Thursday, April 12, 2007

Anarquista ou monarquista: eis a questão

















Imagens: Lula, num momento iluminado, e D. Luiz, um dos pretendentes ao trono.

Esta semana um anônimo postou no blog dizendo que não achava nosso blog anarquista. Achava elitista mesmo. Não tirei o anúncio da nossa anarquia atribuída a Deus, pois as que aqui escrevem são de fato anárquicas. Quem nos conhece sabe que não há outro epíteto que nos sirva melhor. Por outro lado, sou uma leitora assídua de Bakunin, Tolstói e de toda a turma da pesada. Tolstói é uma imensa inspiração para mim, por isso mesmo me situo como anarquista cristã. Acredito piamente que se todos amássemos uns aos outros a situação não estaria deste jeito e não haveria a necessidade de um Estado regulando tudo. Mas sou obrigada a concordar com o anônimo: estamos bem mais para monarquistas do que para anarquistas. Eu votei na monarquia parlamentarista na época do plebiscito. Marx também.
Daquele plebiscito tomei uma raiva determinada daquele ator barrigudo (cujo nome desconheço) e daquela propaganda absurda pelo presidencialismo. O lema daquela idiotice era: você vai deixar roubar seu voto? E aparecia o tal ator barrigudo botando o voto no bolso com uma cara sugestiva e dizendo isso. Dispensa explicações essa cretinice. Serve perfeitamente para o povão que não tem intrumentos para perceber como o parlamentarismo é um sistema sofisticado de governo. E mais, que o voto distrital seria uma solução inteligente para um país das dimensões do nosso. O povão acha que votar diretamente no presidente é a única forma de se sentir votando. Aliás, muitos parecem ter a estranha ilusão de que a escolha da maioria é a melhor escolha, como demonstrou Marx, o Groucho, usando a divertida metáfora: "manure must taste great 'cause a million flies can't be wrong."
Seria difícil entender a sutileza do parlamentarismo, ainda mais com a forma canalha como a campanha presidencialista foi feita. Deveria ter havido um processo de propaganda enganosa contra aquilo. Não foi uma campanha informativa, foi manipuladora e mentirosa. Aliás, tentaram repetir a cretinice no plebiscito das armas, mas não sei bem por que não colou. Aquela coisa de chamar a bancada a favor do porte de bancada da bala foi triste! E dizer que quem era a favor de ter armas era contra a paz? E aqueles artistas todos dizendo: não quero armas, sou da paz! Ou seja, votar contra eles era ser contra a paz. Manipulação pura!
De qualquer forma, além de parlamentarista, sou a favor da monarquia, sim. Acho melhor ter um idiota que foi preparado a vida inteira para governar governando do que um idiota semi-analfabeto que não entende nada de administração. Idiota por idiota, prefiro o mais preparado. Mas nem por isso deixo de achar todos idiotas. Gosto de um escritor de ficção chamado Douglas Adams. Na galáxia de Adams só governava aquele que não queria o poder. Eram arrastados para a presidência. Se uma pessoa deseja o poder é porque já há um problema no caráter. Desejar o poder, em geral, significa o desejo de prevalecer sobre os outros. A idéia de que os governantes buscam o bem de todos é utópica e fala de governantes muito raros e que não existem mais. As forças que dominam hoje, muito mais fortes que o governante, impedem algum espírito mais arrojado de assumir o poder com desejos mais altruístas.
A monarquia resolve um de meus problemas: aquele herdeiro nem sempre desejou o poder. O poder, entretanto, corrompe. Por isso a maioria das monarquias convive com o parlamentarismo. Com isso, quem viaja para cima e para baixo representando o país é o chefe de Estado. Como Nobres costumam ser ricos, não há o perigo do Estadista se deslumbrar e ficar dando a volta ao mundo e pagando mico às nossas custas. Já fez isso quando jovem com o dinheiro da família. Na chefia do governo teremos o primeiro ministro, líder do partido mais votado. Assim, ao votar no cara que lhe dará satisfação em seu distrito, você ainda está, indiretamente, escolhendo o chefe de governo. Se o chefe de governo mostra-se inepto, acaba caindo. O chefe de Estado nunca poderá por o país em risco, ele é mais um diplomata do que qualquer outra coisa. O parlamentarismo é o melhor possível dentre as escolhas ruins! O sitema de freios e contrapesos é mais eficiente. Aliás, num dia desses vou escrever sobre como funciona este sistema aqui.
Mas qualquer governo me aborrece. Mesmo sabendo que ele procura regular as relações entre os cidadãos, detesto ver-me cerceada pelo Estado. Detesto pagar impostos, detesto ser proibida de fazer coisas sem concordar com isso. Acho o estado uma afronta ao indivíduo. Nivela a todos por baixo e acaba nunca oferecendo o que precisa oferecer. Detesto qualquer governante e concordo inteiramente com Proudhon: "Todo aquele que levantar a mão sobre mim para me governar é um usurpador, um tirano. Eu o declaro meu inimigo". Mas sei que abolir o Estado, dado o nosso paupérrimo grau de civilização, ainda é uma utopia.
Quando a gente detesta o governante, pessoalmente, e ainda o acha estúpido, a questão gera uma depressão profunda e uma enorme desesperança.
Minha resposta ao anônimo ficou imensa, mas sempre me vejo obrigada a explicar este meu estranho anarquismo.

Oriane

6 comments:

palavras outras.blogspot.com said...

Olá Oriane, (ou deveria dizer furiosa?)
Esta é a minha primeira visita e achei ótima a sua resposta. Parabéns por postar sobre a propaganda marxista nas escolas. É um cancro típico do subdesenvolvimento tupiniquim.
Visite o "Em outras palavras" (www.palavrasoutras.blogspot.com) em Setembro último postei sobre o sério e importante trabalho do pessoal do blog "Escola sem Partido", e há inúmeros artigos sobre o lamentavel Estado brasileiro. Apareça.
Saudações anarquicas,
Freeman

patricia m. said...

Oriane, voce nao se classificaria entao como "libertarian"? Acho anarquista realmente um termo digamos assim pesado demais. Anarquismo - como ideologia - me remete a outros conceitos...

BTW, eu nao sou o anonimo, so estou discutindo o comment dele e sua resposta a ele...

Daniel Pearl Bezerra said...

Convido vc a ler a entrevista bombástica do ex-repórter da TV Globo, Rodrigo Vianna: demitido após se recusar a assinar um abaixo-assinado defendendo a cobertura eleitoral da emissora, fala com exclusividade ao Fazendo Media e ao blog "Desabafo País" confirma que, de fato, existe interferência política no Jornal Nacional. No final do ano passado, Rodrigo denunciou as distorções praticadas pela TV Globo para prejudicar a campanha de Lula e favorecer Geraldo Alckmin. Mas não aconteceu apenas durante as últimas eleições. Nesta entrevista, Rodrigo conta dois outros episódios em que foi vítima de censura e se pergunta: "Será que a Rede Globo fez uma opção parecida com a da Igreja Católica de Ratzinger: ficar mais coesa, mas também menor e mais reacionária?" Acesse o DESABAFO PAÍS: http://desabafopais.blogspot.com Um abraço, Daniel Pearl.

A Furiosa said...

Sim Patrícia,
vc tem toda a razão.
Somos libertárias.

Um abraço
Oriane

Anonymous said...

Sra. Oriane:
Não duvido que tenha lido autores Anarquistas. Só questiono que o seu
"Anarquismo" não é Anarquismo em hipótese alguma. Não que isso importe! Só achei estranho. Isso não quer dizer que não tenha apreciado a sua argumentação.

A Furiosa said...

Caro Anônimo,

a Patrícia m. matou a charada: somos libertárias...

Mas que eu tenho um pé forte na Monarquia...bom, isso é insofismável.

De qualquer forma, detesto rótulos, então acho que não sou nada mesmo.
Um abraço

Oriane