Friday, May 04, 2007

Post confessional


O hábito de não se responsabilizar pelos próprios atos tem várias modalidades. Uma das mais usadas é a doença mental. Vide o Rabino Sobel. Mas o caso Sobel sequer é relevante dentro do mar de abusos que a psiquiatria moderna produz. Na minha família existe o mito da doença mental. Minha avó se matou, ela sofria realmente de uma depressão profunda e talvez coisa pior. Passou boa parte da vida na Doutor Eiras tomando choque. Eu a adorava e nunca notei que havia algo errado com ela. Minha avó morreu há mais de vinte anos e, aparentemente, era realmente doente. Somos nove netos e a psiquiatria achou por bem encontrar a "doença", que eles garantem ser hereditária, em 4 de nós e na minha mãe e uma tia. Fui acostumada, desde cedo, a quando ficasse triste tomar um prozaczinho. Tomava um pé na bunda ( e Deus sabe que foram vários ), ficava triste e minha mãe dizia: é melhor ir ao Dr. X e acertar o medicamento. Fui criada para acreditar que não era responsável pelos meus atos. Minha vida só começou a andar para frente quando entendi que não havia doença nenhuma, que eu era a única responsável pela minha miséria e que a doença era uma desculpa para não fazer nada. Me libertei e hoje vivo uma vida produtiva e feliz. Outros não tiveram a mesma sorte. Seduzidos pela conversa psiquiátrica, segundo a qual remédios são a solução para qualquer decepção, conhecidos meus abrem mão de sua vida em função de uma doença que não existe. Conheço especificamente três homens ( um de 40, outro de 30 e outro de 32) que vivem neste mito. Conheço bem os três: são talvez as pessoas mais egoístas que já conheci. Incapazes de fazer qualquer coisa por alguém, vivem presos a um ressentimento invejoso em relação àqueles que conseguiram qualquer coisa na vida. Num deles o estrago é medonho: garoto lindo na juventude, tornou-se feio e ressentido. Enorme de gordo, não faz nada para melhorar o corpo e a mente. Gentileza, favor etc são palavras que inexistem em seu vocabulário, para ele se a farinha é pouca seu angú primeiro. Tendo algum dinheiro de família, aproveita a doença para viver as custas dos outros. O dinheiro acabou e ele continua nessa. Sempre foi mal educado, agressivo e vazio. Mas a família sempre o mimou e tratou como um coitado e um gênio mal-compreendido! Uma vez chegamos na casa dele, várias mulheres carregando pacotes de carvão para um churrasco. Ele estava na piscina fumando e nem lhe passou pela cabeça se oferecer para ajudar. Quando reclamei com a mãe dele ela disse: ah, deixa ele, ele está tão bem hoje...
Tenho visto este menino ( agora um homem) sendo tratado assim há anos. E minha dúvida é: seria ele uma vítima da psiquiatria, que lhe justifica a falta de caráter, ou da própria família que não o educou para não se aborrecer.
Num país em que ninguém quer assumir suas responsabilidades esta é apenas mais uma estória, mas quantas vítimas deste tipo tem produzido a psiquiatria moderna? Quantas pessoas estão abrindo mão de suas vidas em função de uma doença que não existe? Quantos pais deixam de educar seus filhos por medo do confronto? Quantas pessoas não tomam remédio por medo de enfrentar a dor? E tudo isso com a conivência de uma psiquiatria que vive da percentagem que ganha por remédio receitado.
Nosso mundo está doente, mas a doença não é psiquiátrica, é egoísmo mesmo...

Oriane

5 comments:

@David_Nobrega said...

Se você contar isso a alguém da minha família, eles (eu incluso) vão dizer algo como:
"Nada que uma porrada bem dada não resolva..."

patricia m. said...

Oriane, muito oportuno o seu post. Nao sei se voce leu nas paginas amarelas da Veja, mas a entrevista foi justamente com um psiquiatra defendendo a aplicacao de anti-depressivos. Eu particularmente sou totalmente contra, a nao ser em casos totalmente comprovados de doenca mental.

Hoje todo mundo toma prozac. Mesmo quem nao precisa, eh ridiculo. Fluoxetina manipulada esta ai para quem quiser tomar.

Frodo Balseiro said...

Oriane
Excelente post! Embora trate de uma situação particular, esse problema existe em toda família, ou grupo de amigos.
Parabéns
Frodo

Anonymous said...

Seu depoimento é lúcido e corajoso e, com certeza, faz pensar sobre o abuso feito tanto das teorias quanto das práticas psi na nossa sociedade. Não há dúvida de que a patologia é generalizada e engloba o próprio sistema de tratamento. Parabéns por ter escapado desse círculo vicioso e ser um exemplo que pode incentivar outros que desejem mais que tudo serem os reais autores de suas próprias vidas.

João Bosco said...

Parabéns pela blog, esta é a primeira visita que faço.
Sobre psiquiatria, devo dizer, que é uma especialidade médica muito ingrata.
Extremamente necessário nos dias de hoje, somente agora consegue através de grandes feitos da tecnologia, mostrar os respectivos receptores e substancias efetoras em seu sitio de ação.
Entretanto ela tem nos dias de hoje, efetiva ação nas ações de saúde, melhorando a vida de muitas pessoas. Foram médicos psiquiatras, os que mais lutaram para desinternar milhares de brasileiros, presos e abandonados nos antigos manicômios.
Concordo com você plenamente na referencia da importância da família e da sociedade, ao lidar com pessoas ditas, pacientes psiquiátricas. Há muita gente escondendo-se atrás de um rotulo de problemático.