Friday, August 10, 2007

A idiotia útil...


A expressão é antiga, mas ainda muito saudável: idiotia útil. Trata-se do outro nome de "massa de manobra", "populacho", "bucha de canhão", ou, mais recentemente neste blog, "orcs", em homenagem ao grande livro de Tolkien, exímio narrador da influência dos arquétipos nas escolhas humanas.
Por motivos bastante precisos e inevitáveis, toda sociedade mais complexa apresenta uma camada social menos favorecida, em maior ou menor escala, sem acesso às letras - olha a metonímia aí, gente! - necessárias à expansão do intelecto, que propicia o desenvolvimento de um pensamento crítico eficiente. Trocando em miúdos, esse segmento populacional segue mansamente os líderes de uma suposta "elite", os que tem a faca e o queijo na mão para conduzir ao inferno a "plebe ignara". Foi sempre assim, ao longo da história, com muito sangue no fim do corredor.
Quando essa "elite" é realmente elite, a possibilidade de ascensão social dessa gente é concreta, real. Pelo contrário, quando essa "elite" é apenas uma fachada hipócrita de um grupo que chegou ao poder, a tendência é manter na ignorância a turma desfavorecida, por motivos de ganância ou psicopatia.
Líderes velhacos ou psicóticos incentivam as massas a cultuá-los, fazendo-se valer, ainda que inconscientemente, do arquétipo do pai´- ou da divindade, em casos extremos -, sempre um poderoso catalisador das ações humanas. Lembremos, por exemplo, do paizinho Getúlio, do Grande Guia da China, Mao, do Comandante Fidel etc. Não importa o título em causa, - que pode variar segundo a formação cultural de cada povo: pai, mãe, irmão, guru, deus. -, o fato relevante é que esse mecanismo é tanto mais presente em situações em que a massa crítíca de ignorantes seja a mais densa possível. Esse é o caldo de cultura ideal para a implantação de um estado totalitário repleto de chupadores de idiotas úteis.
Em democracias legítimas, ninguém incentiva o culto à personalidade do mandatário supremo. Nem em monarquias democráticas existe esse fenômeno: jamais encontraremos ingleses chamando Beth II de a mãezinha, ou espanhóis clamando Juan Carlos de o paizão.
A democracia, sob o prisma de uma análise psicológica, é o regime que mais se aproxima de uma expressão coletiva de indivíduos que já tenham atingido um certo grau de autoconsciência, o que os mantém afastados de um comportamento infanto-debilóide. Com todos os defeitos que possa ter, ela ainda é um "breve" contra a tentação totalitária, em que vigora a abdicação do próprio "eu" em favor do "eu" alheio, uma escravidão involuntária.
O grau de objetividade das pessoas, e conseqüente independência, aumenta com o nível de educação honesta que elas conseguem obter na sociedade em que vivem. Se uma educação verdadeira, o processo que liberta, é substituída por uma doutrinação velhaca, o processo que aprisiona, o poder dos sanguessugas é mantido intacto. Eles sabem que o único meio eficaz de se eternizar às portas do erário é cultivar a imbecilidade do povo em proporções gigantescas. Olhem ao redor. Até o Keiser sabe disso e, a partir dessa percepção certeira, mantém o próprio discurso no mesmo nível da linguagem das pessoas que lhe dão a maioria dos votos nas urnas. Seu linguajar horrível é uma senha, uma escolha política, não um fato aleatório - a propósito disso, leiam aqui um ótimo texto de Percival Puggina.
A análise parece simples e é. No entanto, ela depende de algum estudo sobre Psicologia e, aí, caímos em um círculo vicioso: estudo, estudo, estudo, mas onde estudar se já estamos numa sociedade totalitária??? Pois é. Sniff... Buaaaá!!!

Imagem: orcs impedindo a saída de uma pessoa normal em Banânia. Em breve, no circuito...

Marx, o Groucho

1 comment:

Ricardo Rayol said...

A questão é que largo uso do bolsa-família trouxe esse conceito para dentro da sociedade. E com certeza meu pai não era ladrão e mentirosos ou anencéfalo.