Sunday, June 24, 2007

O groucho-marxismo: uma resenha


Oriane deu a Marx, o Groucho, um livro de Bob Black, Groucho-marxismo, editora Conrad. Detalhe do estado de esquisitice debilóide em que vivemos: a ficha catalográfica da obra mostra o título como "economia marxista", "escola marxista de sociologia" e "socialismo"! Não leram ou não entenderam nada. Que coisa!
Pois bem, foi um presente supimpa! Repleta de espírito-de-porco, totalmente cáustica, verdadeiramente racional, posto que provoca cambalhotas aeróbicas nos neurônios do leitor, a leitura evoca - e muito - um pouco do anarquismo de Mark Twain (pseudônimo de Samuel Clemens, autor dos deliciosos clássicos da literatura americana As aventuras de Huckleberry Finn e Tom Sawyer.) e Ambroise Bierce, um escritor pouco conhecido em Banânia, que não deixava pedra sobre pedra em suas críticas à sociedade bovina.
Tendo como referência inicial o humor caótico do Irmãos Marx, iconoclastas incansáveis de todas as ideologias conhecidas, Bob desenvolve uma proposta interessantíssima: a criação da sociedade do ócio, tendo como base o aspecto lúdico da alma, sempre desprezadíssimo por todos os seres sisudos que já produziram enxurradas de chatice teórica sobre "o que somos, de onde viemos e para onde vamos", não necessariamente nessa ordem monótona.
Há duas coisas a destacar no discurso de Bob Black em sua ode ao "groucho-marxismo": o elogio ao ócio e conseqüente condenação ao engodo em que consistem as loas ao "trabalho como dignificação do homem"- perspectiva que nos conduz, de imediato, aos conceitos mais radicais do zen-budismo e do cristianismo, no que eles têm de mais tremendamente libertário (exemplos de ambos no post a seguir) - e a apologia do senso de humor como método filosófico, o que nos remete diretamente a um pouco de teatro do Absurdo, uma vez que a linguagem é revirada pelas vísceras, em busca de significados menos corroídos pelo hábito corrente de vomitar clichês. Nessa análise dos embustes semânticos, Bob Black nos lembra Vladimir Volkoff - em Pequena História da Desinformação, livro citado várias vezes neste blog -, em especial quando afirma, acertando em cheio, que a corrupção da linguagem promove a corrupção da vida. Touché!
No ócio, a salvação. No humor, a ruptura com a casca da neurose cotidiana. O homo ludens é ressuscitado em seu esplendor criativo, em sua plenitude de estar-no-mundo sem relógio de ponto e bússola rabugenta. Trata-se de uma defesa radical do princípio de prazer em sua mais refinada escala, a do pós-juízo final, literalmente...
Em suma, tendo mais tempo para deixarmor fluir a psique, podemos chegar à reflexão mais profunda e à verbalização mais precisa sobre tudo o que nos cerca. Mais Logos, impossível - Heráclito aplaudiria de pé.

Aperitivos do livro, com alguns comentários "indispensáveis", é lógico :

Trabalhadores do mundo... relaxem! (acidental homenagem à Marta Suplício?)

Heródoto identificou o desprezo pelo trabalho como um atributo dos gregos clássicos no auge de sua cultura (nosso Keiser é mais culto do que pensamos?)

Ainda assim, políticos são os mentirosos ideais. É para mentir (além de dar ordens) que nós lhes pagamos, ou melhor, que eles se pagam com nossos impostos (não é que é mesmo??????)

"A revolução requer uma expressão idiomática antiidiota que expresse o até agora indizível" (Heidegger diria melhor?)

Na Astronomia "revolução" se refere a uma volta ao mesmo lugar. Para a esquerda, parece significar mais ou menos a mesma coisa. O esquerdismo é literalmente reacionário (petralhas, o suicídio é logo ali?)

Imagem: Chico, Groucho e Harpo, os irmãos Marx, os verdadeiros pais do "desconstrutivismo"...

Marx, o Groucho

1 comment:

Ricardo Rayol said...

Caraca, um post absolutamente muito doido. E perfeito. As tiradas são fantásticas.