Concordando em gênero e número com Oriane - não existe concordância de grau... - , deixo cá, uma vez mais, uma análise sobre as agruras gramaticais de Banânia.
A norma culta, ao contrário do que muita gente julga, não é o ápice, o pico de uma pirâmide de registros lingüísticos a ser conquistados. Embora se possa dizer que, pelo caráter temporal dos passos de uma aprendizagem, ela seja uma tardia aquisição do indivíduo, trata-se mais uma descida, uma escavação em busca das raízes, das fundações do edifício verbal do que a sobreposição de ornamentos num telhado.
Apreender (assim mesmo, com dois "e"), estudar a norma culta permite o domínio dos operadores lógicos do intelecto em sua potência máxima, assim como, por exemplo, alguém sabe que praticar o balé clássico é base indispensável para a aquisição de outros estilos. A idéia é bastante pertinente, uma vez que, contrariando certos esquemas “mudernos”, é do mais completo, do melhor e mais essencial que se estrutura o conhecimento. Daí se justifica, por exemplo, o conceito de “teoria” (do grego Theos, Deus), o abstrato arcabouço de coordenadas que facilita a abordagem empírica dos fatos: não é preciso reinventar a roda toda vez que se vai construir um carro.
O que as pessoas não entendem é que a frase “nada se cria, tudo se copia” é a máxima das máximas: o que percebemos no objeto está nele desde sempre e a Razão – com maiúscula... - é o meio que nos permite “perceber” a gestalt implícita nas coisas. Essa é a causa da erva-daninha da atualidade, o “relativismo” ou “escolha você mesmo o sabor”, ou, ainda, meu “ego constrói o mundo à minha sua imagem e semelhança”, péssima paródia, movida a hybris, das prerrogativas divinas. Talvez essa distorção psíquica explique o “furor democrático pela votação”, o princípio do consenso, a estatística que vai contabilizar, como se fosse um cérebro autônomo, todas as excrescências subjetivas da turba-multa, tentando extrair, da quantidade, a qualidade do “denominador comum”, a “verdade relativa” de um umbigo tresloucado - diretrizes calcadas em valores quantitativos não podem gerar conclusões qualitativas. É um método, muito cômodo, de se arrancar nada de coisa alguma: pela lógica, como poucas pessoas se dedicam ao exercício dos neurônios, o resultado da votação será sempre o triunfo da mediocridade. A soma de nulidades individuais será sempre a expressão coletiva da ignorância elevada à categoria de “insight”: a million of flies can’t do the service of a wise man.
A propósito dessa entronização acachapante da quantidade sobre a qualidade, há um trecho brilhante sobre o assunto, numa citação de Ryan McMaken, editor do Western Mercury, tirada do site de Lew Rockwell:
At times like these I think back to my high school math teacher who when encountering a class unified behind an incorrect answer would declare, "manure must taste great 'cause a million flies can't be wrong."
Em suma: a norma culta é aquilo que se conscientiza a partir da observação do material lingüístico disponível. E, acrescente-se ainda, é “culta” em oposição à aquisição “natural”, ou seja, exige-se de quem aprende um esforço, uma atividade, uma disciplina para obter esse conhecimento, diferentemente de uma criança de cinco anos que fala pelos cotovelos, mas não tem a mínima noção do que está fazendo: aprendeu, literalmente, de ouvido... E aí, vota-se no Kaiser, espelho meu... Não será esta uma nação de imaturos???.
Imagem: Linus, dos Peanuts, e duas moscas brasileiras na fila para votar...
Marx, o Groucho
1 comment:
Minhas queridas, a citação é profundamente verdadeira: a bosta toda que está aí deve ser muito boa mesmo, afinal de contas, milhares votaram no cocô do bandido!
Post a Comment