Ótimo o post abaixo, publicado no Indivíduo, de autoria do Pedro Sette Câmara. Trata-se de ar fresco em ambiente viciado pelos jargões, clichês e falácias maltrapilhas da esquerdopatia imbecilizante. Se dependesse dessa turma, ainda estaríamos acendendo o fogo com pauzinhos e inventando a roda todo dia de manhã. A única coisa em que eles são maravilhosos - e especialmente criativos - é o momento em que irrigam as próprias veias financeiras com recursos do tesouro público. Nisso eles são imbatíveis.
Definitivamente, a ditadura pretendida pelos amantes de um "mundo melhor" será sempre um estado de ignorância aterradora, por conta da qual um grupo de espertalhões travestidos de salvadores do planeta estará se locupletando permanentemente à custa de milhões de beócios idiotizados até a medula - diga-se de passagem, devido à própria preguiça mental -, imersos numa situação particularmente propícia ao controle mental das massas.
Eis o texto do Pedro:
Contra a tirania do gosto
É possível, a qualquer momento, ler um texto fresquinho de alguém que reclama da tirania do consumismo e do mercado sobre o gosto. Aparentemente somos todos obrigados a ouvir as músicas da Madonna e a assistir ao Big Brother, quando deveríamos estar ouvindo Bach e vendo o canal educativo. Lembro até de uma entrevista de alguém, talvez o Lobão, que dizia que os discos (foi na época em que os LPs ainda eram comercializados...) da Madonna deveriam pagar ICMS, o imposto sobre a circulação de mercadorias, em vez de valer-se da isenção dada a produtos culturais.
Ainda assim, não vejo como não observar: terá havido alguma época em toda a história na qual é possível viver num mundo de referências culturais absolutamente próprias? Em todas as épocas houve uma certa - ênfase em "uma certa" - tirania do gosto. Se você vivesse na Inglaterra elizabetana, provavelmente ouviria muito John Dowland, e a alternativa eram canções um tanto folclóricas. Em termos de literatura, havia Spenser, talvez edições de Chaucer, alguns clássicos greco-latinos. Se adiantarmos o calendário em uns 150 anos, veremos Rousseau como autor de best-sellers vendidos em toda a Europa e um leque de opções um tanto mais ampliado - mas nada que se compare ao que oferece uma única loja da Livraria Cultura, isso para não falar no cosmos paralelo representado pela Amazon.com.
Por isso é que fico impressionado: com o aumento do mercado, da atividade capitalista, da aceleração das trocas, isto é, das compras e vendas, ficou infinitamente mais fácil escapar da "tirania do gosto" da sua própria época.
Sentado em meu apartamento no Rio de Janeiro, sem levantar da minha cadeira, ponho os fones de ouvido ligados ao meu computador, que me oferece minhas interpretações favoritas de Wagner e Schubert, de canções medievais e renascentistas (adoro o grupo La Reverdie), de canções brasileiras, americanas e francesas. Posso em um segundo passar de "O tu qui servas", a mais antiga canção (com letra em latim) conhecida da cidade italiana de Modena ao álbum mais recente de Bruce Springsteen. Quando alguém fala que o rádio só toca o artista X, não tenho como não pensar: "mas você pode desligar o rádio e ouvir o que quiser".
Há 100 anos eu estaria integralmente submetido à programação das salas de concertos. Hoje eu posso passar o dia inteiro no YouTube vendo vídeos de Celibidache, meu maestro favorito. Eu seria idiota de não admitir que são experiências muito diferentes, mas seria igualmente estúpido de não admitir que há 100 anos eu poderia simplesmente nunca ouvir falar daquele que viria a ser o regente de minha preferência, ou ainda ouvir falar e precisar de ser rico o bastante para poder ir à Europa vê-lo e ainda correr o risco de não gostar.
Em suma, se você é curioso ou simplesmente deseja formar o seu gosto de modo particular, distante do gosto comum, nunca houve tantas opções. As modas sempre existiram e sempre existirão, mas você pode escapar delas com facilidade quase absoluta. Você pode gostar de filmes japoneses dos anos 1950, de poesia italiana do século XIX, de comida coreana contemporânea (apimentada e deliciosa), de estudar as divergências sobre a questão da eternidade do mundo na filosofia européia continental medieval. Você pode até consumir vorazmente poesia brasileira contemporânea, vendida à razão de 500 exemplares por título.
Por isso é que penso que, quando alguém reclama contra a tirania do gosto comum, tenho a impressão de que essa pessoa gostaria de ver o seu gosto pessoal replicado pelas massas. Afinal, nada impede ninguém de ter as suas referências pessoais, de viver em busca da imitação dos mestres do passado e do presente ou de arriscar uma síntese absolutamente original (com ou sem o risco da ingenuidade). E isto não se deve a uma suposta tirania do marketing e do capitalismo, mas à libertação do gosto que é proporcionada pelo próprio capitalismo. É muito melhor deixar o meu tributo voluntário e agradecido às caixas da Livraria Cultura e da Amazon.com, que apresentam opções, do que pagar por algo que parece uma opção mas é na verdade uma falta de opção.
1 comment:
E na tal inclusão social aqueels que supostamente seriam beneficiados preferem navegar pelo orkut e bater papo pelo msn ao invés de adquirir cultura, boçais.
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