Wednesday, February 28, 2007

Taí o "bom selvagem" do Rousseau...

O assassinato dos franceses por um ex-menino de rua foi trágico. Estou tentando controlar o meu instinto que quer gritar coisas como: estão vendo como essa gente de ONGS de direitos humanos vive no mundo da carochinha? Esse ex-menino de rua que eles acolheram não era mais um excluído. Foi-lhe dada oportunidade, foi ajudado, acarinhado, cuidado, e o que ele deu em troca? Um crime brutal, matou brutalmente aqueles que o ajudaram. Por quê? Será que ele passou este tempo todo odiando-os? Invejando-os? O que se passou na cabeça dele? Algo como: estes estrangeiros otários vão se ver comigo...

Aliás, o que leva pessoas de um país como a França a criarem uma criança numa pocilga como Banânia? Isso é uma irresponsabilidade. Sempre digo para a minha amiga que cria suas filhas em Haia para que jamais as traga para cá. Isso aqui é terra-de- ninguém. Esses iludidos de ONGS de direitos humanos continuam achando que podem resolver o problema com amor, abraço à lagoa etc. Este é o resultado. Estamos num mundo sem esperança.

Isso me lembra a história de um guru que tomou uma porrada de um cara e perguntou: qual foi o bem que eu te fiz? (Ah, lembrei: na verdade o guru foi Confúcio, ao levar uma cusparada de uma pessoa quando passava, totalmente distraído, sob sua janela.)

Para esses, idealistas um aviso: quando subimos a favela e ajudamos os moradores, muitos podem até estar verdadeiramente agradecidos, mas a verdade nua e crua é hobbesiana: o homem é o lobo do homem. A maioria não vai agradecer, mas odiar e invejar aqueles que ajudam. Essa é a realidade da humanidade, mas principalmente é a realidade do Brasil. Nosso povo é preguiçoso e tem uma nojenta cultura de levar vantagem em tudo. Todo mundo quer ser esperto, lograr êxito sem trabalhar. Aí você vai ajudar uma dessas pessoas cheias de ressentimento e elas sorriem para você, esperando ansiosamente o momento em que vão te roubar ou matar.

A cultura da inveja chegou a um tal ponto que o pouco que temos já é motivo de ódio. Os ladrões não querem mais apenas roubar: querem vingança pela pouca sorte que lhes coube. É patológico.

Não sou contra ajudar a quem precisa, muito pelo contrário. Sou contra o paternalismo babaca, pieguices galopantes e a ilusão ridícula do bom selvagem.

Detalhe: os franceses adotaram o seu algoz quando ele tinha quinze anos. Acho que eles não estudaram psicologia: se uma criança não recebe amor até os quinze, torna-se incapaz de senti-lo. Esse rapaz provavelmente já estava imune ao amor quando o conheceu. Isso eu aprendi há vinte anos quando trabalhei com meninos de rua. Era uma aviso que o pessoal do lugar sempre dava: concentrar-se nos meninos de menos de 12 anos e nunca, jamais abrir a guarda. O trabalho era sério, e o principal: não tinhamos ilusões quanto aos resultados. Não ver essa realidade é uma auto-ilusão cujo preço pode ser caro demais.

Sou uma desiludida, vivo deprimida, mas ainda estou viva.

Gauleses, taí o bom selvagem de vocês!

Imagem: J.J. Rousseau, o pai intelectual da grande ilusão.

Oriane

Monday, February 26, 2007

A polícia de Banânia...


Dia de feriado, pedi uma carona para Itaipava. Como o carro vinha de Niterói, marcamos na Rodoviária. Fomos eu, com um grave problema de coluna, e uma amiga, já quase idosa. Chegando lá, deveríamos ter esperado na pista do meio, para que o carro pudesse nos ver. Impossível, havia uma multidão de flanelinhas ou topiqueiros aos berros, ocupando inteiramente o vão. Começou uma briga feia, e eu e minha amiga nos assustamos e recuamos. Ficamos impressionadas, nenhum policial apareceu. Situação tensa, briga, parecia que ia sair tiro, e a carona chegou. Cheia de dor, tive que correr atrás do carro e larguei a mala com a amiga. O carro parou, e vinha uma van atrás que imediatamente meteu a mão na buzina e começou a xingar. O carro só parou para a gente subir, e nós só demoramos porque não podíamos ficar no vão, não havia quem nos defendesse. Mas eis que, com a buzina da van, aparece um policial. Sabe para quêe? Para ser muuuiiito estúpido conosco e nos multar. Agora, vem cá: nós só precisamos fazer isso porque ele não estava lá para garantir a nossa segurança. Contudo, mexeu com a van ele aparece logo. O que seria isso? Indústria das multas ou participação no negócio das vans? A polícia não só não nos protege como nos humilha e achaca. Quem confia numa policia assim? Quem pode viver num lugar assim?
A rodoviária de São Paulo é infinitamente mais civilizada...

Oriane

Saturday, February 24, 2007

Chamem Calamity Jane !!!


Entrando na Faixa de Gaza de Oriane, lá vão nossos palpites sobre como lidar com a atmosfera de criminalidade desenfreada - sempre lembrando que a palavra "violência" não é o nome adequado do boi, como já explicamos num post recente - em que estamos todos envolvidos até o pescoço.
Tirante todas as considerações feitas neste blog, até hoje, analisando os fundamentos sinistramente ideológicos do que vem acontecendo em Banânia, sugerimos algumas providências práticas e brejeiras, embora de difícil concretização, por motivos óbvios:

1 - Armar a população, como se faz na Suiça - lá não existe exército, as pessoas recebem instrução bélica para exercer o controle de situações críticas, em caso de agressão, venha de onde vier, sem frescura -, com cursos de tiro-ao-alvo-ao-marginal sem limite de idade, inteira e mui justamente bancados pelos nosso impostos, já que, pelo visto, a outra maneira, via administração estatal, está falida há muito tempo.

2 - Ter em mente, com absoluta clareza, que a morte é inevitável e que, portanto, se alguém, no pleno exercício de sua legítima defesa, abotoar o paletó numa troca de tiros com os apadrinhados dos Direitos Desumanos, levando, pelo menos, um deles de carona, sua morte terá valido a pena, exatamente como numa guerra santa. Será menos um a estuprar, a matar, a queimar.

3 - Ter a coragem de encarar a bárbarie que nos cerca, lembrando, sempre, que pedidos de PAZ e abraços à Lagoa são uma piada ridícula. Só se pode experimentar a paz depois de muita mão-de-obra, assim mesmo, bem esporadicamente - basta dar uma olhada honesta na História. Como dizia um general romano, Si vis pacem para bellum: se desejas a paz, prepara-te para a guerra - essa frase deu origem ao nome de pistolas "Parabellum"...

4- Por último, saber, sem titubeios e pruridos sentimentalóides, que o MAL existe e não tem preferência por classe social. Esse é um imperativo categórico dos bons! Ah, detalhe importante: não se dialoga com o dito cujo, só nos cabe combatê-lo.

PS: Se sobrar munição, escolham metaforicamente algumas ONGs para gastá-la. Caso elas já estejam falidas por causa da baixa do dólar, lembrem-se de que há um farto leque de opções para o bom uso das balinhas!

Imagem: a musa do bang-bang americano (que deveria inspirar os cidadãos de Banânia...), chiquerésima e imponente, segurando o seu indefectível pau-de-fogo! Para os interessados em sua história, visitem aqui.

Marx, o Groucho

Friday, February 16, 2007

Perdida na guerra, o que pensar?


Menino dormindo na rua: claro que ele também é vítima, não pediu para nascer. Deve ter uns dez irmãos, vítimas como ele. Mas nem todos viram monstros. O fato de ser uma vítima da sociedade exime a culpa de alguém? E se esse alguém for muito cruel como o tal Champinha, fazer o quê? Passar a mão na cabeça? E nós, que lutamos e pagamos impostos, fazemos o quê? Somos nós os culpados? Se vocês querem saber mais sobre o Champinha, leiam esta notícia.

Apesar de anarquista, sou católica convicta, daquelas que pedem a volta da Missa Tridentina. Sabe como é: padre falando em Latim e de costas...
Começo dizendo isso porque preciso discordar da minha Igreja. Sei que a Igreja não concorda com o controle da natalidade, pois seria uma forma de avalizar a sacanagem geral. Mas creio que agora, como se diz, "Inês é morta". Se algo não for feito em termos de conter a explosão populacional das classes pobres não haverá como viver em cidades como o Rio. São legiões de crianças que foram criadas sem pai nem mãe, perambulando nas ruas, nascidas de pais que não tinham condições financeiras e psicológicas de criá-los. Pessoas que têm filhos até com doze anos, que aos vinte já têm uns três ou quatro filhos e, ao final, não sabem dizer quantos são. É só assistir ao documentário "Notícias de uma guerra particular" do João Moreira Salles. Lá um menino internado nesses centros de infratores fala da mãe: "ela teve lá os filhos dela, uns sete ou oito, vendeu alguns e batia nos outros. Eu fugi porque não aguentava mais apanhar. Estou na rua desde os cinco...".
Chocante não? Eu sinto compaixão, mas também sinto pena de gente como nós, classe média que não pode ter carro blindado, que anda de ônibus, que cruza na rua com os Champinha da vida...
Entretanto, por mais raiva que sinta, não deixo de sentir compaixão e mesmo ter uma certa compreensão: como adolescentes que foram abandonados por família e Estado vão aprender a respeitar a vida do outro? Suas próprias vidas não foram respeitadas. Eles são ninguém e é muito duro não ser ninguém. Ninguém que os ame, nenhum direito, uma vida sem nenhuma perspectiva. O que se pode esperar de alguém assim? Eu entendo a armadilha contida nessa situação: é difícil punir alguém que sempre foi uma vítima. Mas, por outro lado, há uma sociedade a ser protegida, mesmo com sua parcela de culpa, pois caso contrário acabaria fadada ao extermínio. Se já chegamos ao ponto de nos matarmos uns aos outros sem nenhuma pena, já chegamos à barbárie. Eu sei, pois quantas vezes não vejo esses adolescentes pardos, pobres e sinto ódio. Ódio pela forma como falam, errada, mole, raiva da cara deles, aquela cara de pobre. E por quê? Por que mancham minha cidade? Por que são brasileiros como eu? Por que me vejo neles? Por que sinto esse ódio afinal? Seriam eles fruto de algum descaso meu? No fim de tudo eu sei que acabei nascendo no lado que teve sorte. Tenho raiva porque "essa gente"( é como eu falo, tipo Odete Roitman) fala alto, mas eles falam alto porque ninguém os ouve. Eles não têm voz. Dever ser muito triste e difícil viver assim.
Sempre me senti mais identificada com a direita, com os nobres, mas tenho sentido um certo desconforto por isso. Uma vaga sensação de que, além de minoria, eu estou sendo egoísta. Não tenho direito de sentir tanto ódio. Não uma vez tendo tido tanta sorte na vida. Mas por outro lado tenho horror àqueles moderninhos que vão para o Forum Social Mundial, acho todos uns idiotas. Também não saio feito uma retardada pedindo paz depois de um crime horrível. Sei muito bem que os bandidos vão rir de mim. Votei pela manutenção hipotética (graças ao estatuto do desarmamento) do direito de ter armas. Não vou sair por aí pedindo paz, nem pagando o mico de abraçar a Lagoa, ou algo assim. Ainda estamos em guerra, nosso lado contra o deles, não é assim que eu quero morrer. Não vou virar uma militante do PSTU nem vou entrar para uma ONG. Prometo não me tornar uma chata.
Mas tenho sentido esta compaixão. Compaixão misturada com ódio. Mais dez anos de análise por causa da violência do Rio.
Mas sim: ainda sou a favor da redução da maioridade penal, prisão perpétua tanto para a Richthofen quanto para o Champinha, remoção ou contenção das favelas, e de educação e planejamento familiar como soluções.
Mas agora, neste exato momento, o que é o certo afinal? Prender? Executar? Esses dias me imaginei linchando esses caras? Alguém concebe horror maior?
Vocês sabem o quanto sou impiedosa, os que lêem este blog sabe que não faço concessões ao pensamento dominante, aquele misto de esquerdismo de butique com utopia de botequim. E não acho que o Emir sader seja uma criação da direita para que todos pensem que a esquerda é retardada. Eu acredito que ele existe e que acredita no que fala. Sinto bem mais raiva de gente como ele, o imperador dos esquerdistas de butique, que usa a miséria como forma de aparecer, como forma de "jogar para a galera" do que daqueles que ele diz defender. Pessoas como ele e o Lula são duplamente odiáveis por manipularem sentimentos que até seriam louváveis se não tivessem virado uma pálida imitação de solidariedade. Uma forma de ganhar à custa da miséria. Quanto aos moderninhos do Forum Social, na verdade essas pessoas gostam de festas de esquerda ( as do PT eram famosas nos anos 80), ir ao Forum Social para encontrar os amigos moderninhos, acampar e cantar "Travessia", pintar a cara e sair no Globo, ou quem sabe virar celebridade e adotar um africano. Não deixariam de comprar um jogo de computador para dar dinheiro ao orfanato. Assim como o "fenômeno OVNI" foi uma grande desserviço para a ciência séria que busca vida extraterrestre, também essas pessoas são um desastre para quem tem preocupações sociais verdadeiras, que extrapolam a idéia de que a culpa é da Zelite, para saber que a culpa é de todos.
O problema não é nem nunca foi político. É espiritual! Como ter um bilhão e dormir em paz sem dividir nada? Como ainda existem fazendas que usam trabalho escravo? Como ainda existem patrões que pagam uma miséria? Pagar pouco para a faxineira é ou não é explorar a miséria?
Como dormir sabendo que sinto ódio do Champinha? Como dormir sabendo que sinto ódio?
Vivo numa sociedade doente e estou doente.
Tenho pena do Champinha, tenho pena de nós, tenho pena do João Hélio, tenho pena daqueles que o mataram.
Estou perdida nessa guerra.

Oriane

Thursday, February 15, 2007

De volta à semântica: cadê os bois?



Gostamos de falar sobre isto, os bois, os nomes e suas complexas relações.
Já escrevemos recentemente sobre o assunto, do ponto de vista da "opacidade", uma das características do processo de se nomear o "vácuo", ou seja, eliminando-se os bois, sem os quais é inviável haver lucidez onde vigora, a torto e a direito, a imprecisão do antidiscurso, também conhecido, desde os gregos, como texto diabólico.
Pois bem, voltamos ao assunto, mas sob outra perspectiva, sempre na esperança de ampliar a visão do que há de mais importante na produção do caos atual: a ignorância produzida - deliberadamente ou não - pelo assassinato do sentido real das palavras.
Eis uma listinha aleatória do que se produz atualmente em Banânia, como fruto dessa gigantesca falácia que contaminou, sem redenção à vista, a tal fala "coletiva", sob a égide da imprecisão verbal, cujo lema óbvio é quanto mais genérico, melhor:

1 Fala-se em violência. Não se fala em crime! Ok, a generalização oculta os limites de significado entre esses termos, o que é muitíssimo conveniente à manipulação do populacho. É simples: todo crime é um tipo de violência, mas nem toda violência é crime. Usem o raciocínio e perceberão rapidamente as funestas conseqüências dessa armadilha lingüística. No popular, é pôr no mesmo saco, sob o mesmo rótulo, coisas diferentes. Percebam o seguinte: quanto maior a imprecisão semântica - típica das generalizações forçadas - maior o espaço para sofismas e diversionismos - sopa no mel dos clichês.
A outra variante de crime é erro - mas essa é uma invenção petralha...

2 Fala-se em modernidade. O que é isso? Eis aí um conceito realmente impregnado de relativismo em sua estrutura semântica: moderno em relação a quê? Olhem só que interessante: quando surge uma palavra cujo uso implica obrigatoriamente a noção de relativismo, os senhores da pseudo-razão a empregam como valor absoluto! Assim, tudo o que é moderno é automaticamente bom, muitíssimo melhor do que todas as coisas que vieram antes. Isso cria uma situação tipicamente maniqueísta: o moderno é bom, o antigo é ruim. Na base, o mecanismo de sempre: imprecisão dos termos, generalização, reducão drástica do campo das significações. O resultado é a promoção fulminante de uma conveniente pobreza verbal. Obviamente, a percepção da realidade é estrangulada sob a pressão dessa camisa-de-força, mãe perversa do famoso... escotoma!, lembram dele? Quanto mais impreciso o discurso mais cegas são as pessoas que o proferem.

3 Fala-se em igualdade. Mais um conceito tomado como absoluto, no contrapé do seu sentido original: igualdade em que contexto? Pegando carona em Aristóteles, lembramos que, em essência, somos todos realmente iguais. Contudo, o que nos diferencia - os acidentes aristotélicos - nos individualiza, nos dá uma identidade particularíssima de onde saem as respostas à nossa interação existencial. É só olhar em volta e perceber o quanto as pessoas são diferentes, ainda que nascidas, por exemplo, em uma mesma família e expostas a condições de vida semelhantes. A igualdade essencial - somos todos seres humanos - propicia a igualdade perante o estatuto da Lei. Fora desse âmbito, salve-se quem puder, porque cada um responde por si, sob a batuta de sua consciência.

4 Fala-se em educação. Qual delas? A palavra salta na boca dos autômatos como a panacéia de todos os males. Eis aí, mais uma vez, um uso vocabular semanticamente inadequado, pois educação, como mandaria o figurino dos apressados, não resolve nada se não tiver havido, em princípio, a escolha do modelito educacional básico a ser implementado: comunista, nazista, liberal, espartana, maoísta, "tipo assim" Summerhill - hit pedagógico dos anos 60 -, mafiosa, mil frutas, gay, que raios de educação seria? Se for mais, ainda, daquela que anda nos assombrando por aí, recordista de resultados negativos no que se refere a testes de conteúdo objetivo, é melhor fechar todas as escolas.
Na verdade, quando as pessoas clamam por educação para resolver as agruras sociais, elas estão pedindo, inconscientemente, o ensino das normas de conduta moral. Afinal, saber bem matemática e geometria não garante uma baixa criminalidade, certo? Como há uma terrível lavagem cerebral, há décadas, solapando tudo o que se refere a freios comportamentais, incluindo-se aí a eliminação sumária da noção de "culpa" (que horror, que coisa antiga!) via leitura psicanalítica vagabunda, a única saída é a adoção de um simulacro pré-fabricado - forjado ao sabor ideológico dos ocultíssimos podres poderes - , conhecido como a ética fajuta do politicamente correto. Portanto, onde se instalam - e viva o Mec! - "propostas educacionais" tupinicóides, só existe um megaprojeto de lavagem cerebral.
Alguém duvida, a partir dessa análise, que tudo o que está correndo com a conivência das "otoridades" não passa de um plano para forçar o povão a clamar, de joelhos, por uma ditadura??? Afinal, se somos culpados, "enquanto sociedade genérica", por tudo isto que está aí, a saída à vista é tolher a liberdade de todos, não é mesmo? Vale a pena o sacrifício...
As condições já foram criadas. Falta o grand finale.

Uma boa vacina para tudo isso? Uma ótima maneira de identificar esses invasores de mentes, cupins da verdadeira racionalidade? Que tal um cuidadoso estudo da língua, via Filosofia? Todos os mecanismos de defesa estão lá. É só querer ver...

Há mais, muito mais, para relatar aqui, sobre esses convenientes "apagões verbais", fruto de uma deliberada imprecisão semântica que não passa de mais uma tática ultrabatida na esfera da Língua de Pau. Voltaremos ao assunto, em breve.

Marx, o Groucho

Tuesday, February 13, 2007

Monstros: os pais são evangélicos...

Os pais de dois dos acusados do crime que abalou o país dizem que não entendem como os filhos fizeram isso, pois foram criados num lar evangélico. Não quero parecer preconceituosa, mas o fato de serem criados num lar evangélico não torna tudo pior? Já vi muito mau caráter mentir e dizer que jamais faria o que fez, pois é evangélico. Em Petrópolis há uma verdadeira máfia de empregados evangélicos: começam a trabalhar cheios de moral, não querem ter a carteira assinada, fazem coisas absurdas, tratam pessoas mal e depois processam, sempre com a ajuda de um advogado da igreja. Várias pessoas vêm evitando contratar evangélicos por causa disso: estão cansados de falsa moral e de pseudo-evangélicos lhes passando a perna.
Não é surpresa para ninguém, este blog detesta pentecostais e neopentecostais. Sim, nem todos os evangélicos são iguais, uns são menos piores que outros. Mas quase todos tem uma característica: são intolerantes. Então a gente fica pensando, será que esses meninos tinham realmente algum diálogo em casa? Ou era apenas repressão e a sensação de que havia um imenso hiato entre pais e filhos? Como será ser criado neste ambiente de falsa moral, repressão, e intolerância? Não seria esse um dado a mais para explicar tamanha brutalidade? E tem mais, os pais dos acusados têm ambos 34 anos. Isso significa que tiveram o filho mais velho aos onze? Seria isso possível? Se for é mais uma prova de que o planejamento familiar é urgente. Essas pessoas têm cinco filhos e dois são verdadeiros monstros. Seria por causa do ambiente repressor ou porque foram cinco criados num ambiente sórdido, ou mesmo porque ninguém deveria ter filhos antes dos dezoito anos?

Claro que só estes fatores não justificam os monstros. Há algo errado com eles, mas o fato de haverem dois com estas características numa mesma família dá o que pensar.

E esta justificativa de ser evangélico, francamente, não justifica nada, só nos aborrece e deixa na dúvida.

O falso moralismo de evangélicos de araque precisa ser combatido urgentemente, sob o risco de virar um câncer social do qual não poderemos jamais nos livrar.

Se vocês conhecerem uma dessas pessoas mal vestidas, olhar para baixo, que te garantem ser as mais honestas do mundo porque são evangélicas desconfiem: podem ser ressentidos invejosos loucos para te passarem a perna.

Acreditem, já aconteceu comigo e posso dizer sem peso na consciência: eu detesto e desconfio de evangélicos.

Oriane

Saturday, February 10, 2007

Sabadão na praia

Hoje um amigo me escreveu da França, agradecendo uma tarde na praia. Um talvez raro momento de paz. Sábado tentei ir à praia. Na chegada, um grande susto. Próximo ao hotel Cesar Park, havia flanelinhas de areia. Isso mesmo, vocês não estão lendo mal, flanelinhas de areia mesmo. Os caras ficavam ali no calçadão gritando: "aqui, aqui, cadeira, e algumas palavras numa tosca tentativa de inglês que não pude identificar.
A praia era uma baderna loteada entre flanelinhas e que tais. Depois de finalmente nos isntalarmos, comecei a ler o jornal. Do nosso lado um grupo de rapazes veio se acomodar. Aparência de morro, cultura de morro, impossível não ouvir a conversa: falavam aos berros, para a gente ouvir mesmo. Papo de traficante, os caras não eram só assustadores, pareciam perigosos. Ali, do meu lado, falando alto a ponto de eu não conseguir ler.
Falei para minha amiga: "vamos para mais perto da água"
Minha amiga: "não, é melhor ir embora, e se eles se ofendem e se vingam na gente?
Eu: "mas que absurdo, eles estão nos expulsando???"
Paguei a barraca e as cadeiras, que usei por dez minutos, e fui embora para outro canto. Finalmente instalada, recomeço a ler. Mas não dura muito tempo: dois barrigudos de cerveja na mão falam aos gritos sobre o síndico gay do prédio deles. Soube tudo sobre a briga no prédio e a mentalidade tacanha daquelas pessoas. Não havia como não ouvir a conversa, mais uma vez, pobres ou ricos, todos no Rio falam aos berros.
Moral da estória: se vocês resolverem ir à praia no Rio tentem o final de tarde quando essa gente horrorosa já encheu a cara e foi dormir.
Conselho de amiga...

Oriane

Mais violência

Ok, eu assumo, adoro Reinaldo Azevedo. Na postagem abaixo, falando sobre o crime que vitimou o pequeno João Hélio, ele está iluminado:
Vale a pena ler...

Faustino

Começo convidando quem não leu a ler o texto que postei sobre a poesia de Mário Faustino em Avesso do Avesso, com link aí do lado.
Civilização e horror
Faustino era o oposto disso tudo. Seus textos tinham séculos, milênios até, de civilização concentrada. Estamos assolados pela barbárie. Em Brasília, São Paulo, Rio, em toda parte. O assassinato do garoto João Hélio Fernandes Vieites tem, sim, explicação, embora possamos resistir bravamente a ela. A primeira, a mais básica: existem pessoas que são más, razão por que têm de ser afastadas do convívio social, sem qualquer regalia que elas próprias não concederiam a gente de bem, já que nem mesmo lhes dão o direito à vida. Nessa hora, os humanistas indagam: “Mas gente normal faz isso?” Sim, faz. Gente normal e perversa.
A segunda explicação, não em ordem de importância, é a impunidade. Os caras que mataram João, com alguma má sorte, pegam 30 anos de cadeia. Com um sexto da pena cumprida — já que os poetas do direito brasileiro são contra a categoria do crime hediondo —, podem ter direito ao regime semi-aberto. Um facínora pode arrastar uma criança de 8 anos pelas ruas, presa a um automóvel, espalhar sua massa encefálica pelo caminho e ser solto depois de cinco anos — isso se não pegar pena menor. No futuro, suponho, todo brasileiro nascerá com direito a ter pelo menos um cadáver na sua biografia. Começaremos a pensar em punição depois do segundo. Na prática, já é assim.
Lula disse mais de uma vez que esses bandidos foram crianças carentes. É mesmo? A origem social da violência é uma mentira evidenciada pela matemática. Imagine se pobreza predispusesse à violência. Estaríamos fritos. Corto a mão se, em números relativos, não for até maior o número de bandidos que têm origem na classe média. É bem possível que seja mais fácil uma família abastada fazer um monstro moral, dado a laxismo da educação moderna, do que um pobre. Mata-se, sem qualquer hesitação ou piedade, porque a lei protege os criminosos.
Acompanhei, com um pouco de asco, o noticiário das televisões. Havia certa inclinação óbvia para acusar a falta de policiamento. Não há policia que consiga coibir um acontecimento como esse, o que não quer dizer que ela seja eficiente no Rio. Mas isso está fora de qualquer parâmetro. E, atenção!, a situação não será revertido facilmente. Além da impunidade, há também a glorificação da chamada “cultura da periferia” nos programas de TV, no jornalismo, na propaganda oficial. A ordem se tornou inimiga. Os bandidos aprenderam a falar a linguagem do vitimismo. João não vai nem mesmo render um filme, financiado pela Petrobras, com incentivo da Lei Rouanet.
Fique atento, leitor amigo: sempre que, no cinema, na TV ou em qualquer lugar, algum imbecil assumir o papel de juiz, apontando para você o dedo, acusando-o de ser culpado pela miséria e pela violência do Brasil, extraindo poesia da violência dos excluídos, cuspa nesse vagabundo. Ele não merece o seu respeito. Ele é um atentado à sua segurança e à de sua família. Ele é cúmplice de assassinos. E não custa lembrar: as maiores vítimas dos bandidos ainda são os pobres.

Oriane

O óbvio pornográfico: Banânia é um prostíbulo!

Sempre dissemos, sem pudor algum, que Banânia é um prostíbulo - lupanar é mais bonitinho - mal administrado, pois os cafetões costumam dar "proteção", mal ou bem, às mulheres que exploram, o que não acontece por aqui: o nativo tupinicóide nem segurança tem, em troca das extorsões a que é submetido diariamente pelo gigolismo estatal. Pode parecer exagero, implicância "conservadora e reacionária", mas os fatos, sempre eles, acabam vindo elegantemente ao encontro de nossas palavras, não fossem eles, os fatos, a base articulatória de qualquer discurso que se proponha ser objetivo: estão aí, escancarados, os resultados da política educacional esquerdopata, estampados em todos os jornais, para escândalo de quem ainda tem um mínimo de bom-senso: a prostituição agora é oficial, tem manual de pornografia pago com o nosso suado tutu - como disse Reinaldo, a esperança de NÃO publicarem essa barbaridade estaria no desvio do dinheiro, como já fizeram no caso das cartilhas, das quais ninguém mais tem notícia. Chegamos a esse ponto, o de sermos obrigados a fazer a opção menos ruim entre roubo e prostituição...
Já vínhamos cantando essa pedra, monotonamente, desde o início deste blog, nós e o último reduto dos malucos que ainda insistem em viver "nestepaiz" desgraçado.
De quebra, como a cereja do bolo que não pode faltar, constatamos o resultado do desempenho dos alunos de segundo grau - nenhuma surpresa... - desta várzea chamada Banânia, onde, em breve, dar-se-ão prêmios (por exemplo, fornecimento de camisinhas de grátis até a andropausa!) aos melhores relatos sobre "ficadas" mirabolantes, no fundo, bem no fundo, da sala de aula, como incentivo à produção textual - no meio acadêmico, já se faz isso há tempos, hein?
Esta é a receita do bolo para a falência de uma pseudonação que, tal qual uma Inês de Castro enviesada, foi(...), sem nunca ter sido: prostíbulos em lugar de escolas e de hospitais, campos de lavagem cerebral nos corredores do Itamaraty, vias terrestres e aéreas impraticáveis, um monte de débeis mentais com a chave do erário na mão e um povinho de amargar, endossando tudo isso e pedindo bis...
Oriane, o Chile já está ficando esquisito. Vamos escolher outro lugar. Ah, London, London! Ao menos poderemos tropeçar com Edina ou Patsy na Harrod's !
Ah, ia esquecendo: chamem o Stanislaw Ponte Preta!

Imagem: Jack Lemmon, o cafetão apaixonado e superprotetor, e Shirley MacLaine, a prostituta arrependida, no ótimo filme de Billy Wilder, Irma La Douce. Só nas telas...

Marx, o Groucho - em ritmo de upgrade, de Furiosa à Possessa!

Mais um São João...


Era uma vez um menino chamado João. Deu azar de nascer no Rio de Janeiro, em época de estatutos da criança e do adolescente, época de Ongs pró-marginais e de uma CNBB cheia de padrecos de "esquerda", época de boçais no poder, época sem Percival, Galahad e Amadis de Gaula, época sem Lei e sem Deus, época maldita, época diabólica. Foi para o martírio, como um cristão primitivo no Coliseu das ruas, e já deve ter sido canonizado nas Alturas, sem a burocracia vaticana.

Rezemos por ele e para ele. Amém.

Imagem: Sir Galahad, George Frederic Watts (British, 1817-1904)

Marx, o Groucho

Thursday, February 08, 2007

Lula, o presidente que acabou com a responsabilidade fiscal...


Vale muito a pena ouvir o podcast do Arnaldo Jabor: O sucessor de Lula ainda vai pagar o pato de sua irresponsabilidade. Nele Jabor imagina o quadro que todos já intuimos: Lula, cada vez mais se achando um rei predestinado, vai acabar com a responsabilidade fiscal, gastar a rodo, mentir e dizer que vai deixar o país prontinho para crescer, e em 2010 o seu sucessor vai pegar uma país com ameaça de inflação e sem infra. Como ele não tem o menor pudor em mentir, vai maquiar resultados e manobrar o povão. Nós saberemos que ele acabou com o país. Mas a massa crítica e politizada do bolsa-família vai achar que Lula sim era um grande presidente. E em 2014 acabaremos vendo esta coisa ser reconduzida ao Planalto nos braços do povo.
Não vou mentir para vocês: tenho escrito pouco porque estou muito deprimida. Estou pensando em pedir asilo no Chile. É bom saber que pelo menos um país na América Latrina é civilizado.
Pela primeira vez em minha vida quero muito, muito mesmo, ir embora daqui...

Oriane

Diplomacia???


Celso Amorim no auge de sua classe: terno claro e gestual (conheço homens realmente elegantes que nunca nem tiveram um terno claro)

Eu havia feito um rascunho há algum tempo sobre a bisonha atuação da nossa diplomacia. Me perguntava como em quatro anos transformaram aquilo que era a nossa jóia da coroa em lixo. Nossos diplomatas eram top de linha, respeitados no mundo todo. Eis que surge Celso Amorim, baixinho, provavelmente racalcado, barbudo como um comunista que esqueceu de tomar banho. Como se tudo isso não bastasse, ou mesmo por causa disso, ele é grosseiro, vulgar. Onde já se viu usar terno claro em situações formais? Aposto que ele é daqueles que usa gravata vermelha com smoking... Para marcar posição...
Essa gente me dá arrepios.
Estão nivelando o Brasil beeeemmmm por baixo.
Mas o esquerdismo adora isso, ser popular, sem noção, sem classe...

Oriane

Sunday, February 04, 2007

De volta à furiosa tourada verbal...


Pois é. Voltamos às raízes de sempre, à expressão verbal, à Língua,
assim mesmo, com maiúscula. Vocês devem ter reparado - menos a petralhada que só olha para o próprio umbigo onde se espelha a imagem do líder das multidões, o Sr. Legião... - que existe no ar uma sinistra presença rondando nosso espírito, a opacidade. Sim, a opacidade. É ela que pinga a sudorese da imbecilidade discursiva que faz, hoje, da vida cotidiana, um inferno sem refresco. Ela não está assim, tão forte e despudorada, por acaso; mas, sem dúvida, sempre existiu desde que o homem é homem e o macaco, macaco - aliás, pela lógica mais elementar, é muito mais fácil o macaco ter sido originado pelo homem. Mas, lembremos, pensar é penoso.
Em que consiste a opacidade? Simples: ela acontece toda vez que
os bois são enclausurados no anonimato. Anonimato é invisibilidade, é não-existência, é vida incubada, suprimida, sufocada, atormentada em algum lúgubre espaço psíquico. Bolas, mas quem são os bois, esses neo-excluídos? São as coisas, a realidade, a verdade, o que "está aí". Quando os bois não são reconhecidos, chamados à luz, honrados pelos seus verdadeiros nomes, eles se rebelam como massa enfurecida, "vera turba multa". Na Grécia mitológica, sabia-se disso, da permanente ameaça das Fúrias, as mesmas entidades que, domadas pela nomeação dos deuses- afinal, nada menos que um ensaio de batismo, versão pagã -, tornaram-se as doces e benfazejas Eumênides, ou Eríneas, para os gregos, óbvias musas "inspiradoras" de Dr. Jeckill and Mr.Hide e de Hulk, o verdinho.
O mito é usado às vezes em Psicologia para exemplificar a passagem da ignorância - condição em que os nomes nada são - ao verdadeiro conhecimento, instância em que os nomes conduzem o Ser à consciência. Dito assim, parece papo do "tempo em que os bichos falavam" (programa de rádio, infantil, do Tio Janjão, na rádio Nacional, década de 50. Ai, minhas cãs!.), mas a coisa é seriíssima!
Os tempos estão opacos porque as palavras se prostituíram, perderam a seiva, a luminosidade, a vibração original. Elas estão agonizando. Haja depressão.
Na Índia, a turma já falava nisso no tempo dos Vedas: todas as palavras autênticas são necessariamente mantras porque correspondem à natureza daquilo que evocam, são seu aspecto, digamos, sonoro. Sim, o ser se chama...
Ora, o que se ouve hoje é exatamente o contrário, palavras que não dizem, palavras malditas e não benditas, palavras mortas, palavras genuinamente diabólicas, casulos ocos, os onipresentes zumbis de Sauron...
Quanto aos bois, eles não fugiram, estão aí à espera de redenção, de batismo, de conciliação verbal. A opacidade os deixa inquietos, perigosos. Dá arrepios pensar que os antigos tinham muito mais intuição disso tudo do que os "mudernos big brothers"... Jung explica.
Em tempos de proliferação da Língua de Pau e outras porcarias do gênero, teme-se, cada vez mais, um estouro de boiada, versão touro miúra. Todas as evidências estão aí. Babel já se instalou e só nos resta gritar "olé"!!! Chamem Juan Gallardo, o Tyrone Power de Sangue e Areia - ou vice-versa, bem depois de Rodolfo Valentino!

Imagem: Orestes, fugindo da zoeira das Fúrias - quadro de Bourguereau, 1862.

Marx, o Groucho, em dia de afinidade taurina...

Saturday, February 03, 2007

O mau-caratismo vence!


Eleições na câmara: ganhou o fisiologismo, o mau-caratismo, a falta de escrúpulos. Primeiro dia da nova legislatura, e já sabemos a verdade: nada mudou, não há ali quem esteja preocupado com o país. O raciocínio dessa gente é na base do "a farinha é pouca meu angu primeiro". Agora, com Chinaglia podemos ter certeza: roubo aberto, fisiologismo explícito, anistia para Dirceu e terceiro mandato para o molusco retardado.
Só tenho uma coisa a dizer: vou mandar fazer meu passaporte e me preparar para pedir asilo em outro país. A ditadura bate em nossa porta, só não vê quem não quer...
Talvez eu consiga abrigo no Chile, ou em qualquer outro lugar minimamente civilizado...
Continuo com a minha depressão de início do ano...

Oriane

Friday, February 02, 2007

Atalhos: hospício ou bar da esquina?


Quando se fala muito em diálogo e, ao mesmo tempo, em verdade relativa, está-se oferecendo ao observador um caso concreto de "contradição em termos". Não pode haver diálogo - processo lingüístico que pressupõe uma relação intersubjetiva baseada em um código necessariamente dominado por ambas as partes - quando duas pessoas são incapazes de atingir a objetividade de um "denominador comum" - inimigo explícito do relativivismo que impregna os cérebros ignaros. O que ocorre nessa pseudocomunicação é o divertido encontro de monólogos narcisistas, fartamente encontráveis, também, em hospícios ou em seletos espaços acadêmicos.
Há, entretanto, um detalhe interessantíssimo nessa situação perturbadora: os monólogos dessas pessoas, por força da massificação discursiva vigente, têm apresentado um texto praticamente igual, o que dá a sensação de um pacto coletivo ao redor das mesmas idéias, uma espécie de consenso prá-datado absoluto, que conduz fatalmente à completa estagnação verbal: todos dizem as mesmas coisas, como se as palavras de uns e outros fossem meros espelhos recíprocos, ratificando, ad infinitum, um texto que não vai à parte alguma. Trata-se de uma ode à redundância, uma glorificação à mesmice hipnótica. O incrível é que essa turma que se diz progressista, libertária e socialmente engajada costuma defender fanaticamente o respeito às... diferenças. Logo eles, que chutam, todo dia, a existência da alteridade...
Idêntico fenômeno acontece quando ocorrem, por exemplo, "debates" nos meios de comunicação. Não há debate algum porque o problema é o mesmo: o que é oferecido ao anestesiado público é um pouco mais - sempre! - do mesmo. Não existe contraditório, não existe argumento e contra-argumento, não existe nenhum tipo de tensão psíquica capaz de franzir o sobrolho do espectador, nada que arranhe suas plácidas convicções, seu "velho saber", seu sólido quadro de referências inúteis, adquirido mediante um longo processo de lavagem cerebral em que o fator "lei da gravidade" exerceu um inestimável papel: haja preguiça mental!
Em suma: aquilo que atualmente é entendido como comunicação não passa de uma síndrome com duas vertentes: a primeira é um atalho para o hospício - o reino do solipcismo completo -, a segunda é a indicação clara de uma imbecilização generalizada, pasteurização mental estratégica que não passa de um fator sine qua para a tomada do poder por alguns psicóticos que não estão internados, bem ao gosto de Machadinho de Assis, em seu conto O Alienista .
Como se vê, tudo cheira à loucura. Resta-nos optar, apenas, pela versão mais atraente. Talvez o discurso desconexo de vários malucos (vejam e revejam Le roi de coeur, de Philippe de Broca, um filme genial sobre loucura e sanidade, com o já falecido Alan Bates) seja mais original e profundo do que o papo de gente tomando chope no bar da esquina, proclamando os mesmos indigentes clichês de sempre, girando em círculos sobre o próprio umbigo inconsciente. É por isso que o silêncio - de que já fizemos aqui uma apologia radical - é tão incômodo para essa gente: ele estilhaça o espelho.
Imagem: Narciso, de John Waterhouse, 1849-1917.

Marx, o Groucho
Manson, assassino de celebridades, ele mesmo uma celebridade. Manson sempre foi o campeão de cartas na cadeia. Manson tem uma legião de fãs!


Tenho pensado muito na correlação entre o culto das celebridades e a violência.
O confronto constante com uma realidade tão diferente e que acaba por servir de modelo não favorece uma cultura de inveja e despeito? Já pensava há muito na questão de como as novelas, com aquele padrão bizarro de riqueza e beleza, deveria ser algo de acintoso para um povo tão pobre.
O culto das celebridades, não obstante, é algo mundial.
Interessante a sociedade, acaba por se auto-destruir onde menos se espera. Ao cultuar seus padrões impossíveis acaba por gerar uma massa de desesperados e desesperançados cuja frustração é imensa e perigosa.
Lembram-se? Antigamente as celebridades eram protegidas até pelos criminosos. Eram intocáveis.
Atualmente o ressentimento é tão forte que nos assaltos à celebridades já percebemos um prenúncio de um ódio quase cruel. A beleza e a fama despertam a inveja que acaba por se transformar em crueldade.
Trata-se de um sinal: padrões de uma minoria alardeados para uma maioria muito frustrada. Desses milhões que lêem tabloides, quantos não sentem inveja? Quantos não são perigosos?
Marc Chapmam, Charlie Manson, invejosos e psicopatas famosos. A celebridade favorece este tipo de coisa.
Minha amiga historiadora da arte fala de um outro historiador que nossa sociedade atual escolhe muito mal suas celebridades. Se no Renascimento a celebridade era Michelangelo, em nosso tempo é Luciana Gimenez (tá certo, peguei pesado até para o padrão "celebridades").essas imagens de algo impossível são, além de tudo, em geral vazias e pouco inspiradoras.

Oriane