Saturday, March 24, 2007

Psicose coletiva...



Deu na mídia: ursos brancos, abandonados pela mãe, merecem morrer porque, se forem cuidados pelos humanos, correm o risco de perder sua essência "ursóide"! Nunca se viveu um tempo tão claramente doentio como este, "nesteplaneta", em especial, "nestepaiz". É obscena a quantidade de sandices, disparates, delírios e barbaridades outras que se vêem e ouvem por aí, sem que ninguém se rasgue de alto a baixo, abraçando o lago Titicaca!
Os jornais parecem boletins extraídos do quadro informativo de um grande hospício: Julieta, hoje, acordou com vontade de ser Romeu, a paciente do quarto 15 regou as pernas do rapaz do quarto 23 com gasolina e tacou fogo, o diretor geral transou com Napoleão à sombra de um pé de chuchu mexicano, dois internos surraram a enfermeira porque ela estava vestindo meias azuis. Parece enredo de comédia americana - lembram de Mel Brooks? - dos anos sessenta e setenta... "A demência veio a cavalo" seria um título digno para definir a atual conjuntura. Todas as referências, esteios, apoios, balizamentos e paradigmas de racionalidade escoaram pelo ralo. Ninguém diz mais coisa com coisa. A praga já se espalhou de tal modo que a profecia de Machadinho de Assis, em O Alienista, se realizou plenamente: todos os doidos estão do lado de fora. É um pesadelo real,concreto, palpável e degustável. Respira-se loucura por todos os poros. A revolução semântica - leia-se Língua de Pau - que preparou o terreno para esse estado de coisas obteve um êxito esmagador: destituídas de suas raízes originais, amputadas de seus étimos seculares, travestidas do que realmente não são, as palavras, carro-chefe da sanidade mental, saem às ruas sob o rótulo da "normalidade", cobrindo a existência verdadeira com os signos do seu avesso, do seu não-ser, da sua negação, da sua ausência absoluta. Nesse panorama lúgubre, o humor morreu porque ele é, sempre, o derradeiro baluarte da razão, a reserva de alguma consciência crítica, o oásis para onde se poderia correr num aperto psíquico mais incômodo. Com ele, foi-se o saudável riso dos inteligentes, pois só nos resta a gargalhada de hiena dos beócios, os mesmos que conduzem ao poder seus pares, seus assemelhados, suas projeções grosseiras, espelhos de ridículos narcisos.
Todos se merecem, à exceção dos ursos.
Imagem: Mel Brooks e Cia, na ótima comédia "Alta Ansiedade".

Marx, o Groucho

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