Saturday, May 26, 2007

A Xerox e a a lei de Gerson


Imagem: a lei de Gerson ou a formação moral do povo brasileiro

Este post é uma continuação do outro abaixo. Vou falar sobre a praga da xerox nas Universidades. Há uma verdadeira máfia das cabines de xerox e uma indústria de xerox para alunos. Seria isso certo? Claro que não! Uma xerox de um livro esgotado, ou que não tenha no Brasil, está certo. Agora, xerox de livro que está no mercado é errado. Nós bem sabemos o quanto os editores que editam cultura sofrem. Muitos acham que todos os editores são capitalistas selvagens querendo se dar bem em cima dos pobres estudantes, só que isso não é verdade. Há os grandes editores que, em geral, só editam lixo, e os pequenos que são idealistas mesmo. A maioria dos pequenos editores que conheço tem um emprego para sustentar a editora. Aí publicam, com muito custo, um livro fundamental. Mandam para um professor que o adota, põe na xerox e pronto: nunca mais ninguém vai comprar. Um detalhe: vejo muitos alunos que só usam xerox comprando com prazer os Paulos Coelhos da vida...
Alguns alunos não compram livros, nem um livro sequer, durante a faculdade. Há outros que não comprarão um livro durante toda a vida.
Há um mito de que a xerox democratiza a leitura. Aí, se você é contra a xerox é porque está contra os pobres que, coitadinhos, não podem comprar livros. Todos compram o tênis da moda, o celular, mas recusam-se a comprar um mísero livro. Vejo-os todos no botequim da esquina tomando cerveja, mas livro eles não podem comprar.
Tenho um amigo muito pobre, um grande acadêmico que entrou na faculdade sem saber português direito. Pegou uma apostila de português e se acabou de estudar. Hoje fala e escreve com perfeição em várias línguas. Sempre detestou a xerox, pegava livros na biblioteca ( onde a maioria dos estudantes não entra, a biblioteca vive às moscas) ou comprava-os nos sebos, que é o que eu faço. Minha universidade é cercada de sebos, com uma escolha ampla, um livro custa às vezes menos do que uma xerox. Mas não, querem a xerox porque dá a impressão de que estão passando por cima do capitalismo selvagem. Por capitalismo selvagem essas antas entendem o pobre editor que se vira como pode para publicar livros de cultura.
Eu não entendo esta lógica. Quando dei aula na faculdade pública, indicava apenas livros que podiam ser encontrados em sebos. Quando o aluno era muito pobre e muito bom, eu dava o livro. Mas os alunos protestavam, queriam a cópia assim mesmo! Havia um aluno do PSTU que fazia questão de ir com roupas sujas, fedendo, e dizia que livro era coisa de capitalismo, que a xerox era a democratização da cultura. Aliás, péssimo aluno, tão viciado em clichês que não conseguia pensar.
Meu amigo "duro" ganhou vários livros de professores. Ele tem verdadeiro amor ao livro e por isso não gosta de xerox.
Aliás, Schopenhauer tem um livro muito interessante sobre isso: "Sobre livros e leitura", foi editado por uma mini-editora maravilhosa, do sul. Sabem o que aconteceu com essa editora? Pois é, faliu! O livro é maravilhoso e ensina também o amor ao livro como objeto. Enquanto não ensinarmos o valor do livro para os alunos, não seremos capazes de tocá-los quanto ao valor da cultura. Enquanto essa cultura de "por que fazer quando podemos pegar dos outros" existir, nós não iremos a lugar algum. Essa é a mesma lógica que faz com que os esquerdopatas batam palminhas para a quebra de patentes de remédios. A velha esperteza brasileira, o jeitinho, aquela idéia fixa de se dar bem em cima dos outros.
A Cultura da Xerox não é apenas imoral, é perigosa também, pois os alunos são educados desde cedo para burlar a propriedade intelectual. E depois disso, para que as empresas e editoras vão investir em conhecimento? O que pode estimular uma indústria farmacêutica a gastar milhões em pesquisa para não poder recuperar depois? Para que vamos traduzir e publicar clássicos para vender 100 exemplares? Os alunos não sabem ler em outras línguas e precisam da tradução. Será que eles sabem que isso custa dinheiro e o quanto custa? Até sabem, mas mesmo assim preferem a xerox, uma opção consciente pelo roubo!

ps: eu sei que não deveria usar a palavra xerox e sim reprografia, mas é assim que é popularmente conhecida.

Oriane

3 comments:

Serjão said...

Oi Oriane;
Em tese eu concordo com vc mas existem algumas exceções. Eventualmente vc precisa de um capítulo do livro a fim de publicar um trabalho e, como as bibliotecas não funcionam num horário cheio, vc tem que recorrer ao xerox. Algumas vezes em algum proceso seletivo a bibliografia recomenda um capítulo ou outro da publicação, tonando-se inviável a sua compra apenas por isso. Mas concordo que a Xerox da íntegra do Livro é realmente uma vergonha.
Coisas de Bananópolis

Abração

A Furiosa said...

Você tem razão, Serjão. Não falei disso no post. Estava apenas falando de quem copia. Na minha faculdade é muito comum cursos inteiros sobre um livro. Vejo inúmeras pessoas com a cópia de "O tempo redescoberto" num curso de dois semestres sobre o livro. Acho um acinte!
Mas você tem razão no que disse. Ainda mais quando os livros indicados são um lixo! Mas copiar livro todo, mesmo sendo lixo, eu não concordo.

patricia m. said...

Oriane, aqui nos Estados Unidos eh proibido e todo mundo respeita a lei. Sera por que? :-)

Alias, compramos livros nas universidades, e se nao os queremos depois, eh facil vender para outros estudantes que estao fazendo o curso posteriormente.

Lembro-me ainda de meus tempos de "undergrad" na UFMG: como era das poucas que sabia ingles na classe de eng quimica, ia a biblioteca e pegava todos os livros do curso EM INGLES e ficava com eles por 1 semestre inteiro, ja que ninguem os queria. Os livros em portugues se esgotavam rapidamente da biblioteca, haha. Isso porque as pessoas tinham que fazer uma prova de ingles para entrar na universidade, estranho nao?