Sunday, September 23, 2007

Só nos restou isto: insanos x sadios...


Decididamente não classificamos as pessoas em categorias como "bom e mau", "honesto e desonesto", "inteligente e burraldo". É simplista demais, é bobo. A realidade é bem mais complexa do que a nossa capacidade de rotulá-la. Entretanto, do jeito que as coisas andam, é impossivel escapar do óbvio: os seres humanos se dividem, cada vez mais, infelizmente, em normais e anormais. Trata-se de uma visão igualmente simplista, mas a realidade tem-se mostrado tão grosseiramente contaminada pelos discursos do delírio que é praticamente impossível deixar-se de lado esse tipo de classificação tosca.
Trocando em miúdos, o que nos cerca está-se curvando à loucura coletiva - lembram do conceito bíblico de "legião"? - e as hostes de Sauron se multiplicam com tamanha velocidade que o único modo de lidar verbalmente com o fenômeno é por aí mesmo, pela via da sizígia explícita: gente sadia versus gente insana. O que seria uma rotulação genérica tornou-se uma descrição precisa em face aos eventos atuais.
Do ponto de vista de uma análise mais acurada, o comportamento dito "inconveniente" nasce na desistência do esforço individual pela aquisição de uma autoconsciência, ou seja, o conhecimento do "eu" autêntico é meio caminho andado para a reta conduta. Isso é socrático, isso é cristão. A outra metade do caminho é o imponderável que salta de algum canto obscuro da psique, bagunçando todas as conquistas da mesmíssima consciência. Trata-se do fator fiz porque quis, e daí?, moderna versão do sofisticado pensamento paulino que, agoniado e perplexo em suas epístolas, resmungava com seus botões ao perceber sua fraqueza pelas coisas moralmente erradas, embora sabendo perfeitamente o que seria correto fazer - esse desvio é também apelidado de "espírito de porco"...
Em suma, atos morais têm a ver com uma série de fatores que acabam desaguando na educação da alma humana. Ora, se a educação é um lixo, o risco de a pobre alma se enrolar toda é enorme. O resultado é que, quando ela se enrola, o hospício é logo ali. O mapa da realidade é o discurso. Se o discurso funciona como um mapa falso ou mal concebido, o viajante dá fatalmente com os burros n'água. A educação em Banânia, por todos os fatores fartamente debatidos neste blog, é um daqueles engodos de filme de terror, uma sinalização que algum bandido alterou, no meio do deserto, a fim de desviar as pessoas para um poço seco. A estratégia leva os sedentos à completa confusão mental e a tudo aquilo que os converte em escravos, justamente, daqueles que os desviaram da rota. O resto da estória é trágica, já o conhecemos.
Por aqui, a civilização já nos deu adeus há muito tempo. Todos os sintomas estão disponíveis e surge sempre mais um, escandaloso, a cada semana que passa, monotonamente. É um filme que se repete à exaustão, como um pesadelo do qual ninguém consegue acordar.
A denúncia de Ali Kamel sobre o dantesco livro que o MEC, entre outras numerosas aberrações, vem indicando e distribuindo por aí, já havia sido feita por Olavo de Carvalho há vários anos. O lixo editorial didático que se espalhou por Banânia é resultado de uma tática de guerrilha cultural que não encontra obstáculo em parte alguma, exceto em minúsculos bolsões de resistência porque ainda existem alguns seres normais "nestepaiz". O resto é uma inútil paisagem. Parece que a guerra das palavras já está perdida.
Não vai custar muito, e qualquer pessoa que use óculos será escorraçada nas ruas porque essa prática esquisita pode significar que ela dedica demasiado tempo à leitura, o que é perigoso para a estabilidade do governo totalitário - leiam a recente história no Cambodja de Pol-Pot...

Imagem: o saudoso Rubens Corrêa, interpretando Artaud, um gênio nada louco que piraria em Banânia...
Marx, o Groucho

1 comment:

Ricardo Rayol said...

Muito legal muito maneiro, mas existe algo que se possa fazer contra essa bizarrice?