Friday, May 30, 2008

Temporada de caça aos embriões: Prometeu se deu bem...


É isso mesmo: está aberta a temporada de caça aos embriões. Num país como Banânia em que a lei é impecável, a polícia, íntegra e ágil, os promotores públicos, diligentes e atentos, os juízes, rigorosamente exemplares, só falta mesmo um apetitoso tráfico de embriões fazendo a festa daqueles seres gentis que sempre estão à espreita de mais uma oportunidade de ouro para auferir altos lucros às custas da burrice alheia. Uma burrice arquetípica, visceral, horrendamente incontornável, a marca de Caim, registrada há séculos, das pessoas que não conseguem ver e compreender dois palmos de história para trás de seus egos nem para a frente de seus umbigos obtusos.
Nada melhor para alavancar a liberação do aborto do que a decisão tomada ontem pelo Supremo Bestialógico, um grupo de togados dignos deste país, dignos deste pseudopresidente, dignos dessa massa debilóide que consegue a proeza de fazer do voto uma arma de suicídio coletivo, a senha para a porta de todos os abismos possíveis.
Não reclamem, não ousem remungar amanhã, quando houver a constatação de que comprar embriões fresquinhos e charmosos para as delirantes e discutíveis - repetimos, discutíveis - pesquisas com células-tronco embrionárias for um negócio mais lucrativo do que o tráfico de drogas na América Latrina.
Há uma massa enorme de gente sofredora, cheia de justa esperança, querendo isso, desejando isso, sendo iludida diariamente por isso, pela promessa de uma cura, um alívio, uma vida melhor. Eles têm todo direito de desejar que a ciência lhes acene alegremente com notícias sobre o êxito das pesquisas que serão feitas pelos novos doutores Mengele de plantão. Sim, eles têm todo o direito, sem dúvida, mas raciocinemos: será que há alguma relação entre a conquista de um mundo melhor, sempre cuidadosamente arquitetada sobre uma pilha astronômica de cadáveres, e a conquista de uma vida pessoal melhor, mais uma vez construída sobre uma outra pilha de seres com vocação para Inês de Castro, aquela célebre portuguesinha que foi rainha "sem nunca ter sido"? Entenderam? A manobra mental é a mesma: para alcançar a perfeição - privilégio da esfera divina, não é mesmo, Prometeu?... -, seja ela científica, física, social ou estética, é preciso relativizar tudo num ataque de pragmatismo delirante em que realmente qualquer meio é válido contanto que se atinja o almejado fim. No caso dos embriões, infelizmente, o fim que será atingido será exatamente o fim da picada, pois a política do lençol curto estará em voga novamente por estas plagas bananosas, uma vez que vidas serão ceifadas em nome de um progresso científico que, é claro(???), propiciará uma melhor qualidade de vida para milhões de desvalidos da sorte. Palmas para eles, os iluminados.
Que queimem no fundo do inferno de suas consciências os magistrados que não entenderam o mito de Prometeu - e que o abutre olímpico não lhes poupe um milímetro de seus preciosos fígados, sem direito à reposição celular...
Ao mais, como Banânia está cada vez mais parecida com um vaso sanitário, só nos resta desejar que o último a sair não se esqueça de dar a descarga.
Imagem: frontispício da edição de Frankenstein, de Mary Shelley, 1831: Um Prometeu moderno.

Marx, o Groucho, furibundo, experimentando uma fantasia de Frankenstein.

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