Monday, July 09, 2007

Tão certo como o céu nos cair sobre a cabeça!


Voltando à saudável prática de dar nome aos bois, lá vamos nós mexer em uma terrível casa de marimbondos: ninguém tem a obrigação de gostar disso ou daquilo, muito menos por decreto. Deu para entender?
Examinemos a questão, tendo em vista seu exato sentido: pessoa alguma TEM de gostar de homossexual, heterossexual, pansexual, branquela, negão, careca, loura burra, mpb, música clássica, batata baroa, filme brasileiro, barata cascuda, bienal de Sampa, ateu, fanático religioso,
balada e otras coisitas. Deu para entender o espírito da coisa?
Ninguém é obrigado a NADA, por obra e graça do livre-arbítrio, pilar irredutível da dignidade humana. Gostar ou não gostar do raio-que-o-parta é foro íntimo e ponto final. Por incrível que pareça, o mandamento crístico refere-se a AMAR, não a GOSTAR: são verbos tremendamente diferentes, ora pois! Explicamos: entenda-se por mandamento uma lei ditada pela estrutura natural do SER que, se desobedecida, traz conseqüências tão certas como dois e dois são quatro - o velho taoísmo também entende isso cristalinamente. Da mesma forma, se jogarmos uma maçã para cima sem sairmos do lugar, a fruta, mesmo a "contragosto", nos cairá sobre a cabeça - como o céu cairia sobre os gauleses Asterix e Obelix, hehehe!
É preciso entender a fundo essa questão de "leis", "gostares" e "amares". Amar se refere, sempre, à instância da lei natural, com todo seu cortejo de causas e efeitos universais, sobrepondo-se, assim, a motivações particulares, egoístas ou circunstanciais. Dessa forma, pode-se amar sem gostar, não é incrível e racionalissimo? Pode-se detestar, por exemplo, um japa e amá-lo profundamente, salvando-o da boca de um jacaré no alto Xingu - xingue-o depois! Amar dizendo palavrão tem mais valor do que ser bonzinho em meio a uma dúzia de aplausos pré-datados.
Santo Agostinho entendeu profundamente essa sinuca de bico ao dizer que deve-se odiar o pecado e amar o pecador. Contudo, nem mesmo a amar somos obrigados, mesmo sabendo das implicações a que estaremos expostos se optarmos por uma outra via.
Em suma, se comer chocolate loucamente for a derradeira sina do indivíduo, pode-se escolher a obesidade. Se espancar uma pessoa indefesa for um impulso sadicamente prazeroso, pode-se escolher uma temporada na cadeia. Pode-se fazer qualquer coisa, enfim, só não se pode reclamar da sorte ao final de tudo, pois o jogo da existência tem regras próprias, queiramos ou não. Esse é o significado de se assumir as próprias escolhas, como gente grande...

Imagem: Asterix e Obelix, por Tutatis!
Marx, o Groucho

2 comments:

Ricardo Rayol said...

entendi sem dar. e está coberta de razão, não somos obrigados a porcaria nenhuma.

maria alice said...

O problema não é gostar ou deixar de gostar. A questão é a chatice moralista de determinadas pessoas.
Mais pedanteria do que outra coisa. Sacou?