Sunday, May 20, 2007

Lula e Pangloss




Hoje deparei-me com uma estranha coincidência: estava há dias querendo escrever sobre Lula e o professor Pangloss, mas eis que José Murilo de Carvalho no Globo de hoje faz essa associação. Não chegam a ser novidades expressões e bravatas como "nunca antes neste país" ou "a nossa saúde está próxima da perfeição". Elas tornam essa associação quase natural.
Não sei se vocês se lembram do professor Pangloss, criação de Voltaire para sacanear Leibniz. Pangloss é o guru de Cândido e é adepto da teoria de Leibniz de que este mundo é o melhor no melhor dos mundos possíveis. Um otimista que beira a estupidez. A teoria de Leibniz é que Deus desenhou este mundo com perfeição e aqui só acontece o que é o melhor. Cândido cai nessa esparrela e tem a Pangloss como um guru. Cândido só se ferra, passa pelas mais terríveis provações junto a Pangloss com este lhe dizendo: "tudo vai pelo melhor no melhor dos mundos possíveis”. Maravilhoso o final onde Cândido, depois de passar a vida esperando por Cunegonde, a reencontra velha, desdentada e barriguda.
Voltaire era muito cruel quando queria. Sabe lá Deus como encontraremos este país quando o apedeuta finalmente apear do poder.
Por favor, não pensem que não gosto de Leibniz, eu adoro! Grande matemático e filósofo, ele é um dos grandes da humanidade. Sua filosofia é impecável. Infelizmente em sua época os filósofos ainda acreditavam haver necessidade da participação de Deus em todos os sistemas filosóficos. Daí porque Descartes cometeu seu "gênio maligno" e também seu "Deus garantia" assim como Leibniz cometeu seu "melhor mundo possível". São tentativas de explicar questões que ainda hoje escapam ao nosso intelecto. Há uma verdade como correspondência, como garante o "Deus garantidor” de Descartes, ou seja, há uma correspondência entre o que pensa o sujeito e o objeto? Ou ainda de acordo com o problema de Leibniz, o que explica o mal?
Se o mundo é, ou não, como o imaginamos e construímos, se nossa idéia de bem e mal é correta, não temos ainda como saber. Não sabemos ainda como foi nossa criação e parece certo que este esforço do conhecimento deve unir físicos, cosmólogos, filósofos, estudiosos da mente.
Quando vemos a situação do país, nosso presidente idiota, nosso povo ignorante, percebemos imediatamente o espaço que nos separa de um outro mundo, aquele que anos atrás não tinha a realidade das máquinas e dos inacreditáveis avanços de 150 anos para cá. Este tempo ainda é muito próximo. O que explica ainda o analfabetismo, a pobreza extrema, a ignorância? Vamos recorrer a um Deus para isso? Ou vamos dizer que este é o melhor mundo possível? Até quando precisaremos recorrer ao Deus ex machina para explicar nosso mundo, justificar nossos erros?
Lula é o professor Pangloss porque ambos se recusam a ver a verdade: o mundo não é perfeito, precisa de trabalho para conquistá-lo, é preciso a frustração do erro, a humildade do aprendizado. Lula acha-se um Deus, acha que não há nada que precise aprender, acha que atingiu o “ápice do ser humano", falta-lhe o mínimo para aprender: determinação, coragem, trabalho duro, humildade, vontade. Pangloss não merece esta comparação, era apenas um idealista, mais um destes bem intencionados um pouco ridículos. Lula não é nada disso, é preguiçoso, arrogante e quem sabe se não é pessimamente intencionado.
Não acho Lula engraçado como Pangloss, acho triste, sinto vergonha. Se ao menos ele tivesse qualquer ideal, eu poderia simpatizar com ele. Mas nem isso ele tem a me oferecer.

Oriane

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