Saturday, June 05, 2010
Só Sherlock Holmes salva - uma ode aos achados e perdidos...
Afinal, cá estamos, parafraseando Reinaldão: o que será a "língua portuguesa achada nas ruas"? Ora, trata-se da prima-irmã de todos "os achados nas ruas" que pululam por aí, um fenômeno extraordinário cuja causa é uma só, o altíssimo, acachapante, alarmante índice de inconsciência coletiva em Banânia, segundo o simpaticíssimo C.G.Jung, outro dos nossos patronos itinerantes.
Vamos escarafunchar o conceito pelo método dedutivo de Sherlock Holmes: de onde vêm todos esses movimentos de uma nota só, qual é a premissa que subjaz essa idéia de que a massa, também conhecida como "populacho", mediante infindáveis assembléias, convescotes, videoconferências, seminários em praça pública, palanques de sindicatos e outros lugares de igual efervescência populacional, tem o democrático poder de ditar regras, leis e, sobretudo, a gramática da pátria-mãe, ao seu bel-prazer, devidamente monitorado por meia dúzia de líderes naturalmente iluminados pelos bons propósitos ideológicos? Adivinharam! Todo poder emana do povo! Só que há um pequeno detalhe crucial, o povo, tadinho, engloba todos os homens numa dada sociedade: ladrões, assassinos, mercenários, heróis, trabalhadores dedicados, canalhas, imbecis, sofistas, algumas pessoas inteligentes, milhões de asnos e de espertos, psicopatas, indivíduos sábios, não necessariamente nessa ordem. Portanto, quando se diz que o poder emana do povo, nada está-se dizendo de concreto, é discurso ao vento, palavras ocas.
Uma das maiores falácias da paróquia "muderna" é criar a dicotomia entre povo e privilegiados, a famosa elite do nosso desvairado Keiser, como se toda a complexa esfera social pudesse se reduzir à indigência dessas duas categorias - ou classes, como querem os herdeiros daquele barbudo precursor de um dos maiores equívocos intelectuais do século XIX, o meu homônimo com furúnculos.
Para início e fim de conversa, "elite", em qualquer dicionário que ainda não esteja infiltrado de "novilinguistas", significa o melhor entre os melhores, a nata da nata, como diria a turma do Asterix. O que seria, então, a elite de uma sociedade? Não é preciso recorrer aos filósofos gregos para responder: os mais preparados, os mais moralmente intactos, os mais dotados de clarividência a respeito dos assuntos realmente significativos para a vida do grupo social e dos rumos a tomar a partir dessa consciência.
A contrapartida desse conceito é escória, que existe rotineiramente em qualquer conglomerado de seres humanos. O que vemos há muito tempo em Banânia, entretanto, é escória, não elite, e com as rédeas na mão - pior, com a chave do cofre... Mas... ora, ora, que coisa interessante: num golpe de retórica tipicamente dialético, podemos afirmar que o que temos por aqui é a elite da escória, pois não?
É fácil, sob essa ótica, entender o que está por detrás dos panos falaciosos das pessoas que tentam esconder a nata da escória sob o argumento-chavão de que eles todos são iguais, interessante uso daquela rançosa e onipresente embromação sobre "igualdade", que caracteriza o discurso hipnótico dos populistas locais, especialmente em ano eleitoral. Não, não são iguais, coisíssima nenhuma! Eles, na verdade, são "mais iguais do que os outros", como diria George, o rei da floresta, digo, granja!, dos "bichos revolucionários". São a nata da nata da calhordice, os pós-graduados em canalhice, os supremos cara-de-pau, os cínicos que Cícero denunciaria ao senado romano sob chuvas de oratória convincente, talvez as "petelinárias" - bem, isso não adiantaria muito por aqui, pois o cara falava latim e a platéia de hoje mal fala o tal do "português achado nas ruas". Elementar.
A tentativa de colocar todas as pessoas num mesmo patamar - digamos assim, de maus hábitos comportamentais - não passa de uma manobra verbal tosca, que atira no mesmo saco elementos que estariam em relação lógica de exclusão ou de intersecção, trocando-as convenientemente por outra, de identidade. Traduzindo diretamente para o bê-a-bá da "lógica achada nas ruas", é o mesmo que jogar a água para fora da bacia com a criança junto, primorosa analogia para mentes confusas. Trata-se de um caso escandaloso de pé-na-bunda nas diferenças, uma ode à geléia geral! Que conveniente, não é mesmo, meu caro Watson?...
Trocando em miúdos: a origem das espécies em Banânia, contrariando aquela churumela de Darwin, produziu uma nova espécie, a elite-da-escória, constituída por gente que se esconde por detrás dos mais fracos, "dusoprimido", eliminando, aos poucos, qualquer chance de sobrevivência de algo um pouquinho melhor. O sintoma mais claro dessa involução apoteótica é o estupro da língua, espelho perfeito da vagabundagem intelecto-moral que assola estas plagas.
Ó, santa ironia! Ninguém desmente melhor a teoria de Darwin do que o povo de Banânia, um apavorante caso de decadência sem apogeu, em processo aceleradíssimo. Em breve, todos perderão o polegar opositor, sem maiores alusões a mindinhos, que, metaforicamente, já perderam há tempos, distraidamente...
PS: aliás, vocês sabiam que "candidato" tem a ver com "cândida", que tem a ver com inocência, pureza, alvura? Eis aí mais um significado, dessa vez perdido, nas ruas.
Imagem1: Sherlock Holmes, chiquerésimo, procurando a lógica em Banânia.
Imagem2: Circe, a feticeira candidatíssima, batendo papo com os futuros cidadãos bananenses.
Marx, o Groucho, procurando o passaporte vencido
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