Nada mais óbvio, escandaloso, auto-evidente do que a mais recente declaração do Keiser sobre a atual política brasileira de não-interferência em assuntos dos "outros países", em especial quando esses "outros países" são seus aliados por afinidade ideológica. Esse é mais um caso exemplar, para quem gosta de fazer "análise de discurso", prática tão benquista nos bancos acadêmicos, de formalismo verbal como tropa de choque de manipulação semântica. Trocando em miúdos, frases deslocadas de seus contextos originais, desprovidas, portanto, de conexão com a realidade, servem de sofismas vagabundos, vendendo gato por lebre a fim de confundir os depauperados cérebros de milhões de analfabetos funcionais, que obviamente não sabem a diferença entre uma carcaça sem vida e um corpo repleto de sentido. Sem dúvida, é melhor, por questão de saúde mental, ficar vendo os anúncios das "Óticas do povo, morô???"
O sujeito é tão cretino que não lhe passa pela cabeça que, mesmo que resolvesse fazer "média" com os que pedem sua preciosa "intervenção" em prol de quaisquer desses infelizes submetidos à sanha totalitária, sua fala não seria ouvida nem aqui nem no Irã, pois ninguém de sua própria laia dá a mínima atenção ao seu palavrório de pseudo-estadista, exceto quando lhes é conveniente usá-lo para fins de xadrez internacional.
Tanto faz como tanto fez, não é prezado Keiser? No entanto, o senhor faz questão de manter o pomposo discurso de que apóia debilóides cubanos, venezuelanos et caterva quando o assunto é aprisionar, torturar, mutilar e apedrejar, coisinhas básicas em qualquer ditadura que se preze, sob o pretexto de que não se deve meter o bedelho na gestão interna de governo nenhum, posto que eles têm lá suas leis e ordenamentos jurídicos, mui respeitáveis e acima de qualquer crítica externa. Por isso, por causa dessa profunda convicção paulina, o senhor vem a público vomitar a ladainha de sempre, dessa vez por conta da sentença de lapidação de mais uma mulher muçulmana na terrinha sacrossanta do cupincha Ahmadinejad:
"Tem que ter cuidado, as pessoas têm leis, têm regras. Se começassem a desobedecer as leis deles para atender os pedidos dos presidentes, daqui a pouco haverá uma avacalhação." (Lula, o sábio…)
Em vista desse vício de pensar, pura calhordice, é importante lembrar que, no caso recente da polêmica sobre a extradição daquele terrorista sentenciado na Itália, Cesare Battisti, a diplomacia tupiniquim desandou a dar palpite nas decisões do judiciário italiano, a começar pelas indignadas declarações do nosso fabuloso causídico Tarsinho Genro, simplesmente porque o bandido reza na cartilha dos nossos maravilhosos governantes - aí, sim, a tal da ingerência "pode"...
O mais NOJENTO é esse estado de loucura e empulhação ser tão cristalino, tão espantoso e ninguém dizer nada - excetuando-se os de sempre, os cada vez mais raros membros da diminuta Sociedade do Anel... -, ninguém sair às ruas em protesto contra tanto descalabro, tanta ambigüidade cínica, tanta onipotência descarada, um festival de afrontas à mais rudimentar inteligência. Depois desse panorama horrendo, se alguém declara que Banânia é uma cloaca, um puteiro, milhares de hienas patriotas riem, riem, riem...
Não, não se deve temer a avacalhação, caro Keiser, ela já está aí, a pleno vapor, destruindo tudo a seu redor, como um buraco negro.
Imagem: lindo e tenebroso, não?
Marx, o Groucho, procurando um telescópio...