro. Antes da licitação. E Benjamin tem esse e-mail.
(...)
Tenho consciência de que meus próprios erros originaram os problemas. De volta da Alemanha, onde desenhamos conjuntamente o projeto, fui eu quem levou Joachim Wahl à casa de Emir Sader, a quem convidei para que preparasse os textos regulares sobre política. Fui eu quem propôs que o projeto se alojasse no LPP da UERJ. Fui eu quem entregou pacificamente a coordenação que, na origem, me cabia e era exercida democraticamente. Tudo o que posso dizer é que agi de boa-fé. Pensava estar lidando com um intelectual respeitável e uma pessoa de bem. Estava duplamente equivocado.
Atenciosamente,
César Benjamin
Leitores, isso é parte do que está lá na 4ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Território. Num outro e-mail, este de Benjamin para Ivana, lê-se: “Você sabe que o livro sobre o governo Lula custou em torno de R$ 10 mil. A licitação que você e Emir aprontaram foi uma fraude montada para desviar recursos da Fundação. Qualquer averiguação mostrará isso sem dificuldade. Tenho comigo a mensagem em que Emir combina com você a fraude.”
Ah, sim, o livro saiu por R$ 30 mil.
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