Sunday, December 10, 2006

A cultura do ódio


Diane Arbus - Menino com Granada.

A respeito do post abaixo de Marx - Mais uma radiografia do futuro de Banânia -

Já havia falado aqui neste blog do susto que tomei ao ler duas cartilhas de Filosofia para segundo grau. O assunto era espoliação, exclusão, cidadania etc, nada de Filosofia. Os livros indicados eram Marx, Saussure, Galeano, vejam só, como se Galeano fosse filósofo...
Pois bem, esta semana li a PCN - Parâmetros para o ensino de segundo grau. Publiquei uma parte dos meus comentários no Filósofo de Mau Humor.
O documento nem era tão ruim. Mas na própria lei já percebemos o perigo. Os artigos pertinentes à Filosofia e Sociologia só falam em cidadania. Parece ser este o único assunto a ser tratado no currículo. A persistência me chamou a atenção. O currículo de Filosofia parece tender a ser uma extensão da Sociologia sendo que ambas devem tratar de cidadania, distribuição de bens na sociedade, igualdade entre os homens, e por aí vai. O interessante é que o documento já parte dos princípios: a sociedade é desigual, nossa sociedade é excluída, deve-se lutar pela mudança deste modelo - o capitalismo-. Simples assim, sem disfarces, para qualquer um que leia.
Há passagens como pérolas que propõem o aperfeiçoamento enquanto pessoa humana (sic), o que diabos é isso???. Ficaria fascinada se não me lembrasse que isso é o que chamam parâmetros para o ensino de filosofia para o segundo grau. Meu Deus, o que essas crianças vão aprender? A ter ódio? Ressentimento? Será que as crianças da escola pública já não têm isso em excesso? Elas não vão aprender a contrapor, o que deveria ser a função da Filosofia, mas a pensar todas a mesma coisa. Todas unidas pelo laço do ressentimento.
Se temos alguma dúvida é só olhar a situação atual. Todos se sentem excluídos, principalmente porque esta é a nossa visão de povo da América Latina. Eu sou mais realista, não me sinto excluída, me sinto bárbara mesmo. Mas mesmo com algumas exceções, é assim que somos ensinados a perceber a realidade. Este adestramento vem sendo perpetrado há mais de 10 anos, sendo que suas influências, o pensamento de Gramsci e sua turma da pesada, já se insinuava há bem mais tempo.
A noção que se teve de educação é, há muito, ligada à inclusão, igualdade etc. Não que esses conceitos estejam errados. Nada disso, é bom promover, na medida do possível, a igualdade, mas trata-se de igualdade perante o Estado. As pessoas não podem ser tornadas iguais à força, pois elas são naturalmente diferentes. Aqui queremos igualar as pessoas à força sem igualar sua relação com o Estado. Uns são mais iguais que outros. Claro que isso fala dos mais ricos, mas fala também dos amigos do Rei. Esses, muito mais do que os ricos, sâo mais iguais que os outros.
O fato é que o incitamento das classes baixas contra as altas já vem ocorrendo há bastante tempo. E o resultado, junto ao fato de que a diferença entre ambas só fez crescer, é a violência que estamos vendo. Para as classes baixas o inimigo é todo aquele que tem alguma coisa. Qualquer coisa. Não importa se você se mata de trabalhar todo dia, você é o inimigo porque conquistou algo. Os pobres roubam os um pouco menos pobres. Como no assunto do post que coloquei outro dia, a questão passa a girar em torno da inveja.
O que estamos ensinando em nossas escolas, por culpa dos Darcys Ribeiros da vida, é a invejar aqueles que, por esforço ou sorte, são mais favorecidos que nós.
Esse é o discurso por trás da "cidadania", reconhecimento da "desigualdade na distribuição das riquezas", e "busca de um mundo melhor".
Todos queremos um mundo melhor, trata-se de um proposta unânime. Mas isso não se consegue incitando o ódio, mas apenas o amor. Podemos recorrer a São Paulo - I Cor.13 - o amor acima de tudo é o fundamento da vida. Quando ensinamos nossas crianças a odiar estamos decretando nossa própria morte. Regimes calcados no ódio nunca trouxeram prosperidade.
O problema não é político, é espiritual.
Karl Marx vivia às custas de Engels, pois este era o seu ideal, viver às custas de algo mais forte, sustentado por sua própria ideologia. Ninguém me convence que ele não tinha uma terrível inveja de seu protetor.

Oriane

Dêem uma olhada no livro de Paul Johnson, Os Intelectuais. O sujeito era realmente um baixo-astral só... - Marx, o Groucho (o verdadeiro!)

1 comment:

Anonymous said...

Dona Furiosa, o post está ótimo!

Como eu sou menos capaz de escrever que a Senhora, estou com inveja! Como a gente faz para tomar dos outros a habilidade de escrever? hmmmm Não sei... A gente enche o mundo de porcaria e inventa uma justificativa para dizer que é melhor que tudo que já se viu antes?

O que mais me preocupa é que o princípio de igualdade perante a lei perdeu completamente seu conteúdo. Qualquer manual de Direito Constitucional ensina que a igualdade consiste em "tratar desigualmente os desiguais, na medida em que se desigualam". Todos apelam ao gênio de Aristóteles para fundamentar isso e ninguém discute!

Bom. Depois lerei o outro blog. Agora não tenho mais tempo.