Sunday, June 24, 2007

Pernalonga e meditação: tudo a ver!


Em teoria da comunicação, "ruído" é toda expressão que se pode jogar fora, pois ela só atrapalha a captura do significado que se pretende enunciar. É joio, não trigo. É enfeite, sobra, filigrana besta, desvio não essencial. Pois é: o que se fala por aí é só ruído, o sentido se perdeu. Não se pode dizer que isso foi produzido, de fio a pavio, como manipulação ideológica todo o tempo, mas pode-se afirmar que ela deu uma imensa e decisiva contribuição para que se tenha chegado novamente às cavernas, pela via da "inversão evolutiva", estágio em que a manifestação gutural é tudo o que se pode pretender como sofisticação lingüística. Para os evolucionistas, é uma volta à macaquice, digamos assim...
Em vista disso, complementando o post "marxista" sobre o livro de Bob Black, lembramos que Cristo, ao criticar Marta (vide o evangelho de São Lucas), ótima dona de casa e excelente pessoa, traz à baila não a condenação do trabalho em si, mas a escravização neurótica em que ele pode mergulhar os melhores e mais bem intencionados seres. Em contrapartida, o elogio à Maria, nesse mesmo episódio bíblico, é a proposta de um oásis verbal em meio à atarefada rotina do cotidiano, o que vem a ser uma drástica ruptura com o tal do "ruído", sem a qual a palavra essencial não pode emergir, trazida à vida em um diálogo tecido de silêncio autêntico e audição genuína, o pano de fundo perfeito para a comunicação entre o humano e o divino, em termos cristãos.
Quanto ao zen, lembramos que um dos conceitos mais importantes desse discurso fala de um vazio fértil - estado meditativo a que não se pode chegar sem uma dose cavalar de ócio -, a partir do qual ocorre o surgimento do verbo em seu melhor estilo, o da verdade, o que é impossível de se obter em meio à barulhenta verborragia que costuma acorrentar a maioria dos seres humanos.
Dessa forma, tanto o Budismo como o Cristianismo falam da necessidade de se limpar a mente, habitualmente estagnada num pântano de vícios verbais, o que só se obtém pela ruptura com a algaravia em que o homem-massa é aprisionado desde que vem ao mundo. Ou seja: a premissa para se alcançar um estado mais perfeito de consciência passa pelo combate a todos os tipos de apego, inclusive o apego ao trabalho, o que vem ao encontro das análises de Bob Black, em seu Groucho-marxismo. That' s all, folks!

Imagem: Pernalonga, dedicando-se à meditação da cenoura.

Marx, o Groucho

1 comment:

Ricardo Rayol said...

Uma visão meditatória interessante. Nós, magos esotéricos oportunistas, recorremos ao vazio zen para estimular nossa trilha espiritual e alcançar o nirvana dialético. No caminho há pedras e paus mas nada disso impede que o verdadeiro guerreiro iluminado vença as adversidades e alcance as benesses do trabalho divino, como por exemplo, pilotar uma Ferrari 430 Spyder ou realizar um cruzeiro pelas ilhas gregas.

Heiror Caolho, presidente perpétuo da Hector Hereeye Foundation, psicografado por Ricardo Rayol.