O boca-de-clichê é um cara que não tem a menor idéia do que está dizendo. Se alguém pergunta o que ele quer dizer com isso ou aquilo, engasga, desconversa ou, na mais comum das hipóteses, sai dando patada, fingindo-se de ofendido. Essa turma apresenta claros sintomas de sensibilidade histérica. Tudo os ofende, tudo os oprime, nada os satisfaz, exceto a bajulação bovina, a aquiescência abjeta. É a patota dos sem-limite...
São crianças sem chinelada, adolescentes sem freio, eternos rebeldes sem causa, oligofrênicos, parasitas das idéias alheias, cujos significados evidentemente não sabem explicar - o estudo passa longe de suas vidas -, embora os cuspam, a torto e a direito, como se fossem vespas assassinas.
O boca-de-clichê do século XIX lia, ao menos, a introdução dos livros, além do sumário e do prefácio. O boca-de-clichê de hoje, nem isso: limita-se às orelhas, pois o que está escrito na quarta capa é longo demais e dá bocejo.
O boca-de-clichê lembra muito os simpáticos meninos que trabalham como guias turísticos improvisados -uma figura muito comum no nordeste -, aqueles, espertíssimos, que ganham uns belos trocados em troca de uma ladainha fantástica, por meio da qual eles narram, sem parar um segundo, todas as informações históricas, essencialmente pitorescas, a respeito de um determinado lugar ou monumento.
Aprazíveis aos ouvidos do turista atento - e quase sempre encantado perante enxurrada verbal tão vibrante e ritmada -, esses meninos não entendem patavina do que decoraram, mas repetem direitinho o texto porque esse é seu ganha-pão.
Com eles, tudo bem, o decoreba é um honesto meio de vida, eles não se arvoram em historiadores ou sociólogos. Com o boca-de-clichê, tudo mal, dado que acredita - piamente! - que conhece a fundo o que proclama aos quatro ventos, que esse é o texto da sua vida, sua razão de ser, sua identidade psicossocial.
O pior de tudo é que o boca-de-clichê freqüenta todas as faixas etárias, dos oito aos cem anos...
Marx, o Groucho
4 comments:
Marx, o Groucho
Tenho pensado bastante sobre essa questão da opinião.
As vezes acho que é complicado dar opinião sobre alguns assuntos, por mais que se leia, discuta, pesquise sobre o mesmo!
Parece que quanto mais conhecemos sobre um assunto, mais nuances mais sutilezas descobrimos, que fazem com que nossas certezas as vezes solidamente edificadas ao longo dos anos, balancem.
Por isso acho que cliches incomodam tanto! Parece que a vida, as decisões, as classificações são fáceis, quando sei que não são>
Por isso a abundância de bocas de cliche como você chama.
Nada mais fácil do que repetir uma imbecilidade consagrada, no mais das vezes estúpida, mas que tem o suporte do senso comum, da ignorância coletiva.
O pior de tudo é que o tal boquinha aí frequenta blogs: sempre concorda com o autor, por mais asneira que a gente escreva. Sempre acha lindo. Sempre o autor é um mimo de pessoa...
é isso mesmo: às vezes, quando menos se conhece um assunto, mais fácil parece ser falar com propriedade sobre ele... é o que acontece, por exemplo, com minha profissão. vira e mexe, leio e escuto críticas disparatadas. não que haja profissões ou temas que devam ficar isentos de críticas. nem Deus foi ou é isento delas. mas são críticas que na verdade mostram o quanto as pessoas estão por fora do assunto, distantes da realidade. mas isso tem solução? acho que não...
Os homens sabios reconhecem a propria ignorancia, como Socrates, enquanto os asnos como nosso presidente se vangloriam da ignorancia e se dizem sabios. Incrivel nao?
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