Mui lúcido o artigo a seguir, de César Benjamim, que entende do riscado petralha por ter militado nessa banda por longo tempo. O texto desconstrói o medíocre joguinho semântico do Keiser, que se especializou em brincar com as letrinhas em vez de estudá-las, trocando os nomes de
bois antigos, sempre de autoria alheia, para dar a impressão de que são
bois novos em folha - como fez com o bolsa-esmola e outros projetos do gênero - pois lhe falta competência, tanto quanto lhe sobram de preguiça e esperteza, para engendrar algo de realmente edificante em termos de administração pública.
Enquanto isso, o país despenca ladeira abaixo, entregue às baratas e, principalmente,
aos mosquitos...Eis o texto, com grifos nossos:
Em direção a lugar nenhumPor César Benjamin
Dias atrás, mais uma vez, o presidente Lula comparou seu PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) ao Plano de Metas, do governo Kubitschek, e ao 2º PND (Plano Nacional de Desenvolvimento), do governo Geisel. É um delírio. Esses últimos expressavam considerável esforço de pensamento sobre a economia brasileira.
Propunham-se a realizar mutações ou alterações de qualidade, separando épocas.
O PAC não é nada.
O Plano de Metas produziu um salto impressionante na infra-estrutura e nas indústrias de base, associado à passagem da industrialização a um novo patamar, com a implantação do setor automobilístico, dotado de elevada capacidade de encadeamento. Somou-se a isso a construção de Brasília, chamada "metassíntese", que refez os eixos de deslocamento no interior do país e, para o bem e para o mal, alterou todo o processo de ocupação do território nacional. O 2º PND, por sua vez, completou o ciclo de industrialização por substituição de importações, conduzindo-o até os insumos básicos e a indústria de bens de capital, expandindo atividades estratégicas, como a produção de petróleo e a transmissão de grandes blocos de eletricidade, além de, igualmente, abrir setores novos, entre os quais a indústria nuclear.
Muito se pode debater sobre acertos e erros desses planos, bem como sobre os respectivos contextos, mas não lhes faltavam ousadia e implicações de longo prazo. Para ficarmos no Plano de Metas, realizado sob fortes restrições externas, ele envolveu diretamente cerca de 25% da capacidade produtiva do país. Foram estudados os pontos de germinação e de estrangulamento, a interdependência dos setores e a demanda derivada dos investimentos, definindo-se então metas ambiciosas para cinco áreas prioritárias: energia, transportes, indústrias de base, alimentação e educação.
Os resultados impressionam até hoje. Em cinco anos, a malha de estradas pavimentadas cresceu 100%, a produção siderúrgica, 82%, a geração de eletricidade, 36%, o transporte ferroviário de cargas, 32%, e assim por diante.
Ao reiterar comparações entre essas experiências e o PAC, até mesmo com vantagem para este último, o presidente Lula mostra que
não teme o ridículo. Pois, repito, o PAC não é nada. Ou melhor, é apenas
uma catalogação de projetos preexistentes, quase sempre miúdos, concebidos isoladamente, sem visão sistêmica ou capacidade estruturante, sem perspectiva histórica, sem a vocação de produzir mutações.
Os documentos oficiais que apresentam a previsão de investimentos federais e os indicadores macroeconômicos durante a implantação do PAC mostram o tamanho da pequenez. A União deve investir 0,6% do PIB, e as estatais, 3,7%. Nem esses diminutos recursos são novos,
pois estavam previstos no Orçamento ou nos planos das empresas, especialmente a Petrobras e a Eletrobrás.
A gestão macroeconômica hostil ao crescimento se mantém: o superávit primário e os juros permanecerão altos, o câmbio ficará onde os especuladores desejam. Continuamos crescendo menos que a média do mundo, perdendo posições.
A rotina de governo tornou-se um permanente espetáculo. A tímida execução do Orçamento da União e os investimentos das estatais viraram PAC, e o PAC é Lula. Não há mais coisa pública. É um tremendo retrocesso político e cultural. O presidente não se constrange em cumprir uma agenda de vereador federal, inaugurando, freneticamente, insignificâncias e promessas.
Comporta-se como um animador de auditórios. É ágil para discursar, mas seu governo não executa: nos últimos meses, apenas 12% dos recursos anunciados foram efetivamente desembolsados.
As claques aplaudem. O povo gosta. Políticos sôfregos pegam carona.
E o Brasil não vai a lugar nenhum. Quem viver verá.
(César Benjamim, economista, é editor da Editora Contraponto)
Marx, o Groucho, com suspeita de estar com dengue!