Saturday, January 05, 2008

Síndrome de Pinocchio..


Esperamos que nossos pontualíssimos e queridos leitores tenham tido uma excelente passagem de ano. Vamos continuar por aqui, furiosamente, até quando Deus quiser ou a censura que está-se instalando em Banânia permitir...
Aí vai, para começar 2008 com um ótmo texto, uma adequadíssima análise de Ipojuca Pontes sobre o Complexo de Pinochio que assola Banânia, matéria que vem ao encontro de várias observações psicológicas que temos insistentemente feito neste blog.
Cada povo tem a neura que lhe cabe neste latifúndio psíquico...


A CRUCIFICAÇÃO DA VERDADE
por Ipojuca Pontes

"Actions lie louder than words" – Carlyle

O agente do Bureau Federal of Investigation (FBI) Joe Navarro - autor do livro "Hunting Terrorists: a look at the psychopathology of terror" (Charles O. Thomas Editor, NY, 2004), especialista no estudo da mentira - declarou em recente entrevista concedida à revista Veja que o brasileiro mente muito e mente mal. E mais: no ato de mentir, se denuncia fácil: "As pessoas no Brasil abusam dos gestos e expressões faciais para expressar seus sentimentos" – um sintoma de que nós, brasileiros, como os italianos, de resto, mentimos espetacularmente – concluo eu.

Navarro não é qualquer um. Nascido em Cuba (terra da mentira), trabalhou para o FBI durante 25 anos e se fez o mais categorizado contra-espião do mundo, rastreando pistas e ajudando a desmascarar, com vasto conhecimento da matéria, centenas de terroristas, agentes secretos, funcionários, diplomatas e mentirosos de todo escalão. (No momento, Joe Navarro também se dedica à rendosa tarefa de treinar jogadores profissionais de pôquer, de ordinário, especialistas em camuflar os próprios sentimentos).

A partir da longa experiência, o agente naturalizado americano, hoje instrutor da FBI, faz revelações pertinentes. Diz Navarro: "Quem mente mais mente melhor", visto que a construção da mentira é, para ele, "engendrada na região da mente ligada à razão – e não às emoções". Ao compreender como funciona o cérebro, o observador atento estará mais capacitado "para decifrar os gestos comportamentais". Assim, diz ele, poderemos decodificar melhor uma inverdade porque, no ato de mentir, entre outras reações, o mentiroso "morde os lábios, mexe nos cabelos, esfrega as mãos ou entrelaça os dedos".

Nos seus estudos sobre a capacidade humana de mentir, Navarro chega à conclusão de que os políticos e advogados são, de longe, os expoentes universais da arte de sonegar a verdade. Para nós, brasileiros, a revelação do agente americano não traz nenhuma novidade: sabemos todos, na carne, que os "nossos" políticos mentem até quando dizem a verdade (em geral, usada como suporte para coonestar uma meia-verdade, esconder alguma fraude ou cimentar uma mentira ainda maior).

Por exemplo: quando o ministro da Defesa Nelson Jobim (Laden), diante do cancelamento e atraso de mais de 650 vôos afirma incisivo, no Natal, que "não há caos aéreo nenhum" e que os passageiros "podem viajar tranqüilos, tomando chimarrão"; quando o ministro da Saúde José Gomes Temporão, defensor intransigente do aborto, sustenta com cara de pau que a prática (assassina) não é contra a vida; e quando o ministro da Educação Fernando Haddad, marxista low profile, manda distribuir livros didáticos em que ditadores sanguinários do porte de Mao Tse-tung e Fidel Castro aparecem como exemplos admiráveis de conduta humana; ou quando Inácio da Silva (apud dom Luiz, o bispo de Barra) garante, dedo em riste, que não há motivo para elevação da carga tributária ao tempo em que a equipe econômica planeja aumento de impostos via operações financeiras e incidência de taxação sobre o uso do cartão de crédito - simplesmente estão todos crucificando a verdade, ou mentindo adoidado, de acordo com as observações do agente Navarro.

Sim, os nossos políticos são mentirosos tradicionais, vigorosos e diligentes – mas a sociedade, que lhes dá teúda e manteúda, não fica atrás. No Brasil, por exemplo, o professor universitário finge que ensina e o aluno, por sua vez, finge que aprende. O clérigo, nas suas homilias, fala em nome de Deus, mas reza a cartilha atéia de Karl Marx. O policial pago para dar segurança e manter a lei, é, muitas vezes, o primeiro a transgredi-la. Já o marido que jura fidelidade à esposa, cobiça ou possui a mulher do próximo. No mesmo compasso, o sujeito que estende a mão para você e diz hipocritamente "muito prazer", no íntimo quer vê-lo morto e sepultado. E o artista que chora e protesta contra a fome e a pobreza (nordestina, em geral), não dá esmola, come a melhor comida e bebe a melhor bebida, tem chofer, mansão e passa temporadas em Nova York, Roma ou Paris.

A pior forma de mentira, no entanto, é a mentira utópica, produto das mentes fantasiosas que prometem aos deserdados da vida uma sociedade perfeitamente justa, igualitária e feliz, enquanto abiscoitam, no presente, aqui e agora, salários supimpas, benesses de toda ordem e honrarias as mais diversas. Nikolai Bardiaev, o escritor russo que se insurgiu contra as mentiras industrializadas por Lenin, escreveu com dose de elevado bom senso que a humanidade, cedo ou tarde, haveria de encontrar "meios de evitar as utopias e de voltar a uma sociedade não-utópica, menos ‘perfeita’ e mais livre¨. Corretíssimo. São palavras sábias de um homem que viveu durante muito tempo no olho do furacão socialista!

(E convém não esquecer que outro utópico, Adolf Hitler, com suas promessas de grandeza e felicidade, na linha do socialismo nacionalista, levou o povo alemão à ruína. Ele mesmo, em privado, gostava de afirmar que as massas são mais facilmente seduzidas por uma mentira grande do que por uma mentira pequena – no que estava coberto de razão).

No Brasil atual, conforme as evidências, a arte maior do político consiste em fazer o povo acreditar na mentira que prega, nem sempre inconsciente de que, com ela, está crucificando a verdade.

Marx, o Groucho, tomando Prosecco...

2 comments:

Ricardo Rayol said...

Um artigo interessante sobre a política venal e o fisiologismo escancarado. Ah não era, era sobre a mentira, bom é a mesma cooisa .

Marcos Pontes said...

A mentira é a verdade do político.