Friday, June 22, 2007

Nem Mefisto é esquerdopata...


Sabem como é: esquerdistas, grosso modo, trabalham seus louros neurônios (???) a partir de uma premissa filosoficamente fajuta, posto que logicamente suicida, a de que "tudo é relativo". Nesse pântano conceitual, afogam-se a ética, a estética e tudo mais que vive e respira, ou seja, nada é coisa alguma porque, segundo essa visão caolha, o que determina o sentido do que nos cerca é o pragmatismo de uma orientação ideológica cujo traço essencial é o completo - e patológico - desprezo pelo sagrado real. Não estamos lidando com criaturas desavisadas que tomaram o rumo de um discurso torto por causa de um tremendo azar, falta de recursos financeiros, más influências do bar da esquina, arroubos adolescentes, unha encravada e assemelhados. Tais pessoas podem se recuperar facilmente em qualquer lufada do destino, não são um caso perdido. Vivem sujeitas a chuvas, trovoadas e potes de ouro no fim do arco-íris, como qualquer mortal. São gente normal, incluindo-se nessa normalidade, é claro, as pontuais neuroses que pautam a vida cotidiana.
Exatamente pelo contrário, quando falamos em patologia de esquerda, trazemos à baila seres que abdicaram de sua condição humana porque não há guinada existencial alguma que os mobilize em outra direção. Essa turma é assumidamente psicótica, tendo-se em vista o tradicional paradigma que rege tudo o que se relaciona à autêntica humanidade, de "a" a "z": eles são avessos à saúde psíquica, resistentes à conversão espiritual, impermeáveis a argumentos lógicos, insensíveis à beleza e à polidez, surdos ao silêncio e imunes ao logos. Definitivamente, são "psicopatas por opção", um caso raríssimo de paradoxo que só encontra explicação razoável na narrativa dos mitos diabólicos. Estão nitidamente fora do trajeto que pode levar um cara depravado à mais excelsa santidade ou um sujeito inconsciente à mais perfeita lucidez.
A esquerdopatia é a prova mais arrepiante e tenebrosa de que o livre-arbítrio realmente existe, a evidência mais atordoante de que escolhe-se o que se quer ser, a prova final de que pode-se optar pela loucura.
O velho Mefisto, perto dessa gente, é anjinho barroco em procissão de colégio de freira...

Imagem: cartaz do excelente filme de Istvan Szabó, Mefisto, com Klaus Maria Brandauer.

Marx, o Groucho

2 comments:

Ricardo Rayol said...

Ora, ora, não é que está cobreta (ou coberto depende do referencial) de razão? Quando se opta por uma visão estreita das coisas e se apega a ações para que essas bizarrices se concretizem, não dando bola para as provas inquestionáveis de erro, a coisa se torna uma psicopatia. Perfeito.

Marcelo said...

Quem és tu, que falas com tanta lucidez? Muito bom!