Thursday, June 07, 2007

Pena de morte x controle de natalidade


Venho pensando muito no problema da pena de morte e penso que, neste quesito, não sou tão furiosa assim. Desde cedo, a idéia da pena de morte sempre me pareceu desagradável. Matar algo, mesmo que seja uma formiga, me repugna. Não conseguiria suprimir assim algo que não criei.

O simples extermínio de pessoas não parece resolver o sério problema por que passa o estado moderno. Qualquer estado, não só o Brasil. Está claro que o problema deve-se principalmente à superpopulação. Exterminar pessoas pode não ser tão producente, entretanto impedir que elas se reproduzam além da capacidade de cuidar é humano. Defensora assídua de um estado pequeno, a hipótese dessa máquina sem face se voltando contra o cidadão para matá-lo, exibindo assim sua força, parece-me preocupante. Vai contra tudo que eu espero do Estado. Isso equivaleria dizer que eu sou responsável por uma morte, mesmo que seja a morte de um facínora e minha responsabilidade seja uma mera estimativa.

O crime sempre existiu, pena de morte também. Mas o que nos caracteriza como civilização é termos vencido nossos instintos mais animalescos. Nosso crescimento vem de podermos superar o que em nós é ainda o instinto primário da agressividade e defesa. Sei que nestes tempos modernos, onde direitos humanos e pieguice se uniram para desmoralizar o sentimento de humanidade, fica difícil sentir alguma compaixão por monstros que matam sem o menor escrúpulo e são defendidos por aproveitadores sem escrúpulo e sem gosto. Mas não consigo deixar de pensar que desejar-lhes a morte seria me igualar a eles.

Quanto a desejar que não nasçam já é outra coisa. O excesso de gente acaba por gerar o colapso das próprias relações e, com isso, desejar ou ser indiferente à morte de outrem parece quase natural. Neste ponto sempre me surge uma hipótese ambientalista: seria o homem, vivendo apenas para se reproduzir e dominar, o vírus da Terra? Os vírus não acabam por destruir o hospedeiro? Em algum momento, se continuar assim, haverá muito mais humanos do que a capacidade do planeta de suportar. Não consigo entender por que o controle de natalidade não é uma prioridade. Será que é tão difícil perceber que só poderemos ter uma sociedade melhor se a quantidade de bens for compatível com a quantidade de pessoas? E que numa sociedade assim não haveria a necessidade de matar, afinal de contas haveria espaço para todos, mesmo que fosse nos presídios?

Não consigo me empolgar com a pena de morte, mas defendo arduamente o controle da natalidade, não como imposição do estado, mas a partir da educação e conscientização da população.


Oriane

9 comments:

Marcos Pontes said...

Não gosto da idéia de pena de morte, mesmo sabendo que algumas pessoas estão aqui para fazer o mal, nem suas mães sãoi respeitadas. Mas que as leis são condescendentes demais com os criminosos, lá isso são. O Código penal tem mais de 60 anos, já passou da hora de ser mudado, atualizado. Há 60 anos, o crime comum era o estelionato, a esperteza que fazia dos bandidos sujeitos bem humorados que davam golpes em otários. Hoje qualquer marginalzinho de 13 anos anda com um três oitão na cintura e mata sem qualquer constragimento. E a lei os trata como coitadinhos...

patricia m. said...

Oriane, vou fazer alguns comentarios:

- ja li em algum lugar na internet que a intencao final do virus nao eh matar seu hospedeiro, tanto eh que nao temos mais visto "gripes espanholas" por ai. A intencao final de qualquer organismo eh reproduzir. A partir do momento em que ele mata o hospedeiro, coloca em risco a propria missao. O hospedeiro do virus deve ficar vivo, de forma a entrar no metro, no onibus, e contaminar mais e mais pessoas. Achei sensata a explicacao.

- Será que é tão difícil perceber que só poderemos ter uma sociedade melhor se a quantidade de bens for compatível com a quantidade de pessoas? Bom, isso eh pregacao comunista. A partir do momento em que as pessoas tiverem acesso a todos os bens, nao ha mais capitalismo. Capitalismo por si so significa competicao, luta, desejo de superacao. Como no esporte, na minha opiniao. Se eu tenho acesso a todos os bens, para que me superar? Tipico pensamento de welfare state tambem, de-me tudo e serei uma pessoa mediocre. Quando tivermos acesso a todos os bens, a humanidade estara caminhando para o seu declinio final.

- Mesmo nas mais primitivas eras, onde a populacao nao era tao grande assim, ja havia mortes violentas. Ha que se compreender que o ser humano eh violento por natureza. Na minha opiniao, so nos contemos por 2 motivos: o motivo religioso, para quem acredita obviamente, e o motivo juridico, esse valido para todos efetivamente. Pensar no homem bom por natureza eh muito rousseauniano e meio que ultrapassado.

- Por ultimo, nao creio que o problema da violencia se deva a superpopulacao, e te rebato com um argumento muito simples: a India eh infinitamente menos violenta que o Brasil.

patricia m. said...

So para complementar a questao da India:

Um amigo meu esteve na India a trabalho, e ficou boquiaberto com a seguranca la. As meninas do maior banco do mundo em que ele trabalha saiam normalmente depois do servico, iam a barzinho, e depois pegavam onibus de volta para casa. Andavam nas ruas sozinhas, sem sentir medo.

Ele ficou intrigado e perguntou por que, apesar da pobreza extrema, o indiano nao era mais violento. Responderam a ele que era devido a religiao: de acordo com o hinduismo, tudo que se fizer aqui, se paga mais adiante.

Os disparates entre pobres e ricos na India sao milhoes de vezes maiores que no Brasil. Imagina aquele povareu todo se conter para nao assaltar uma patricinha rica... E ter os bens dela, como voce disse.

@David_Nobrega said...

Eu já sou totalmente olho por olho, dente por dente.

Um abraço.

A Furiosa said...

Patrícia,

ainda não descobri em mim um insuspeitado e tardio comunismo. Quando falei da relação bens e humanos falava apenas que um dia seremos tantos que aí não vai ter competição que resolva. Marx, o Groucho usa o mesmo argumento que vc em relação à Índia: um país muito mais populado e sem tanta violência.
Também acho o ser humano violento, já escrevi sobre o fato de o nosso cérebro não ter acompanhado a evolução propiciada pela linguagem. Aí ele ficou para trás, preso na violência como forma de sobrevivência.
A questão é que não gosto da pena de morte e gosto da idéia de um planejamento familiar e uma campanha certa neste sentido. Meu humanismo tem um forte traço católico, logo o planejamento de que falo não é imposto pelo Estado mas uma decisão de cada família. Para isso seria fundamental que houvesse uma campanha mais séria sobre o assunto.
Os seus argumentos são ótimos, me fizeram penasr mais...(por isso acho que estou ficando louca!)
Obrigada pela sinceridade...

Oriane

patricia m. said...

Oriane, desculpa, nao quis insinuar que voce era comunista, longe de mim tal pensamento! Haha, se voce fosse, com certeza EU nao estaria aqui argumentando, tenho verdadeiro nojo desse pessoal.

Eu tambem sou favoravel a um controle da natalidade. O problema de tal ideia eh que facilmente se transforma na ideia totalitaria do Estado controlando os cidadaos, como na China. Se depender da consciencia de cada familia, continuamos como estamos: os ricos tendo cada vez menos filhos, e os pobres se multiplicando como coelhos. A questao (clichezao, como sempre, a solucao final de todos os nossos problemas) esta na educacao. Haha.

Educa-se o pobre de forma que tenha menos filhos. Minha mae costumava fazer esse tipo de trabalho: toda mulher pobre que ela conhecia (empregadas, etc), era convencida pouco a pouco de que nao devia ter mais filhos. Dai minha mae arrumava ligadura de trompas gratuita em algum hospital publico (isso ha muitos anos atras, ela nao faz mais isso) e pronto, MENOS POBRE NO MUNDO.

Aborto para mim nao eh solucao para esse problema tambem nao, vai resolver o problema da classe media baixa, mas os pobres continuarao se multiplicando como coelhos.

A Furiosa said...

Patrícia,

não precisa se desculpar. Entendi perfeitamente e comungo com suas opiniões. Seus comentários são sempre bem-vindos e nem sempre vamos concordar. Isso é muito bom, principalmente porque sabemos fazer isso de forma educada. Discordar é maravilhoso método para fazer pensar e vc e seu blog sempre me fazem pensar...
Um abraço

Oriane

Anonymous said...

Compadeço-me das formigas e do nojo da sra. Patricia. Em questão de nojo, se me dá, vou além dos Comunistas. Incluo os Liberais, Neoliberais, os Democratas, os Republicanos e tudo que pode ser considerado de direita. Inclusive, os Comunistas que no poder se comportam como legítimos representantes da direita. Creio que uma boa solução para
a questão da desigualdade- ao gosto daqueles que pensam que o motor da civilização seja a carência dos bens- deva ser a restrição ao estímulo ao consumo em populações aonde não haja demanda para tal. Seria sábio, se não fosse óbvio,
não criar carências de certos bens em quem não tem poder aquisitivo para os adquirir. Quanto a pena de morte e o controle da natalidade, alerto: Não funciona. Nem em formigas e nem em humanos. Os humanos e a formigas parecem não dar muita importância a pena capital e continuam a repetir a mesma conduta, mesmo quando algum dos seus ou muitos são dizimados. Vide exemplo da China.
As idéias de controlar a proliferação de pobres, agrada aos simples. Mas é contraditório com a lógica do Capitalismo que se beneficia com a imensa abundância de Pobres. Os que acham esse discurso coisa de Comunista não estão observando para onde estão mudando as grandes corporações. Eu digo: países miseráveis como Brasil, China, Índia e outros, com objetivo de explorar o vasto potencial humano miserável. Essa é a lógica.

Anonymous said...

BOA TARDE;

FAZ TEMPO QUE TENHO PENSADO SOBRE O ASSUNTO CONTROLE DA NATALIDADE POR TODOS OS FATORES ACIMA CITADOS. LOUVÁVEL O PROJETO DE LEI DO DD. DEPUTADO JOSÉ DOMINGOS FRAGA (DEM), PORÉM INDO ALÉM, ESSE PROJETO SE DELONGARIA PARA MODELOS COMO O ESTRITO CONTROLE DA NATALIDADE QUE HÁ NO JAPÃO, POR EXEMPLO???. TENHO SONHADO, ESSE É O TERMO, COM O TIPO DE CONTROLE DE NATALIDADE, ONDE A MULHER TEM A OPÇÃO DE TER NO MÁXIMO DOIS FILHOS E POR FORÇA DE LEI, SEJA SUBMETIDA A AMARRAÇÃO DAS TROMPAS (ALGO NESSE SENTIDO, RADICAL) OU UM INCENTIVO DE UMA BOLSA DE UM SALÁRIO MÍNIMO PARA AS MULHERES QUE CONSEGUISSEM MANTER O NÚMERO MÁXIMO DE 2 FILHOS, SAIRIA MUITO MAIS BARATO PARA O GOVERNO DO QUE OFERECER A BOLSA FAMÍLIA, QUE AO CONTRÁRIO, INCENTIVA A MULHER, MUITAS VEZES AS ADOLESCENTES A "FAZER FILHO", "FABRICAR CRIANÇA".
DESCULPE O DESABAFO!!!
CONTEM COMIGO PARA ESSE PRECIOSO PROJETO DE LEI QUE DESAFOGARIA O CAOS MUNDIAL E OS SERES HUMANOS SOFRERIAM MENOS A PARTIR DESSA DATA!!!!
ALESSANDRA J MARANHO
OAB/SP 193.627
ARARAS/SP