Tuesday, March 27, 2007

Macânica quântica e picaretagem!



Imagens: Ramtha - espírito Lemuriano de 35000 anos.

Recentemente estive discutindo o filme “Quem somos nós” com um grupo de pessoas. Foi engraçado que um dos argumentos que uma das senhoras que estava no grupo usou para me desqualificar era que eu não era suficientemente holística. Achei graça, mas tendo a ficar preocupada com essas coisas. Num mundo onde os parâmetros estão desaparecendo, a pseudociência vêm ganhando um terreno enorme na mídia contemporânea. É um sem fim de curas quânticas, medicina holística, terapia de vidas passadas. Não posso dizer nada sobre as duas últimas, mas posso afirmar que a primeira é uma grande besteira.

Quanto ao filme, é fundamental ler dois excelentes artigos escritos no blog – Dragão na Garagem. Os argumentos são maravilhosos, mas maravilhoso mesmo é descobrir que o filme foi produzido por uma dessas seitas picaretas que tentam arrancar dinheiro das pessoas. Se vocês têm alguma dúvida, é só preencher o formulário de inscrição para o retiro de 4 dias (veja a foto acima) a 600 euros na França. A seita é uma tal de Ramtha Escola de Iluminação, e foi fundada por uma dona de casa que começou a receber este espírito que seria um guerreiro de Atlântida. Mas nem pense em tentar receber o dito cujo: a tal dona tem o copyright sobre esta aparição, você acabaria tendo que pagar uma taxa. No site que eu indico acima, é feita uma análise de cada um dos “cientistas”que falam no filme, e o resultado final é o seguinte:

Um ex-padre que pregava o evangelho do irmão gêmeo de Jesus, um médico que quer curar os gays e acha que os liberais são retardados mentais, outro que exerce uma terapia não reconhecida pela ciência, um físico praticante de levitação, um cara morto há 35.000 anos baixando em uma dona loira e, em má companhia nesta turma, um físico sério enganado pelos discípulos de uma seita maluca. Bem, agora que você já sabe onde está pisando vamos assistir ao filme.

Murray Gell Mann, o físico que deu o nome aos quarks, se perguntava por que a mecânica quântica dava ensejo a tanta mistificação. A questão parece girar em torno do fato de que quase ninguém percebe que a mecânica quântica é uma abstração matemática, uma série de contas que dão certo e só isso. Tentar aplicar isso ao nosso mundo ainda é uma especulação, pois justamente o que a física busca como seu Santo Graal é a interação entre o mundo macro e o micro. A mecânica quântica somente se aplica a partículas e a teoria que e rege é incompatível com a teoria que rege o resto.

Detecto dois malentendidos primordiais sobre a mecânica quântica:

1) Teoria da incerteza

2) Superposição quântica.

As duas falam do mesmo fenômeno: a teoria procura calcular os estados de uma partícula - posição, velocidade etc. Ocorre que não é possível mensurar dessa forma este tipo de partícula. É necessário mensurar por probabilidades. Daí se dizer que uma partícula pode estar em dois estados quânticos. Isso quer dizer que pode ser duas coisas ao mesmo tempo ou mesmo estar em dois lugares ao mesmo tempo. Mas isso também quer dizer que nós podemos estar em dois lugares ao mesmo tempo ou viajar mais rápido do que a luz? Claro que não. Estamos falando de uma partícula infinitesimal e de uma abstração matemática. Para fins de cálculo de uma partícula vamos levar em conta todas as suas probabilidades. Diz-se que ela ocupa uma nuvem de probabilidade. Mas isso é uma abstração para fins de cálculo e não significa que a partícula está em todos os lugares, mas sim que ela pode estar em todos os lugares e para fins de cálculo devemos considerar que está.

A dualidade onda partícula é uma conseqüência da falha apontada anteriormente. Quando vamos calcular sua função onda imediatamente trazemos a partícula para este estado, se calculamos sua posição como partícula também será necessário que ela assuma este estado. Essa é a idéia do colapso da função de onda, ao voltar nossa atenção para ela forçamos uma decisão. Ela pode ser duas coisas mas só escolherá, naquele momento, um dos caminhos. Ela pode estar em qualquer lugar, mas ao olharmos ela se mostrará em um só. Num único momento poderemos dizer ou sua velocidade ou sua posição, mas nunca as duas coisas ao mesmo tempo. É mais ou menos assim: se eu quiser calcular a velocidade ( que também não é velocidade, é uma abstração da velocidade) de uma partícula ela será apenas velocidade e nada mais. Se não me explico bem é porque não entendo bem. Nem eu nem ninguém. Um amigo, grande físico, tentou me explicar por várias horas e depois me disse: “isso é apenas um monte de conta que dá certo, você não pode tentar visualizar. Feynman, um dos maiores físicos do séc XX costumava dizer: “Se você acha que entendeu alguma coisa sobre mecânica quântica, então é porque você não entendeu nada.” Por isso mesmo não podemos sair afirmando nada sobre ela.

Os esotéricos e pseudocientistas querem nos fazer crer que existe uma cura quântica, pois a matéria seria vulnerável ao pensamento e usam o colapso da função de onda como prova. Por mais que eu seja simpática à idéia de que podemos dominar a matéria com o nosso pensamento (seria o máximo, não seria?), eu sei que este tipo de coisa nunca foi comprovada e acho mesmo que é impossível. Na verdade acredito que isto é culpa de nossa onipotência que deseja impor ao universo a força de nossa vontade. Além do mais, vale tudo para escapar de nossa realidade tão banal. Para que o pensamento pudesse influir na matéria, ele precisaria de uma partícula e, por mais que queiramos acreditar que pensamento é energia ( e até agora só sabemos que são interações químicas) o fato é que não há nenhuma partícula associada a ele. Pensamento e matéria são de essências diferentes!

Podemos criar um mundo melhor, podemos acreditar em muitas coisas, mas não é certo que se tente embasar essas crenças com uma comprovação científica que nunca aconteceu. A ciência prossegue em seu lento e rigoroso caminho. Nada nos indica que pensamento e matéria são compatíveis, mas nada nos diz que não. Procurar embasamento científico para certas crenças é justo. Mas é necessário que isso seja feito com rigor, para não deixar dúvidas. Não podemos aceitar como certo coisas que não são comprovadas pela comunidade científica. Quem pode esquecer a beleza do dia em que a teoria da relatividade foi comprovada na prática? Foi aqui no Brasil, num eclipse. Deste dia em diante percebemos que, de fato, espaço e tempo são os tecidos do cosmo e que a gravidade era uma deformação neste tecido. A partir daí foram previstos os buracos negros e foi aberta uma nova perspectiva de visão do universo. Nenhuma teoria foi tão surpreendente quanto a da relatividade, poucas têm a sua beleza. E o que é melhor: foi comprovada.

A mecânica quântica também foi comprovada, mas até agora a única coisa que podemos dizer dela é que é uma série de contas que dão certo. O resto é pura especulação.

Oriane

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