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A propósito de uma questão assustadora: além de estar ficando impossível conversarmos com a maioria das pessoas em Banânia, apresenta-se agora, sorrateiramente, à nossa perplexidade, uma espécie de fenômeno agregado ao panorama supradito, por si só já tão apavorante. Trata-se do questionamento, sedento por respostas lógicas, feito por intermédio de discursos
ininteligíveis. O efeito é devastador. Diante de um monte de perguntas desconexas, surge a atordoante impressão de que nós é que estamos emburrecendo além da conta - isso contamina arrasadoramente!
Um fato recente, acontecido conosco, ilustra o problema que nos envenena a sanidade mental. Em uma festa de confraternização nostálgica, encontramos velhos amigos, acompanhados de seus rebentos (ou arrebentados?, perguntaria Lacan.), bem crescidinhos e já claramente
acadêmicos, loucos para bater um suculento papo com os mais velhos, aqueles que parecem "saber das coisas".
Pois bem, uma das simpáticas criaturas nos atropelou, numa ansiedade própria de juventude deslumbrada, fazendo uma espécie de entrevista-relâmpago, repleta de perguntas saltitantes, em que predominavam assuntos filosóficos e sócio-políticos, regados com o previsível e velhaco ranço da narrativa histórica de cunho esquerdóide, naturalmente patrocinada pela típica retaguarda escolar que se caracteriza por um monte de clichês que doutrinam sem educar e confundem para dividir.
O pivô da conversa, só para "não variar", era a
violência de plantão, espécie de entidade difusa que ocupa mentes e corações
destepaíz sem que se vá à parte alguma em termos de uma conclusão lógica sobre o que se pode fazer para reduzi-la.
O discurso que nos crivava de perguntas, ávido por soluções definitivas e explicações convincentes, vinha tão sem pé nem cabeça, graças à sua constituição de colcha de retalhos sem costura racional aparente, que nos deu vontade de mandar a interlocutora para um Jardim de Infância
tradicional(???), onde talvez possa reaprender os primeiros passos da língua que hoje pensa falar:
Apaga tudo! Zera o taxímetro! Você não está dizendo coisa com coisa...
Notem bem, é papo de gente cursando
pós-graduação...
Em consideração ao clima de confraternização, reprimimos o impulso sanitário e lá restamos sob uma saraivada de "a classe média é culpada desde o golpe de 64, em que havia duas posições a tomar
(!!!) porque hoje a mídia aumenta tudo e afinal as pessoas são exatamente
o quê?, no meio social que as oprime, porque a compreensão disso tudo, tirando da questão qualquer análise via
metafísica, é o que resta, sem relativismos também, já que Aristóteles disse que somos racionais, sobretudo porque um copo pode ser uma
outra coisa que não o próprio copo, isso é fato!"
Entre uma saraivada e outra, ponderamos que tudo, afinal, sempre pode ser UMA OUTRA COISA! Uff! Nem um mestre zen, daqueles supimpas, criaria um
koan tão eficiente. Jogamos a toalha, mas não chegamos à iluminação, infelizmente...
O pior dessa experiência foi a estranha sensação de que, no fundo, poderíamos NÃO ESTAR ENTENDENDO ALGO de muito importante e inteligente e produtivo por deficiência
nossa: Alzheimer? Pane mental por fungo nos neurônios? A abdução finalmente nos pegou de jeito?
Não dá mais. Estamos vivendo num hospício. Dose tripla de
bollystolly, sweety!
Imagem: Bubble, a piradíssima secretária de Edina Monsoon, em
AbFab.
Marx, o Groucho